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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Pulp Fiction - Tempo de violência (1994)

Pulp Fiction, 1994. Dirigido por Quentin Tarantino. Com John Travolta, Samuel L. Jackson, Uma Thurmam, Bruce Willis, Vingh Rhames, Harvey Keytel, Tim Roth, Amanda Plummer, Eric Stoltz, Maria de Medeiros e Quentin Tarantino.

Nota: 10

O cinema era composto de um mesmo sistema estereotipado por anos e anos hollywoodianos, que, ainda que produzisse pérolas cinematográficas, ficava preso a um sistema virtual de regras a seguir. Obras que se desvencilhavam da lógica da indústria cultural do cinema americano era tratados como filmes alternativos e dirigidos a um público reduzido. Anos mais tarde eram tachados como cult movies, mas mesmo assim não estão à disposição de qualquer um nas locadores. Entretanto, um longa mudou o destino de sua classe. Pulp Fiction – Tempo de violência foi aclamado pelo público, sucesso de crítica e se tornou um fenômeno graças ao talento inovador de um ex-funcionário de vídeo-locadora que mudou a história da sétima arte e popularizou o cine-independente.

Quentin Tarantino é um excêntrico por natureza e sabe usar isso a seu favor. Depois de chamar a atenção de todo mundo com seu bom Cães de aluguel (1992), conseguiu o aval para fazer constituir um novo projeto. A história picotada e fora de ordem cronológica pode ter chocado o júri do festival de Cannes em uma primeira impressão, mas aos poucos mostrou sua força e lhe a merecida Palma de Ouro. A trama gira em torno de uma mesma situação, mas passeia pelo desenrolar de cada um, até voltar ao ponto de partida, que na verdade não é o fim.

Os capangas de Marsellus Wallace (Vingh Rhames), Jules (Samuel L. Jackson, fenomenal) e Vicent Vega (John Travolta, ótimo) passam por sérias dificuldades para resolver os assuntos de seu chefe quando acidentalmente mata um rapaz dentro do carro, enquanto Butch (Bruce Willis) passa a perna em Marsellus e é perseguido por ele. Vega também passa por maus bocados quando leva a esposa do chefão Mia (Uma Thurmam) para sair. No fim os cenários não se fundem, mas são pertencentes a um mesmo arcabouço, o que consegue dar um desfecho lógico para a trama.

É até difícil resumir a obra de Tarantino sem ser prolixo. A forma como desfragmentou seu roteiro sem abrir mão de um signo narrativo satisfatório é tão brilhante quanto o texto, que traz uma notável realidade às ações corriqueiras dos personagens e conserva a alma dos Pulp fictions que nomeiam o filme. O espectador se identifica de cara com palavras e atos de Jules e Cia. assim que as vê na telona. Nada de pensamentos narrados ou falas artificiais e convenientes, tudo é construídos para que tenhamos a sensação de estar assistindo à cenas de bastidores tamanha a naturalidade. Porém, nem de longe o roteiro é inocente. Referências a filmes, TV, religião, aliás, tudo que pertence a cultura pop dá o ar da graça e fazem um miscelânea divertida e ao mesmo tempo visceral e cruel.

As inovações no modo como monta seu filme provoca uma certa estranheza (talvez muito menos hoje em dia), o que aos poucos vai se dissolvendo entre uma “pancada” ou outra que o diretor oferece gradativamente. A trilha sonora, que exala a mística dos grandes westerns, deixa o clima de tensão em evidência, do mesmo modo que clássicos da música pop quebram a atmosfera e a transformam em uma comédia de humor áspero em apenas um quadro. O que ainda mantém o filme como um ícone é que o começo não é o fim, e nem mesmo este é fácil de apontar, o diretor se preocupou apenas com o cotidiano de pessoas comuns, mesmo que estas sejam bandidas.

Contando com atuações competentes de todos, principalmente o hipnótico e ambíguo Jules de Lee Jackson, e sequência inesquecíveis, como a dança de Vega e Mia, Tarantino fez um tratado cinematográfico e uma prova de amor condicional à sua arte. De variados estilos em uma mesma película, perambulou por tudo o que é bom, e ruim, dentro do cinema e ensinou que o simples pode ser absolutamente sensacional. Tudo isso sem ser estereotipado, e principalmente, sem deixar de ser pop.

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