
Nota: 9.0
Vez ou outra aparece desponta no
cinema um filme que marca época, não por questões técnicas que revolucionam e
mudam o seu curso como Blade Runner (82),
ou por levar um momento histórico importante que esteja em voga tal como Casablanca (42), mas sim por invadir
nossa alma sem aviso prévio e nos levar a ver a vida sob outro prisma. Eric Toledano
e Olivier Nakache nos leva ao lirismo de uma relação de amizade entre mundos
diferentes, mas unidos por convenções sócias em que o físico e o social
decretam as regras.
Quando Driss (Omar Sy), um
ex-presidiário, invade o escritório da casa de Phillipe (François Cluzet),
milionário e preso a uma cadeira de rodas devido a uma tetraplegia, à procura
de uma assinatura por ter comparecido à entrevista de emprego, consegue, além
de surpreender o anfitrião, a vaga como seu cuidador. Mesmo sob desconfiança de
empregados e familiares do milionário, os dois cultivam muito mais que uma
relação entre patrão e empregado, nasce uma linda amizade baseada não na
compaixão, e sim na honestidade, humor e muita alegria de estar vivo.
O impressionante é que o roteiro
assinado também pelos diretores é que não as convenções normais quando entra em
cena deficientes e a sua amargura frente a situação. Em momento algum o longa
se mostra melancólico, a base concreta está envolta em uma cordialidade
arrepiante, edificado pelo humor inocente e honesto de Driss. Phillipe encontra
no amigo, que ignora o fato de ele estar em uma cadeira de rodas, a pessoa
certa para se sentir um ser humano como qualquer outro.
Cada um aproveita o máximo do que
um pode oferecer ao outro. Enquanto o jovem descobre que existe traços de um
artista dentro de si, o outro é levado a acreditar que poderia voltar a viver
intensamente. Entretanto, não há as jogadas de lição de moral e nem o esquema
predefinido que liga pontos com o intuito de levar o espectador a inevitáveis
lágrimas, as ações simplesmente se desenrolam de forma surpreendente e
divertida. Mesmo os momentos mais delicados da relação dos protagonistas com
terceiros são deixadas em paralelo, embora não pueris.
A simpatia que Driss transborda e
faz com que conquiste a todos ao seu redor e acentuado pelo sorriso elástico e
verdadeiro de Omar Sy. Uma atuação tão segura quanto a de seu companheiro
Cluzet, uma das melhores interpretações do ano. Seu Phillipe é forte,
guerreiro, sabe ser o milionário culto e o homem que está reaprendendo a viver.
Parte do sucesso do longa pode ser creditado a dupla sem rodeios.
Com direção competente, os
diretores dão vida a uma obra de arte instantânea, que faz jus ao grande
sucesso mundial que conquistou. Uma história bela, inteligente, daquelas que
nos pega de surpresa e leva a auto-avaliações. Dois homens aparentemente
diferentes, porém humanamente iguais em sua busca. Felizes, inteligentes, que
não deixam que o mundo ao redor trace seu destino, verdadeiramente intocáveis.
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