Albert Nobbs, 2011. Dirigido por Rodrigo Garcia. Com Glenn Close, Mia Wasikowska, Janet McTeer e James
Geene.
Nota: 7,8
Se a Mulher
Maravilha tivesse em mãos um material tão interessante quanto à história de Albert Nobbs, certamente não o teria
aproveitado melhor. A heroína de vestes patrióticas norte-americanas pode até
ser dotada de poderes especiais, mas jamais teria a sensibilidade
cinematográfica de fazer um filme no mínimo, interessante.
Neste caso,
coube a veterana Glenn Close o papel
de heroína desta trama ambientada na Irlanda do século XIX. O padrão social da
época ditava o caminho que teria de percorrer as mulheres que almejassem uma
independência financeira. Passar por
alguém do sexo oposto foi a solução encontrada pela sonhadora Albert
Nobbs. Sim, este era mesmo seu nome de batismo dado por sua mãe
adotiva. O talento do mordomo de feições humanistas foi o responsável pelo
sucesso do Hotel Morrison’s, local em que trabalhava junto a uma exigente
clientela. A educação de raízes britânicas juntamente com carisma e sensibilidade,
ajudou a alimentar seus sonhos. A cada dia de trabalho realizado com muito
esforço e jogo de cintura, afinal, sendo uma mulher, havia trabalhos de maiores
dificuldades neste sentido, preenchia sua poupança particular. No exílio de seu
quarto ela escondia as economias de toda uma vida, acreditando um dia trabalhar
pelos próprios interesses.
Tudo
transcorria para este fim, até que chega o dia em que seu mundo particular é
invadido pela figura enigmática de um inesperado colega de quarto que descobre
seu segredo. Suas aspirações estariam com os dias contados se este suposto
colega não fosse alguém como ela. Hubert Page (Janet McTeer) também se travestia de homem para poder sobreviver. E
o que é melhor. Seu plano tivera tanto êxito que sustentava um negócio próprio,
uma parceira conjugal (Bronagh Gallagher) e uma personalidade
independente. Tudo que Albert mais aspirava.
Aos poucos, a
experiência do “colega” começa a conduzir Albert a imaginar uma vida semelhante
ao lado da colega de trabalho Helen Dorse (Mia Waskowska). Uma garota doce, gentil, mas que não tinha a força
de personalidade que esperava. Helen se envolve com um rapaz de má índole,
passando aí se aproveitar do dinheiro e da boa vontade de Albert para com ela.
Como tudo que começa mal, não termina bem, a bela jovem acaba pagando um alto
preço por seu equívoco. Preço que custou mais caro ainda na conta de Albert,
que acabou se vitimando emocional e fisicamente durante todo este episódio.
O heroísmo da
personagem título bem se reflete em sua intérprete. Albert não alcançou o que
pretendia, mas suas boas ações acabam no final por aproximar as duas pessoas
que ela mais tinha apreço. Helen e Page. Para uma heroína a abdicação de um
final feliz em prol dos outros, mesmo que incidentalmente, é mais que um ato
heroico, é um gesto de amor. Seguindo esta linha, sua intérprete demonstrou
poderes especiais na construção do filme. Além de atuar, a inglesa Glenn Close
compôs a belíssima canção do filme, cantou, ajudou no roteiro e na produção. Em
suma, contribuiu e muito, na elevação da qualidade de seu Albert Nobbs, que
embora não tenha figurado na extensa lista de candidatos ao Oscar de melhor na
categoria, soube cumprir bem seu papel no quesito emoção.
A maquiagem, o
figurino, e especialmente as atuações de Close e McTeer, supriram algumas
lacunas deixadas pelo roteiro. Ambas fazem um trabalho perfeito salientando
suas indicações ao Oscar. Obra de qualidade para quem curte grandes
interpretações. McTeer deu a Page uma austeridade convincente e uma integridade
cativante, enquanto Close, a heroína de 2012, transformou seu Albert Nobbs em
algo impressionante com seus poderes extraordinários de talento e
versatilidade. Atributos que ainda falta à Mulher Maravilha e seu chicote
mágico.
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