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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Paraísos Artificiais (2011)


Paraísos Artificiais, 2011. Dirigido por Marcos Prado. Com Natália Dill, Luca Bianchi e Lívia Bueno
 
Nota: 5.2

(Ainda) Existe cinema careta no Brasil?

Se o objetivo do diretor Marcos Prado era colidir com seu conceito de que o cinema nacional é pudico e careta, sua aspiração deu certo. A linha de Paraísos artificiais inverte totalmente este conceito ponderado pelo diretor, uma vez que calcado nos festivais animados pelas festas raves, segue uma linha liberal e nem um pouco artificial neste aspecto.

Tudo é mostrado de forma nua e crua (aliás, muito mais nua) em cada passagem do filme. Nele embarcamos através da bela imensidão paisagística de locações pelo interior do Nordeste a bordo de um ônibus de viagem onde se encontram as inseparáveis Erika (Natália Dill) e Lila (Lívia Bueno) a caminho da aventura que irá mudar pra sempre suas vidas. Durante um animadíssimo festival em Recife as garotas dão de cara com o playboy Nando (Luca Bianchi). Juntos, o trio vive intensamente todos os prazeres que o badalado festival lhes oferece. Algum tempo depois, em Amsterdam, Erika se reencontra com o passado ao avistar Nando numa boate onde trabalha como DJ. O problema é que o galã não se lembra de tê-la conhecido e, muito menos gerado um fruto deste encontro. Assim, os dois iniciam um romance mesmo com o fantasma da amiga morta por overdose no mesmo festival tempo atrás assombrando os pensamentos de Erika. Com o tórrido romance em território estrangeiro, a DJ descobre o motivo de ter sido abandonada por ele, preso como mula de tráfico e que por isso amargou anos na prisão.   

Até aí uma história normal de encontros e desencontros quando se lê, mas o problema está em se situar ao acompanhar a produção. Em pouco mais de 94 minutos o que vimos é uma vasta gama de flashbacks que evaporam o tempo e a história. Recife, Amsterdam, vão e vem e passam de forma tão rápida por nossas mentes que fica difícil processar qualquer informação. Não se sabe quem ou o que está contando. Só mesmo um inebriante mergulho pelos devaneios do cérebro depois de curtir um barato para aliviar os efeitos das drogas onipresentes do filme.

Estes exaustivos flashbacks esvaziam por demais a história, já tão calejada pela transferência de foco do personagem central. Em primeiro plano, vimos Nando, um jovem recém-saído da prisão que se martiriza pelo erro e pelo fato de ter deixado a mãe cuidando sozinha do rebelde irmão caçula (César Cardadeiro). Depois, toma todo o espaço a tristeza remoída de Erika, que se trabalhada poderia render um pouco mais tanto para o enredo quanto para sua intérprete. Esta demarcação de território pode ter uma explicação lógica e quem sabe proposital, afinal, ao que me parece a moça tem bem mais recursos artísticos para lidar com cenas que exigem tal “concentração”. Um desperdício total em uma das melhores e mais viscerais interpretações da promissora Dill quando a mesma teve que lutar contra buracos negros no roteiro, diálogos pobres e um parceiro que parecia ser o único a se sentir a vontade com tamanha mesquinhez.

Tirando algumas cenas interessantes, boas atuações, incluindo do jovem Cardadeiro, o que fica na obra nem um pouco pudica de Prado é a velha e conhecida máxima de que temos que curtir tudo, experimentar tudo e todos enquanto ainda somos jovens, ninguém é de ninguém, a gente é o que a gente sente e por aí vai... Neste aspecto é impossível afirmar que tenha sido um fracasso e sim, um êxito para o diretor, que queria provar a materialização de um conceito errôneo sobre o cinema tupiniquim ousando demasiadamente com uma linguagem libertina e deixando em segundo plano uma história que, repito um pouco mais bem trabalhada, poderia gerar algo mais real, concreto, interessante de se ver. Afoito em provar sua concepção, ele preferiu ilhar seu filme em um mar de pegação e sexo sem sentido num clamor desnecessário oriundo de seu próprio paraíso artificial.

Um comentário:

  1. Como sempre muito boa crítica. Mas acho que pegou pesado com a tentativa de Prado. Porém defendeu sua opinião, e isso basta.

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