“A
última tentação de Cristo é diferente de todos os outros filmes que relatam a vida de Jesus e
merece ser assistido. Nunca é demais conferir outras interpretações da mesma
história.”
GRANDES FILMES
Baseado no romance de Nikos Kazantzakis, o filme de Martin Scorsese escandalizou os pilares
da Igreja ao dar ênfase a uma figura mais humana de Jesus Cristo. Aqui o
salvador é interpretado pelo excelente Wilham
Dafoe, um carpinteiro acusado de traição pelos seus por fazer cruzes para
os romanos. Quando uma série de visões aterrorizadoras lhe tomam por completo,
e ele se dá conta de que é o Messias. Sua natureza humana entra em colisão com a
vontade divina, pois o que ele quer é continuar fazendo o que sabe fazer e quem
sabe um dia viver ao lado da encantadora prostituta Maria Madalena (Barbara
Hershey, fantástica). Partindo de um ponto específico de sua história,
Nikos levanta uma questão primordial para todos seguidores do Cristo quando
mostra o que aconteceria se Jesus renunciasse no último instante a seu
propósito de salvar a humanidade. Ao descer da Cruz por medo iminente da morte
humana, O Salvador vira um mero mortal. Casa-se com Madalena (sempre ela), vira
um homem de família, e depois que o Anjo reclama a vida de sua escolhida, um
homem de várias famílias. “Todas elas são Maria”, lhe diz o Anjo tentando
“confortá-lo” em sua dor. Na companhia deste, ele tem uma vida plena de
realizações humanas em meio ao caos que se tornou o mundo. O amor incondicional,
a fé inabalável, tudo descera da cruz com ele. Mais tarde, já bastante decrépito, recebe a visita de seu amigo Judas (Harvey Keitel), lhe revelando a verdadeira face de seu protetor
angelical. Mais uma vez sua condição humana entra em evidência quando suplica a
Deus outra oportunidade de cumprir o seu destino. A redenção final, com ele
vencendo seu maior desafio, a própria morte, serve mais como um mote inspirador
do que blasfêmia, como foi acusado Scorsese na época de exibição de A última tentação de Cristo. Um filme de
belos cenários visuais, uma trilha sonora impecável e interpretações seguras traduzem
o tom divino deste marco da careira do brilhante Scorsese.
Pense nisso: “A dualidade da natureza de
Cristo, a necessidade tão humana, tão sobre-humana de atingir a Deus – tem sido
um mistério profundo e insondável pra mim. Minha principal angústia e a fonte
de todas minhas alegrias... a impiedosa batalha entre o espírito e a carne... e
minha alma é a arena onde estes dois exércitos têm lutado”.
NIKOS KAZANTZAKIS
“A produção mostra
o potencial de Costner, estreando na direção”
VÍDEO 1993
Para começar a
falar de Dança com lobos começaremos
pela paixão. Paixão nas mais diversas áreas, fictícias ou não. A começar pelo
comandante responsável por um dos maiores êxitos da cinematografia americana. Kevin Costner, o eterno guarda-costas,
aqui atua como um defensor legítimo das causas que seu avô também defendia. A
cultura indígena americana tão massacrada na época da Guerra Civil serve como
adorno particular para um astro e seu triunfo. Seja com uma câmera, espada ou rifle
nas mãos, Kevin brilha intensamente no longo filme de belas paisagens e
sequências impressionantes. Ele é John
Dunbar, um bravo tenente americano que se feriu bravamente nos campos de
batalha e teve como recompensa desfrutar um pouco de sua liberdade. Sua jornada
intimista começa quando ele decide se isolar numa fronteira em Nebraska onde
tem como companhia um teimoso lobo e seu fiel e inseparável cavalo. Ali encontra
remanescentes da tribo Sioux. O encontro não é nada amistoso, como não poderia deixar
de ser entre velhos “inimigos mortais”. Mas também como não poderia deixar de
ser, a coragem do tenente é algo apreciável aos olhos dos nativos chamando a
atenção dos chefes da tribo que o convidam para passar um tempo com eles num
gesto de pura cordialidade. Assim, nasce Dança
com lobos, o homem que ama os animais e que por isso tem a chance de amar os
seres humanos taxados como tal. Uma das mais poderosas relações da história do
cinema, fazendo com que o amor à amizade entre os povos seja a maior arma contra
o ódio e o preconceito. O belíssimo roteiro já serviu de inspiração para outras
obras como O último samurai e Avatar. Através deste poderoso longa,
Costner reescreve a história, dando aos nativos o devido destaque de valores
morais e humanistas, apontando nela os verdadeiros mocinhos e vilões. Um dança
equilibrada de força e sensibilidade.
