Pulp
Fiction, 1994. Dirigido por Quentin Tarantino. Com John Travolta,
Samuel L. Jackson, Uma Thurmam, Bruce Willis, Vingh Rhames, Harvey
Keytel, Tim Roth, Amanda Plummer, Eric Stoltz, Maria de Medeiros e
Quentin Tarantino.
Nota: 10
O
cinema era composto de um mesmo sistema estereotipado por anos e anos
hollywoodianos, que, ainda que produzisse pérolas cinematográficas,
ficava preso a um sistema virtual de regras a seguir. Obras que se
desvencilhavam da lógica da indústria cultural do cinema americano
era tratados como filmes alternativos e dirigidos a um público
reduzido. Anos mais tarde eram tachados como cult movies, mas mesmo
assim não estão à disposição de qualquer um nas locadores.
Entretanto, um longa mudou o destino de sua classe. Pulp Fiction –
Tempo de violência foi aclamado pelo público, sucesso de crítica e
se tornou um fenômeno graças ao talento inovador de um
ex-funcionário de vídeo-locadora que mudou a história da sétima
arte e popularizou o cine-independente.
Quentin
Tarantino é um excêntrico por natureza e sabe usar isso a seu
favor. Depois de chamar a atenção de todo mundo com seu bom Cães
de aluguel (1992), conseguiu o aval para fazer constituir um novo
projeto. A história picotada e fora de ordem cronológica pode ter
chocado o júri do festival de Cannes em uma primeira impressão, mas
aos poucos mostrou sua força e lhe a merecida Palma de Ouro. A trama
gira em torno de uma mesma situação, mas passeia pelo desenrolar de
cada um, até voltar ao ponto de partida, que na verdade não é o
fim.
Os
capangas de Marsellus Wallace (Vingh Rhames), Jules (Samuel L.
Jackson, fenomenal) e Vicent Vega (John Travolta, ótimo) passam por
sérias dificuldades para resolver os assuntos de seu chefe quando
acidentalmente mata um rapaz dentro do carro, enquanto Butch (Bruce
Willis) passa a perna em Marsellus e é perseguido por ele. Vega
também passa por maus bocados quando leva a esposa do chefão Mia
(Uma Thurmam) para sair. No fim os cenários não se fundem, mas são
pertencentes a um mesmo arcabouço, o que consegue dar um desfecho
lógico para a trama.
É
até difícil resumir a obra de Tarantino sem ser prolixo. A forma
como desfragmentou seu roteiro sem abrir mão de um signo narrativo
satisfatório é tão brilhante quanto o texto, que traz uma notável
realidade às ações corriqueiras dos personagens e conserva a alma
dos Pulp fictions que nomeiam o filme. O espectador se identifica de
cara com palavras e atos de Jules e Cia. assim que as vê na telona.
Nada de pensamentos narrados ou falas artificiais e convenientes,
tudo é construídos para que tenhamos a sensação de estar
assistindo à cenas de bastidores tamanha a naturalidade. Porém, nem
de longe o roteiro é inocente. Referências a filmes, TV,
religião, aliás, tudo que pertence a cultura pop dá o ar da graça
e fazem um miscelânea divertida e ao mesmo tempo visceral e cruel.
As
inovações no modo como monta seu filme provoca uma certa estranheza
(talvez muito menos hoje em dia), o que aos poucos vai se dissolvendo
entre uma “pancada” ou outra que o diretor oferece
gradativamente. A trilha sonora, que exala a mística dos grandes
westerns, deixa o clima de tensão em evidência, do mesmo modo que
clássicos da música pop quebram a atmosfera e a transformam em uma
comédia de humor áspero em apenas um quadro. O que ainda mantém o
filme como um ícone é que o começo não é o fim, e nem mesmo este
é fácil de apontar, o diretor se preocupou apenas com o cotidiano
de pessoas comuns, mesmo que estas sejam bandidas.
Contando
com atuações competentes de todos, principalmente o hipnótico e
ambíguo Jules de Lee Jackson, e sequência inesquecíveis, como a
dança de Vega e Mia, Tarantino fez um tratado cinematográfico e uma
prova de amor condicional à sua arte. De variados estilos em uma
mesma película, perambulou por tudo o que é bom, e ruim, dentro do
cinema e ensinou que o simples pode ser absolutamente sensacional.
Tudo isso sem ser estereotipado, e principalmente, sem deixar de ser
pop.
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