Thirteen killers, 2012. Dirigido por Takashi
Miike. Com Kôji Yakusho, Tsuyoshi Ihara, Takayuki Yamada, Masachika Ichimura,
Gorô Inagaki, Yûsuke Iseya, Hiroki Matsukata, Mikijiro Hira, Takumi Saitô.
Nota: 9.1
Desde que Akira Kurosawa deixou a
cinematografia mundial o cinema japonês não é o mesmo. Apesar de vez ou outra
um bom filme despontar, como o vencedor do Oscar em 2011, A Partida, aquele arcabouço artístico se
dissipou. E com isso, um dos grandes mitos da história japonesa, os samurais,
que foram consagrados em filmes como Os
Sete Samurais (1959), praticamente desapareceram do cenário mundial. Mas
com uma história bem construída na base da honra e da violência, Takashi Miike
trouxe os de volta os lendários guerreiros com tudo o que o gênero merece.
Quando um tirano irmão do Xogum,
o Lorde Naritsugu (Gorô Inagaki), espalha o terror entre os camponeses do Japão
do século 19, e assassina pessoas sem o mínimo remorso, Shinzaemon (Kôji
Yakusho) é escolhido para a missão de assassinar o lorde e evitar que uma nova
era de guerras recaia sobre o país. Ele reune mais onze destemidos guerreiros
samurais, cada qual com suas qualidades, e ainda conta com a ajuda de um bem
humorado e esperto caçador, para que sua honrosa tarefa de assassinato tenha
sucesso. Mesmo que sejam apenas treze contra duzentos.
O trabalho de Miike é hipnótico,
voraz e, ao mesmo tempo, conserva o lirismo que compõe a aura da mitologia dos
samurais. Apesar de ser uma refilmagem de 1963, perambula por estilos que
enxugou nestes 17 anos e mais de 40 filmes, e faz uma obra peculiar. Desde o
ferrenho código de conduta que os faz dar a vida em troca do sucesso de sua
missão, até o haraquiri, um ritual de auto assassínio, tudo está sem
hiperbolias ou exageros. Até mesmo a violência não incomoda, pois é o que se
espera de uma batalha de katanas afiadíssimas e mortais.
Os atos de crueldade extrema do
Lorde Naritsugu acabam por construir uma armadilha para o espectador, que em
pouco tempo passa a odiá-lo e ansiar pelo seu castigo. Com isso, cada passo
dado pelo grupo de justiceiros aumenta a tensão do inevitável confronto, que
por sinal é brilhantemente construída de forma que valorize o trabalho de grupo
dos “heróis”. As cenas de batalha são épicas e bem sincronizadas, com banho de
sangue quase ininterrupto, permeado com o suporte cômico do simpático caçador,
que mostra seu valor e no fim das contas é aceito como o décimo terceiro membro
do grupo.
Os atores estão tão afiados
quanto os próprios personagens. Kôji Yakusho tem uma atuação segura como o
líder do grupo, e tem o mérito de mostrar força para conduzi-los para a missão
kamikaze. Dentre os membros do grupo, destaque para Tsuyoshi Ihara como o
poderoso ronin Hiryama e Gorô
Inagaki, que passa veracidade quando se diverte com a presença da morte, que
caminha lado a lado com ele desde o início do longa. Simplesmente assustador.
Um grande filme, que remete aos
bons tempos do cinema japonês, um libelo de exalta a coragem, a honra e o
trabalho de equipe. A volta por cima de Takashi Miiki, tachado pela crítica
mundial de ser prolixo e de sofrer bloqueio criativo, agora deleita a todos com
um belo espetáculo repleto de tradição, que deixaria Arira Kurosawa muito
orgulhoso.
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