O Palhaço, 2011. Dirigido por Selton Mello. Com Selton Mello, Paulo José, Fabiana Carla, Tonico Pereira, Álamo Facó, Teuda Bara, Jackson Antunes, Danton Mello e Larissa Manoela.
Nota: 9.3
É muito mais do que a premissa
indicava. O Palhaço, escrito e
dirigido por Selton Mello, é um verdadeiro espetáculo do início ao fim,
trazendo reflexões sobre a vida e a felicidade. Ao lado do veterano, mas ainda
competente, Paulo José, o ator/diretor
leva o público dos risos às lágrimas, sem grande esforço. Um painel inebriante
com grandes referências a grandes mestres do cinema como Fellini Bergman.
O filme conta a história de
Pangaré e Puro Sangue, palhaços interpretados por Benjamim (Selton Mello) e
Valdemar (Paulo José), que são a principal atração do Circo Esperança. Apesar
do grande dom de fazer o público sorrir, Benjamim não consegue encontrar a
própria felicidade, então abandona a trupe em busca do autoconhecimento.
Mello assina o roteiro ao lado de
Marcelo Vindicatto, preferindo a singeleza dos pequenos gestos aos diálogos
verborrágicos. Ainda acertaram em representar os espetáculos circenses, criando
um fio lógico para a formação da crise em que se passava o palhaço do título, além, claro, de
trazer diversão para o público. Há uma preocupação em dar o devido espaço aos
outros personagens, para que nenhum perdesse o valor familiar para fazer valer
a descoberta final de Benjamim.
Pode se dizer que Selton Mello é
o filme em toda sua composição. Percebe-se também sua busca de inspiração em
grandes mestres para tal feito. Usa muito Fellini para carregar no lirismo,
desfila cenas sonoras e bem montadas, fazendo o espectador se aproximar dos
sentimentos do personagem da forma mais alegórica possível. E alguns trechos de Bergman, para criar uma espécie
de auto retrato, através de simbologias. A procura do Palhaço pela sua
felicidade é, de certo modo, a busca do diretor por algo que tenha se perdido
em sua trajetória de vida. É como se montasse mais uma peça de um quebra cabeça
iniciado em seu debute na direção, o modesto Feliz Natal (2008).
Mas ao contrário de seu longa de
estréia, onde o personagem central tinha de enfrentar velhos fantasmas
familiares, a viagem de Benjamim e para dentro de se mesmo. O ventilador, a
identidade e o sutiã, Selton buscou representar a felicidade e o gozo do
personagem, enclausurados em simples elementos, que na verdade não passam de
fetiches desesperados e alegóricos. Através dos olhos da pequena Guilhermina, a
jovem Larrissa Manoela em ótima atuação, o diretor se insere na história para
conduzir o ato final.
Ainda sobrou tempo para Paulo
José, mesmo limitado pela fisiologia, desfilar sua classe. E, óbvio, não tem
como deixar passar as pequenas, mas belas contribuições de Moacyr Franco e
Jorge Loredo (o Zé Bonitinho), que em pouco mais de cinco minutos conseguem
deixar mais alegre a obra. Uma pequena homenagem aos grandes palhaços
brasileiros.
A única dúvida que o filme deixa
é se Selton Mello foi melhor atrás ou em frente às câmeras. Prova a cada
trabalho que tem tudo para se tornar um Sean Penn brasileiro, excepcional
atuando, competente dirigindo. Fez de um filme de produção humilde, um dos
melhores dos últimos anos por aqui. Deixando claro que para se fazer cinema em
terras tupiniquins, tem que entender bem do assunto, seja fazendo o público
sorrir ou chorar.
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