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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

ALÉM DAS TELONAS

O CÓDIGO DA VIDA Por Flávia Cristina Silva

“Por que precisa ser humano ou divino? Talvez o humano seja divino.”
Robert Langdon

Robert Langdon (Tom Hanks) é um simbologista que tende a correr contra o tempo para solucionar misteriosos assassinatos envolvendo um grande segredo ocultado pela poderosa Igreja Católica. Com a ajuda de Sophie Neveau (Audrey Tautou) uma mulher intimamente ligada ao processo e a pistas deixadas pelo famoso artista ele cumpre sua missão neste thriller baseado na obra-prima de Dan Brow O código Da Vinci.
Thomé, um dos doze, junto aos apóstolos reunidos no tabernáculo três dias após a morte de Jesus não acreditou no relato de sua ressurreição e então pediu para ver e mais especificadamente tocar suas feridas como uma prova, um fato concreto. Assim sendo teve seu desafio atendido pela presença em pessoa do Senhor e diante de sua imagem e de
ter tocado suas feridas,o apóstolo antes descrente passou a crer.”Você acreditou porque viu.Felizes são aqueles que acreditam sem ver.” (João cap.20,29). Sob este pilar nascia a maior religião do mundo comandada por uma das mais influentes instituições do planeta.
A Igreja Católica teve início com a ressurreição de Jesus e a missão conferida por ele em pessoa aos seus mais fiéis discípulos segundo nos mostra o príncipio do Ato dos Apóstolos, um dos livros mais instigantes da Bíblia. Esta missão consistia em evangelizar todos os povos do planeta tendo como escudo o amor ao próximo e a privação dos bens materiais. Foi partindo deste princípio que Pedro - o primeiro Papa - e seus companheiros fundamentaram a pedra na rocha difundindo os ideais em comum com seu Mestre.
A Igreja que Jesus sonhou era uma comunidade de pessoas que dividiam o amor e partilhavam o pão da amizade. Tudo transcorria na mais perfeita harmonia. O que era meu
era seu ou vice-versa.Todos eram ligados pelos laços indestrutíveis atados pela crença no filho de Deus. A comunidade se espande e junto com ela surge um grande poder de influência sobre os povos. No entanto à medida que este poder vai crescendo, cresce também a necessidade de transformar esta comunidade em instituição. Como tal uma insti-tuição deve ser regida por leis, regras inflexíveis sob o conhecido pretexto de manter a ordem. Era necessário que o poder antes partilhado fosse canalizado para um seleto grupo de líderes a fim de conter a anarquia política e religiosa que imperava naqueles tempos. Um poder forte e ascendente como este não poderia ser simplesmente indexado. E assim se sucedeu por eras e eras que testemunharam este poder nas mãos de poucos “escolhidos” se fortalecerem a custo de várias batalhas. Religiosas ou não.
Ao longo de toda história da humanidade a Igreja sempre esteve presente pendendo tanto para o Bem ou quase sempre para o Mal quando agia em comum a seus intereses que nem de longe lembravam os ideais pelos quais se edificara. Seus líderes começaram a entender que apenas conceitos abstratos não seriam suficientes para sua expansão.
Se nos primórdios de sua existência estes mesmos conceitos foram “usados” com maestria para difundir seus princípios, agora serviriam como escada para um novo patamar.
A instituição assume um caráter político de grande força sustentada pelo poder da FÉ difundida por todo o mundo. Esta, alimentada pelo temor a Deus, coloca a Igreja como ponte de salvação para os pobres e oprimidos da época. Uma inevitável aliança com os grandes líderes da época faz dela um mecanismo de poder sobre as massas.
Fez-se assim a chamada Idade das Trevas onde ser o Papa era o mesmo que sentar no trono do Rei ou Imperador. Muitos pagaram por sua ousadia sendo todos condenados ao “inferno” orquestrado pelo chamado Tribunal da Santa Iquisição ou a face mais assustadora daquela que deveria pregar o amor e a misericórdia incondicionalmente. Uma a uma as congregações ou sociedades secretas contrárias ao seu domínio caíram diante de seu poder. Dos Iluminattis aos Cavaleiros Templários todos serviram a seu propósito dentro de seu tempo e espaço.Atos que hoje a nossos olhos leigos parecem injustificá-veis naquela época pareciam perfeitamente legais. As Cruzadas, que empunhavam uma bandeira com a Sagrada Cruz de Cristo à frente de suas barbaridades, a caça às bruxas, que vitimou milhares de mulheres, as grandes missões, usadas como justificativas para posse de territórios recém descobertos. Como contestar todos eles se tudo era em nome da fé e de Jesus, o Cristo. Este é um capítulo à parte dentro da nossa história.
A mistificação em torno da pessoa do Cristo fazendo dele um ser divino entre os ho-mens é a fonte do poder da Igreja na Terra. Um ser divino nascido do ventre de uma virgem da Galiléia chamada Maria e criado por José, um humilde carpinteiro. Esta seria uma forma de aliança entre Deus e os homens. O que para ela é um dogma, ou seja, algo incontestável, para nós se apresenta de uma forma contrária à medida que desvendamos fatos ocultados na história protagonizados por esta mesma instituição. A divindade de Cristo é a pedra fundamental pela qual a Igreja foi edificada e se este dogma ultrapassar os limites da contestação e perder sua credibilidade, a rocha se partiria e tudo que a ins-tituição representa seria engolido pelas areias do tempo e da história.
O Código Da Vinci, um dos maiores best sellers da história, não delineou suas páginas através de uma perseguição insensata de um herege. Ele foi alimentado por fatos concretos interpretados por um escritor comprometido com as questões da humanidade e que por acaso teve a Igreja como o centro destas questões. Ao relatar um Jesus humano ca-paz de ter descendentes, o livro não nega a divindade do fundador da religião. Pelo contrário. Através do filme de Ron Howard ele reforça a idéia de que Jesus mesmo sendo apenas humano foi capaz de se tornar um dos maiores líderes da história munido apenas do amor ao próximo pregando a Paz. Um exemplo de ser humano extraordinário capaz de guiar uma multidão de pessoas pelos caminhos do Bem e da Justiça. E o que é mais divino do que isto?
A divindade se encontra no Amor, no desejo de Paz e na Solidariedade que cada um de nós tem que ter uns para com os outros. Não é preciso que transformemos a água em vinho já que nem mesmo Gandhi ou Mandela conseguiram operar este milagre divino. Basta observar o que ambos fizeram pela humanidade para concluir que qualquer um
de nós somos capazes de operar qualquer tipo de milagre desde que estejamos enganja-dos nos ideais de Cristo e em sua incontestável fonte de inspiração.
O verdadeiro poder não se encontra num templo nas mãos de terceiros de uma falha instituição. Encontra-se dentro de cada ser humano. Um livro recheado de páginas com seus inúmeros códigos na maioria das vezes ainda indecifráveis. Entretanto para nós basta decifrarmos apenas um deixado por um Jesus seja ele humano ou divino. Nem é preciso ser um famoso simbologista ou uma descendente direta do Salvador para entender sua mensagem. O código da vida.

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