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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Meninas malvadas - 10 anos de uma boa maldade adolescente no cinema

Mean girls, 2003
Direção: Mark Waters. Com: Lindsay Lohan, Rachel McAdams, Amanda Seyfried e Tina Fey. 
Nota: 10

Há 10 anos a atriz e roteirista Tina Fey adaptou para o cinema o livro de Rosalind Wiseman "Queen bees and wannabes". Através destas páginas ela esmiuçou o comportamento de várias tribos adolescentes dentro de um renomado colégio americano. Esta descrição comportamental teve como base essencial a milenar rivalidade do sexo feminino, aqui representadas no "ringue" por várias espécimes de garotas que tenta se encaixar em sua tribo de modo particular. 

O filme dirigido por Mark Waters, fala das relações de um grupo de meninas, as mais populares do colégio, denominadas por todas as classes abaixo da cadeia alimentar de prestígio de As poderosas. Lideradas pela tão bela quanto falsa Regina George (Rachel McAdams), elas controlam todas  as ações setoriais que lhes dizem respeito ou não. A Abelha Rainha como  não poderia deixar de ser, é o eixo por onde se move todo o processo de aceitação por parte de todos os alunos e a quem todos, desejam obter uma "absolvição". Karen Smith (Amanda Seyfried) faz o gênero "loira-burra', com seu carisma gigantesco enquanto Gretchen Winters (Lacey Chabert), banca a todo tempo a súdita mais leal, sem se importar com o destino de sua dignidade. A panelinha de interesses se transforma num caldeirão fervilhante de vaidades com a chegada da tímida Cady Haron (Lindsay Lohan). 

A garota chega exalando um chamariz natural de "garota que veio da selva africana e foi educada em casa pelos próprios pais". Toda esta fama involuntária desperta a atenção da toda poderosa do colégio, que a convida a fazer parte de seus seleto grupo. Ou seja, mantenha os amigos perto e os inimigos mais ainda. O processo de fazer parte das poderosas é interessante para a menina África, que gradativamente toma nota de sua personalidade. A falta de contato com outras de mesma espécie deixava Cady numa espécie de zona de conforto. A garota de personalidade irretocável, a queridinha dos pais, amiga de todos sem distinção, torna-se o produto do meio em fração de tempo. Depois de desenhar uma vingança pra cima de Regina quando esta lhe mentiu a despeito de uma paquera, Cady se transforma em uma garota muito mais poderosa que Regina, tornando a nova Abelha Rainha, passando também a carregar todo o ônus desta condição. Neste momento a descoberta de sua personalidade vem ao perceber que dispõe de  armas que jamais pensou que tivesse, nem mesmo em um de seus maiores devaneios maldosos. De uma garota tímida, quase uma marciana,  sua mudança é sensível ao ponto de renegar seus únicos amigos de verdade e reduzir a poderosa Regina a uma simples abelhinha operária. 

O que torna Meninas malvadas um filme deliciosamente interessante é justamente este processo de amadurecimento pelo qual cada uma de nós tende a passar. Por meio de diferentes definições de personalidade, mesclar tipos distintos que compõe o universo das garotas, extrair o que de melhor um grupo tem a oferecer e tentar distinguir o que de pior lhe oferece. As mais populares, as excêntricas, as desportistas, as ousadas, as chamadas nerds, as descoladas ou aquelas que ainda não definiram sua opção sexual. Todas se desnudam nesta brilhante radiografia cinematográfica muito bem conduzida por um roteiro habilidoso, que não deixa passar um cena de puro apreço, uma direção segura de onde emergem cenas e diálogos imperdíveis em atuações promissoras de jovens e carismáticas estrelas. McAdams puxa a fila das atuações no mínimo convincentes. Segue Seyfried compondo o carisma singular de sua personagem, arrancando boas risadas em meio a poucas cenas exageradas, e Lohan brilha  num papel sob medida para ela, a menina malvada mais famosa de Hollywood. Bons tempos que trazem uma certa nostalgia nesta ótima oportunidade para a eterna estrela teen, aqui mais focada em sua carreira onde nem imaginava que um dia fosse se esconder por debaixo de mesas. 

Os desdobramentos do filme se completam no gesto final de Cady ao quebrar e dividir com todas a Coroa do Baile em que foi eleita a Rainha. Este gesto simboliza o amadurecimento da menina ao reconhecer as virtudes de cada garota em especial. Todas podem e devem se sentir parte da Realeza Colegial, e para isso é preciso amadurecer a custo de bastante sofrimento. É doloroso passar pela complicada fase da adolescência, se descobrir, se aceitar, definir sua personalidade e ainda tentar sair ilesa diante de todo este processo. Em tempos de bulling, um filme imperdível daquele que não se fazem mais para o público alvo, com características atemporais e que fala de verdadeira amizade. A incondicional, emergencial. Uma obra que à primeira vista pode sofrer com o mesmo preconceito declamado no filme, mas que para quem tem um pouco de sensibilidade parece tão poderosa quanto seu conceito que muita das vezes a mais poderosa das poderosas não consegue entender. 

"Lembro-me do passado, não com melancolia ou saudade, mas com a sabedoria da maturidade que me faz projetar no presente aquilo que, sendo belo, não se perdeu."
Lya Luft

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