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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Dez filmes para refletir - PARTE 2


“A última tentação de Cristo é diferente de todos os outros filmes que relatam a vida de Jesus e merece ser assistido. Nunca é demais conferir outras interpretações da mesma história.”
GRANDES FILMES

Baseado no romance de Nikos Kazantzakis, o filme de Martin Scorsese escandalizou os pilares da Igreja ao dar ênfase a uma figura mais humana de Jesus Cristo. Aqui o salvador é interpretado pelo excelente Wilham Dafoe, um carpinteiro acusado de traição pelos seus por fazer cruzes para os romanos. Quando uma série de visões aterrorizadoras lhe tomam por completo, e ele se dá conta de que é o Messias. Sua natureza humana entra em colisão com a vontade divina, pois o que ele quer é continuar fazendo o que sabe fazer e quem sabe um dia viver ao lado da encantadora prostituta Maria Madalena (Barbara Hershey, fantástica). Partindo de um ponto específico de sua história, Nikos levanta uma questão primordial para todos seguidores do Cristo quando mostra o que aconteceria se Jesus renunciasse no último instante a seu propósito de salvar a humanidade. Ao descer da Cruz por medo iminente da morte humana, O Salvador vira um mero mortal. Casa-se com Madalena (sempre ela), vira um homem de família, e depois que o Anjo reclama a vida de sua escolhida, um homem de várias famílias. “Todas elas são Maria”, lhe diz o Anjo tentando “confortá-lo” em sua dor. Na companhia deste, ele tem uma vida plena de realizações humanas em meio ao caos que se tornou o mundo. O amor incondicional, a fé inabalável, tudo descera da cruz com ele. Mais tarde, já bastante decrépito, recebe a visita de seu amigo Judas (Harvey Keitel), lhe revelando a verdadeira face de seu protetor angelical. Mais uma vez sua condição humana entra em evidência quando suplica a Deus outra oportunidade de cumprir o seu destino. A redenção final, com ele vencendo seu maior desafio, a própria morte, serve mais como um mote inspirador do que blasfêmia, como foi acusado Scorsese na época de exibição de A última tentação de Cristo. Um filme de belos cenários visuais, uma trilha sonora impecável e interpretações seguras traduzem o tom divino deste marco da careira do brilhante Scorsese.

Pense nisso: “A dualidade da natureza de Cristo, a necessidade tão humana, tão sobre-humana de atingir a Deus – tem sido um mistério profundo e insondável pra mim. Minha principal angústia e a fonte de todas minhas alegrias... a impiedosa batalha entre o espírito e a carne... e minha alma é a arena onde estes dois exércitos têm lutado”.
NIKOS KAZANTZAKIS



“A produção mostra o potencial de Costner, estreando na direção”
VÍDEO 1993

Para começar a falar de Dança com lobos começaremos pela paixão. Paixão nas mais diversas áreas, fictícias ou não. A começar pelo comandante responsável por um dos maiores êxitos da cinematografia americana. Kevin Costner, o eterno guarda-costas, aqui atua como um defensor legítimo das causas que seu avô também defendia. A cultura indígena americana tão massacrada na época da Guerra Civil serve como adorno particular para um astro e seu triunfo. Seja com uma câmera, espada ou rifle nas mãos, Kevin brilha intensamente no longo filme de belas paisagens e sequências impressionantes. Ele é John Dunbar, um bravo tenente americano que se feriu bravamente nos campos de batalha e teve como recompensa desfrutar um pouco de sua liberdade. Sua jornada intimista começa quando ele decide se isolar numa fronteira em Nebraska onde tem como companhia um teimoso lobo e seu fiel e inseparável cavalo. Ali encontra remanescentes da tribo Sioux. O encontro não é nada amistoso, como não poderia deixar de ser entre velhos “inimigos mortais”. Mas também como não poderia deixar de ser, a coragem do tenente é algo apreciável aos olhos dos nativos chamando a atenção dos chefes da tribo que o convidam para passar um tempo com eles num gesto de pura cordialidade. Assim, nasce Dança com lobos, o homem que ama os animais e que por isso tem a chance de amar os seres humanos taxados como tal. Uma das mais poderosas relações da história do cinema, fazendo com que o amor à amizade entre os povos seja a maior arma contra o ódio e o preconceito. O belíssimo roteiro já serviu de inspiração para outras obras como O último samurai e Avatar. Através deste poderoso longa, Costner reescreve a história, dando aos nativos o devido destaque de valores morais e humanistas, apontando nela os verdadeiros mocinhos e vilões. Um dança equilibrada de força e sensibilidade.