Pense nisso: “Nunca
conheci um povo tão alegre, tão dedicado à família, tão dedicado uns aos
outros. A única palavra que vem a minha cabeça para descrevê-los é: harmonia.”
TRECHO DO DIÁRIO DE JOHN DUNBAR SOBRE OS SIOUX
“Um filme
obrigatório”
FOX TV
De posse de
duas merecidas estatuetas de melhor atriz, Hillary
Swank teve confiança o suficiente para se aventurar num projeto
extraordinário que teve como objetivo dar voz e vez a todos os marginalizados
do deficiente sistema educacional nos EUA no início dos anos 90. Além de atuar como
produtora executiva da obra, Hillary brilha como a idealista professora Erin Gruwell, protagonista de Escritores da liberdade. Ao chegar ao
renomado colégio Wilson, a professora chama a atenção dos colegas por tamanha
motivação frente à política de integração recém-criada pelo Governo a fim de
amenizar os violentos confrontos que gangues que se sucediam em Long Beach. No
entanto, Erin começa a perceber que para vencer as deficiências do sistema, ela
teria de agir por conta própria para tornar os jovens rebeldes da sala 203 em modelos
de inspiração para outros jovens. Com inteligência e extrema sensibilidade ela
conquista a todos, até mesmo os mais arredios como Eva Benites (April Lee
Hernández), que seria uma espécie de líder honorária de uma gangue latina.
Os ideais de Erin mudam a personalidade da jovem, que como os outros, passam a
caminhar juntos por caminhos seguros. Gruwell se transforma em Senhora G,
carinhosamente apelidada pelos alunos, como sinal de admiração. Até chegar a
esta conclusão, o filme passa de maneira perfeita pela tela. Desde a construção
convincente dos personagens pelos jovens escolhidos, o roteiro impecável, a
direção segura, os diálogos oniscientes e uma trilha sonora belíssima. Tudo é
feito na medida certa para que o espectador mergulhe na história verídica dos
autores de O diário dos escritores da
liberdade, best-seller que deu
origem ao filme. Talvez Swank não quisesse ter a pretensão de criar uma obra
cinematográfica inesquecível, mas mesmo não mirando neste alvo, o acertou em
cheio. Completa a proeza o brilho do belo astro Patrick Dempsey, na figura do marido em segundo plano da professora
e a presença oportuna da estrela Imelda
Stauton, que mais uma vez brilha como a bruxa da vez, uma diretora
tradicional num antagonismo perfeito da “heroína” magistrada. Inspirador,
estimulante, belo, real. A liberdade escreveu de forma magnânima sua trajetória
no cinema.
Pense nisso: “Nos
EUA da América uma garota pode ser coroada Princesa por sua beleza e graça. Mas
uma Princesa Asteca é escolhida pelo sangue para lutar por seu povo como papai
e o avô lutaram contra aqueles que dizem que somos menos do que eles, que dizem
que não somos iguais em beleza e bênçãos.”
TRECHO DO DIÁRIO DE EVA DE “O DIÁRIO DOS ESCRITORES
DA LIBERDADE”
“Poderoso, tocante, sem palavras.”
