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domingo, 23 de junho de 2013

Piquenique na Montanha Misteriosa (1975)

Picnic at Hanging Rock, 1975. Dirigido por Peter Weir. Com Rachel Roberts, Margareth Nelson, Anne Lambert, Dominic Guard, Christine Schuler e Jacki Weaver.

Nota: 9,4

Quando adentraram os anos 70, o cinema australiano trouxe uma dicotomia interessante entre a arte e o entretenimento, em que, nas duas situações, o fizeram ser reconhecido no mundo inteiro. Enquanto os violentos filmes B, cheios de ação e horror, chamados Ozploitation, ganharam o público (Mad Max, 79), a classe artística explorava as paisagens australianas com histórias oníricas que deram origem ao Novo Cinema Australiano. Um de seus representantes mais arrebatador veio com Weir. Um mistério sem solução, belo, intrigante, às vezes policial, outras terror psicológico, que parece história real, mas não é.

Adaptado da obra de Joan Lindsay, que mentiu ser uma reportagem para que os ânimos dos insatisfeitos com a não solução do caso sossegassem, Piquenique na Montanha Misteriosa se passa em 1900 e conta a história de um grupo de meninas de um internato têm permissão da diretora para, no dia de São Valentim, fazer uma excursão à mística Montanha Misteriosa. Lá quatro meninas escalam o rochedo e apenas uma retorna. Uma professora também sobe, e desaparece sem deixar rastros junto com as outras três meninas. Uma grande caçada começa, mas somente um rapaz insiste em continuar procurando e, depois de dias, encontra uma delas, sem memória. O que terá acontecido?

O roteiro do longa poderia se tornar algo que causasse a mesma insatisfação para os leitores da obra de Lindsay, mas a mão do diretor, que viria ser reconhecido mundialmente, fez a diferença. Um mosaico de ações e emoções, com a Ms. Appleyard (Rachel Roberts) mantendo uma amargura contra a órfã Sara (Margareth Nelson), que é apaixonada pela líder das moças que sobem na montanha, Miranda (Anne Lambert). Além disso, professoras tensas e reprimidas, jovens apaixonados e um teor incrivelmente assustador. E, em meio a tudo isso, a montanha, que parece acompanhar os fatos como uma figura onipresente, responsável por todos os atos.

Esta sensação de que a montanha é um personagem, talvez o mais importante do filme, se deve a forma como Peter Weir apresenta o local das maiorias das ações. As paisagens exuberantes, junto a brisa sob as ninfetas de espartilho, o sol que brilha, e de repente, o ponto de vista da Montanha Misteriosa. Mesmo nas bem desenvolvidas situações que acontecem após o evento com as meninas, principalmente entre a diretora e a pequena Sara, ainda fica a sensação de estar sendo analisadas por algo superior. E o final, com a volta de apenas uma das jovens só aumenta o misticismo e a tragédia.


Claro, que há mais nas entrelinhas, e talvez por isso Piquenique na Montanha Misteriosa mereça ser visto mais de uma vez. A repressão sexual perceptível e na figura das professoras e de suas alunas, e o comportamento da sociedade da jovem Austrália, desconfortável e desconfiada sobre seu ainda incerto futuro. Tudo isso o torna uma obra-prima singela, aparentemente simplória, mas, absolutamente hipnótica, mesmo nos inquietos dias atuais. 

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