Pense nisso: “Nunca conheci um povo tão alegre, tão dedicado à família, tão dedicado uns aos outros. A única palavra que vem a minha cabeça para descrevê-los é: harmonia.”   
TRECHO DO DIÁRIO DE JOHN DUNBAR SOBRE OS SIOUX


“Um filme obrigatório
FOX TV

De posse de duas merecidas estatuetas de melhor atriz, Hillary Swank teve confiança o suficiente para se aventurar num projeto extraordinário que teve como objetivo dar voz e vez a todos os marginalizados do deficiente sistema educacional nos EUA no início dos anos 90. Além de atuar como produtora executiva da obra, Hillary brilha como a idealista professora Erin Gruwell, protagonista de Escritores da liberdade. Ao chegar ao renomado colégio Wilson, a professora chama a atenção dos colegas por tamanha motivação frente à política de integração recém-criada pelo Governo a fim de amenizar os violentos confrontos que gangues que se sucediam em Long Beach. No entanto, Erin começa a perceber que para vencer as deficiências do sistema, ela teria de agir por conta própria para tornar os jovens rebeldes da sala 203 em modelos de inspiração para outros jovens. Com inteligência e extrema sensibilidade ela conquista a todos, até mesmo os mais arredios como Eva Benites (April Lee Hernández), que seria uma espécie de líder honorária de uma gangue latina. Os ideais de Erin mudam a personalidade da jovem, que como os outros, passam a caminhar juntos por caminhos seguros. Gruwell se transforma em Senhora G, carinhosamente apelidada pelos alunos, como sinal de admiração. Até chegar a esta conclusão, o filme passa de maneira perfeita pela tela. Desde a construção convincente dos personagens pelos jovens escolhidos, o roteiro impecável, a direção segura, os diálogos oniscientes e uma trilha sonora belíssima. Tudo é feito na medida certa para que o espectador mergulhe na história verídica dos autores de O diário dos escritores da liberdade, best-seller que deu origem ao filme. Talvez Swank não quisesse ter a pretensão de criar uma obra cinematográfica inesquecível, mas mesmo não mirando neste alvo, o acertou em cheio. Completa a proeza o brilho do belo astro Patrick Dempsey, na figura do marido em segundo plano da professora e a presença oportuna da estrela Imelda Stauton, que mais uma vez brilha como a bruxa da vez, uma diretora tradicional num antagonismo perfeito da “heroína” magistrada. Inspirador, estimulante, belo, real. A liberdade escreveu de forma magnânima sua trajetória no cinema.

Pense nisso: “Nos EUA da América uma garota pode ser coroada Princesa por sua beleza e graça. Mas uma Princesa Asteca é escolhida pelo sangue para lutar por seu povo como papai e o avô lutaram contra aqueles que dizem que somos menos do que eles, que dizem que não somos iguais em beleza e bênçãos.”  
TRECHO DO DIÁRIO DE EVA DE “O DIÁRIO DOS ESCRITORES DA LIBERDADE”