PETE HAMMOND – HOLYWOOD.COM
O mesmo
estúdio que trouxe A vida é bela
agora se apoia em mais uma emocionante versão de acontecimentos inspirados no
horror na Segunda Guerra. O menino do
pijama listrado como já indica o título é um filme tem como pano de fundo a
crescente relação de amizade entre duas crianças que sequer tem a noção de tudo
que se passa por sua volta. Tudo começa quando o menino Bruno (Asa Butterfield) tende a aceitar a mudança repentina de toda sua família
para outra cidade. Triste e entediado, ele percorre os limites do local até que
sua curiosidade o leva a “Fazenda” – nome dado pelos pais ao campo de
concentração nos arredores de sua casa. Num belo dia de verão, Bruno conhece Shmuel (Jack Scalon) um menino judeu de sua idade e logo, começa a ter com
ele uma relação de amizade, mesmo separados pelos muros de arame. A pureza de
espírito de ambos aniquila o ódio que deveria existir ente eles. Tudo é tratado
de maneira inocente quando o assunto é o flagelo da Guerra e as questões sobre
sua origem. A amizade é mantida em segredo até que a família de Bruno descobre
suas verdadeiras intenções, mas já é tarde, pois sua lealdade incondicional ao
novo amigo o leva a um desfecho trágico de sua vida ao lado do mesmo. O filme nos faz entender o sentido
literal da passagem bíblica: “Vinde a mim
as criancinhas, pois são puras de coração.” Uma visão interessante do olhar
de uma criança alemã sobre a Guerra e como estas mesmas crianças serviram de
base da construção do amor e do ódio no país bem como os efeitos negativos que
ela proporcionou para a todas as famílias que sofreram com a violência de forma
universal. Com direção de Mark Herman,
baseado no best-seller de John Boyne, mostra com sensibilidade e imparcialidade que nem todas as vítimas da Guerra tinham uma estrela de David atada ao braço. Uma ótima oportunidade de
resgatar dentre nós a criança interior e um deleite cinematográfico de primeira
grandeza.
Pense nisso: “A
infância é medida por sons, aromas e visões, antes que o tempo da razão obscura
se expanda.”
JOHN BETJEMAN
“É
um filme vertiginoso, em Thriller ágil e envolvente – e mesmo assim, um filme
realista. Tão desalentador quanto à realidade que se propõe a relatar”
VEJA
Depois da artilharia de sucesso da
primeira sequência, José Padilha
retoma seu vitorioso projeto em Tropa de
Elite 2. Agora sim o bicho pegou! O diretor substitui o palavrão e os tiroteios
por diálogos ferinos e bem construídos a fim de mergulhar na complexidade dos
bastidores do sistema de corrupção que regem o país. O filme começa 16 anos
após o término do primeiro, numa sequência eletrizante de uma rebelião em Bangu 1 onde o
agora Tenente Nascimento (Wagner Moura, ótimo) encabeça a
operação. No entanto, seu plano vai por água abaixo quando a precipitação do bom
soldado Matias (André Ramiro) destrói a estratégia numa manobra suicida. O
resultado é um massacre por parte do bem equipado BOPE contra os rebeldes.
Porém o que pra muitos seria a vitória dos mocinhos sobre os bandidos, se torna
um festival de acusações por parte da mídia com o respaldo da militância ativa
pelos direitos humanos do respeitado Professor
Fraga (Irandhir Santos), que assim se torna um
adversário indesejável para os caveiras e um rival intragável para o
ex-capitão. Afinal, sua ex-esposa (Maria
Ribeiro) é agora a senhora Fraga, e o bom sujeito é o pivô da
distância entre ele e o filho adolescente, que o considera um assassino. Diante
de toda pressão exercida pelos meios de comunicação, Nascimento é exonerado do
cargo, mesmo que para o povo seja um herói. De paletó e gravata, ele transforma
o BOPE em uma verdadeira máquina de guerra, erradicando de forma quase total, o
tráfico nas favelas. Mas é justamente neste momento que o filme ganha os mais
interessantes contornos. O ex-capitão linha dura agora tem que se adaptar ao
sistema que emperra toda sua ação. Aos poucos, o incorruptível policial percebe
que nem todos que trabalham pela lei e ordem agem pelas mesmas. Padilha em
parceira com Bráulio Mantovani tece
uma teia de parâmetros categóricos moldados pelo sistema: milícia -
mídia – política. O inimigo dos soldados de preto está bem além de qualquer localização
geográfica. Tudo é retratado de forma perfeita, que aliada a um roteiro
fabuloso, coloca em evidência a fragilidade da justiça. Uma radiografia
imperdível do buraco que mergulhou o país, visando uma mensagem reflexiva, e não
muito otimista no final. Um dos melhores (e mais relevantes) filmes brasileiros
de todos os tempos.
Pense nisso: “O Sistema entrega a mão pra salvar o braço.
O Sistema se reorganiza, articula novos interesses, cria novas lideranças.
Quando as condições de existência do sistema estiverem aí, ele vai existir. Agora,
me responde uma coisa: quem você acha que sustenta tudo isso? É. E custa caro.”
ROBERTO NASCIMENTO
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