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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Touro Indomável (81)





Raging Bull, 81. Dirigido por Martin Scorcesse. Com Robert De Niro, Joe Pesci e Cathy Moriathy.
Cotação: 9.6

Muitos dizem que os melhores anos do cinema americano foram nas décadas de 40 e 50, com produções que mudaram o curso da história da sétima arte em questões de concepção, no caso de Cidadão Kane (1941), e também que revelaram a capacidade de condensar dramas e melodramas em obras de qualidade ululante como em Casablanca (1943). Seguiu-se um período de outras grandes obras que se imortalizariam na posteridade.

Entretanto, ouso discordar da afirmação. Depois de produções faraônicas, que levaria Hollywood à beira do colapso, os estúdios necessitavam de vida nova, de gente que pensasse e mudasse a concepção de entreter e faturar se se preocupar com conteúdo, que a esta altura, já se encontrava em declínio. Foi com os benditos anos 70, que uma turma de jovens com um pensamento a frente de seu tempo mudaram o panorama. Francis Ford Coppola (O Poderoso Chefão 1 e2, 72/74), Steven Spielberg (Tubarão, 75, e Contatos Imediatos de Terceiro Grau, 77), George Lucas (Star Wars,78) e Martin Scorsese (Taxi Driver,76) salvaram a pátria audiovisual hollywoodiana com filmes que divertiam, porém possuíam um discurso que afastavam suas tramas do lugar comum.

O último grande exemplar desta década de ouro, porém, veio em 1981. Touro Indomável de Scorsese marcou o auge da nova linguagem que, juntamente com seus outros três amigos, instauraram um novo formato de cinema. Todavia, foi ele e Coppola o lado da balança que mostrava o lado “mau” dessa nova era que dava o necessário choque de realidade da qual o ser humano não pode viver sem.

O filme conta a dura e verídica do boxeador Jake LaMotta (Robert De Niro), que conduzia sua vida fora dos ringues com a mesma brutalidade com que derrubava seus adversários dentro dele. A relação conturbada com o irmão/empresário Joey (Joe Pesci) e a obsessão com a esposa Vickie (Cathy Moriaty) fez de LaMotta um dualizado, que vivia em constante guerra de ego do lado humano com o animal.
Scorcesse brincou com a câmera nos pouco mais de duas horas de filme, mostrando um Jake sempre no limite da razão, buscando se entender e tentado nos fazer entender que ele na verdade era um ser humano, apesar de suas atitudes serem opostas. A genialidade do diretor não nos permite fazer nenhum pré-julgamento do personagem, já mescla seu comportamento íntimo com as sangrentas batalhas dentro dos ringues.

A brilhante edição de Thelma Schoemmaker causa a ojeriza do público, mas também os leva a uma análise menos parcial do caso. A relação paranoica com a jovem esposa leva a uma duvida, mesmo que pequena, se o lutador tinha ou não razão. Lembra o brilhantismo de Machado de Assis no seu Dom Casmurro, que todo mundo pensava que o protagonista era um deplorável ser humano, ainda assim seu relato causava dúvidas. Uma verdadeira aula de cinema.

Com uma fotografia em preto e branco de Michael Chapman, poucas vezes bem utilizadas nos tempos modernos, o longa ainda tem a atuação indomável de De Niro (premiado com o Oscar), e competentes de seus coadjuvantes. Um filme que marca não o fim de uma era, mas a transição de um período de uma combinação brilhante, que devolveu a Hollywood seu império, para a década que só obtiveram sucesso, quem utilizou o realismo perturbador de Scorsese e Coppola ou as mensagens subliminares revestidas de efeitos visuais bem empregados.

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