Poderoso, tocante, sem palavras.”
PETE HAMMOND – HOLYWOOD.COM

O mesmo estúdio que trouxe A vida é bela agora se apoia em mais uma emocionante versão de acontecimentos inspirados no horror na Segunda Guerra. O menino do pijama listrado como já indica o título é um filme tem como pano de fundo a crescente relação de amizade entre duas crianças que sequer tem a noção de tudo que se passa por sua volta. Tudo começa quando o menino Bruno (Asa Butterfield) tende a aceitar a mudança repentina de toda sua família para outra cidade. Triste e entediado, ele percorre os limites do local até que sua curiosidade o leva a “Fazenda” – nome dado pelos pais ao campo de concentração nos arredores de sua casa. Num belo dia de verão, Bruno conhece Shmuel (Jack Scalon) um menino judeu de sua idade e logo, começa a ter com ele uma relação de amizade, mesmo separados pelos muros de arame. A pureza de espírito de ambos aniquila o ódio que deveria existir ente eles. Tudo é tratado de maneira inocente quando o assunto é o flagelo da Guerra e as questões sobre sua origem. A amizade é mantida em segredo até que a família de Bruno descobre suas verdadeiras intenções, mas já é tarde, pois sua lealdade incondicional ao novo amigo o leva a um desfecho trágico de sua vida ao lado do mesmo. O filme nos faz entender o sentido literal da passagem bíblica: “Vinde a mim as criancinhas, pois são puras de coração.” Uma visão interessante do olhar de uma criança alemã sobre a Guerra e como estas mesmas crianças serviram de base da construção do amor e do ódio no país bem como os efeitos negativos que ela proporcionou para a todas as famílias que sofreram com a violência de forma universal. Com direção de Mark Herman, baseado no best-seller de John Boyne, mostra com sensibilidade e imparcialidade que nem todas as vítimas da Guerra tinham uma estrela de David atada ao braço. Uma ótima oportunidade de resgatar dentre nós a criança interior e um deleite cinematográfico de primeira grandeza.

Pense nisso: “A infância é medida por sons, aromas e visões, antes que o tempo da razão obscura se expanda.”
JOHN BETJEMAN


“É um filme vertiginoso, em Thriller ágil e envolvente – e mesmo assim, um filme realista. Tão desalentador quanto à realidade que se propõe a relatar”
VEJA

Depois da artilharia de sucesso da primeira sequência, José Padilha retoma seu vitorioso projeto em Tropa de Elite 2. Agora sim o bicho pegou! O diretor substitui o palavrão e os tiroteios por diálogos ferinos e bem construídos a fim de mergulhar na complexidade dos bastidores do sistema de corrupção que regem o país. O filme começa 16 anos após o término do primeiro, numa sequência eletrizante de uma rebelião em Bangu 1 onde o agora Tenente Nascimento (Wagner Moura, ótimo) encabeça a operação. No entanto, seu plano vai por água abaixo quando a precipitação do bom soldado Matias (André Ramiro) destrói a estratégia numa manobra suicida. O resultado é um massacre por parte do bem equipado BOPE contra os rebeldes. Porém o que pra muitos seria a vitória dos mocinhos sobre os bandidos, se torna um festival de acusações por parte da mídia com o respaldo da militância ativa pelos direitos humanos do respeitado Professor Fraga (Irandhir Santos), que assim se torna um adversário indesejável para os caveiras e um rival intragável para o ex-capitão. Afinal, sua ex-esposa (Maria Ribeiro) é agora a senhora Fraga, e o bom sujeito é o pivô da distância entre ele e o filho adolescente, que o considera um assassino. Diante de toda pressão exercida pelos meios de comunicação, Nascimento é exonerado do cargo, mesmo que para o povo seja um herói. De paletó e gravata, ele transforma o BOPE em uma verdadeira máquina de guerra, erradicando de forma quase total, o tráfico nas favelas. Mas é justamente neste momento que o filme ganha os mais interessantes contornos. O ex-capitão linha dura agora tem que se adaptar ao sistema que emperra toda sua ação. Aos poucos, o incorruptível policial percebe que nem todos que trabalham pela lei e ordem agem pelas mesmas. Padilha em parceira com Bráulio Mantovani tece uma teia de parâmetros categóricos moldados pelo sistema: milícia - mídia – política. O inimigo dos soldados de preto está bem além de qualquer localização geográfica. Tudo é retratado de forma perfeita, que aliada a um roteiro fabuloso, coloca em evidência a fragilidade da justiça. Uma radiografia imperdível do buraco que mergulhou o país, visando uma mensagem reflexiva, e não muito otimista no final. Um dos melhores (e mais relevantes) filmes brasileiros de todos os tempos.

Pense nisso: “O Sistema entrega a mão pra salvar o braço. O Sistema se reorganiza, articula novos interesses, cria novas lideranças. Quando as condições de existência do sistema estiverem aí, ele vai existir. Agora, me responde uma coisa: quem você acha que sustenta tudo isso? É. E custa caro.”  
ROBERTO NASCIMENTO 

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