Visitantes

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Um olhar do Paraíso (2009)


The Lovely bones. Dirigido por Peter Jackson. Com Mark Wahlberg, Saiorse Ronan, Rachel Weisz e Stanley Tucci.

Nota: 8

 

Se para cada ação há uma reação, então é comum esperarmos que para cada crime haja uma punição, certo? Mas e quando as linhas da lei de Newton não interagem com as leis humanas? O que nós, criaturas primitivamente imperfeitas podemos fazer diante desta dura realidade?
Este é o estopim preponderante de uma das mais instigantes obras do cinema. Peter Jackson usa seu talento aqui para fazer digerir com brilhantismo uma história terrível, porém necessária. A sempre talentosa Saiorse Ronan empresta sua desenvoltura a Susie Salmom, uma jovem que mal começa a conhecer os prazeres que a vida lhe oferece, como realizar o sonho de ter uma câmera fotográfica e um encontro com o garoto mais cobiçado de seu colégio, quando é jogada literalmente no buraco infernal de sua morte.

A caminho de casa, Susie é interpelada por seu vizinho aparentemente tranquilo, o cordial Sr. Harvey (Stanley Tucci) para ajuda-lo em seu mais novo projeto para as crianças do local. A garota é levada a descer num cubículo de terra no meio de um milharal sem saber o real motivo de o projeto ser dirigido às crianças. Ali seria seu fim, mas o início de sua agoniante jornada. Quando desaparece misteriosamente sem deixar vestígios, seus pais (Mark Wahlberg e Rachel Weisz) empenham todas as forças humanas e sobre-humanas atrás de seu paradeiro. Em vão.

Com o passar dos anos, Susie tende a se contentar em apenas contemplar de um lugar de seu paraíso sua família, a esta altura, já desmantelada, a seguirem frente de um jeito ou de outro enquanto seu algoz continua livre. Até que sua irmã (Rose Mclver) passa a figurar na lista do assassino. Dá-se início a uma caçada por justiça por parte de Susie, que lá de cima passa a influenciar seu pai a se vingar enquanto a irmã segue cada vez mais perto de descobrir a verdade a respeito de seu desaparecimento. Contudo, o desejo de Susie gera atos de mais violência e dor para toda a família. Então, num determinado momento, a garota tem que decidir o que é melhor para todos os envolvidos nesta cadeia de emoções.

E’ comum para todos nós sentir uma dor dilacerante na alma quando perdemos alguém que amamos de forma brutal. Junto com esta dor surgem dúvidas e questões preponderantes que só acabam com uma busca incessante por justiça. Isso faz parte da vida. Esta busca desesperada fica atenuada pelo desejo de vingança. Fazer justiça com nossas próprias mãos. Criamos nosso próprio sistema judicial que parece ter saído de um daqueles filmes de Clint Eastwood e seus inimitáveis faroestes. Lançamos mãos sobre armas legais ou não, pensando que através delas encontraremos as soluções de nossos problemas. Uma decisão que tomamos inflamados pela dor da perda e da desesperança quanto aplicação da justiça. A impulsividade na maioria das vezes nos deixa a mercê de consequências nocivas de nós mesmos.    

Estas emoções conglomeradas constroem Um olhar do paraíso. Para uns, um filme esquisito. Para outros, uma obra oportuna de reflexão. Certo é que o filme de Jackson baseado na obra homônima de Alice Sebold passa tudo, menos indiferença. E este com certeza é um trunfo poderoso para pelo menos parar e olhar. Daí acompanhar, refletir algo impressionante, bem produzido, de grandes atuações e um lindo visual como alento à tristeza do filme.

Sentir. Seja em que lugar estiver sempre lembrar de que o importante é não deixar que a razão sucumba perante nossos instintos, pois tanto as leis humanas quanto as leis de Newton costumam ser impiedosas com aqueles que confundem os conceitos da celestial justiça com o da terrena vingança. É a ação e reação agindo a favor de quem entende estas leis. E para isso nem é preciso ser um gênio da Física. Basta apenas ser um gênio do cinema e levar a público uma belíssima obra intimista que vale muito a pena ser vista para que depois se possa tirar suas próprias conclusões.


Nenhum comentário:

Postar um comentário