Nota: 9.6
Houve um tempo onde o
cinema se valia muito mais do roteiro do que da qualidade técnica e
potencial comercial. E, um dos melhores, ou o melhor, exemplar de um
texto bem escrito, poderoso, verborrágico, sombrio e com toques de
um refinado humor estão presentes nesta adaptação de Joseph L.
Mankiewicz de um conto publicado na revista Cosmopolitan
em 1946, The windom of Eve. Em A Malvada mergulhamos em uma história
de cobiça de uma mulher, Eve Harrington (Anne Baxter),
que usa de todo seu talento para interpretar e dissimular com o
intuito de tomar a carreira e a vida de Margo Channing (Bette Davis, em atuação estupenda). Para isso, conta com a ajuda da ingênua Karen Richards (Celeste Holm) e do cínico crítico teatral Addison DeWitt (George
Sanders), para triunfar em seus planos.
O
filme se inicia pelo fim, assim Mankiewicz não faz rodeios em
mostrar que a aparentemente inocente Eve seria a grande trapaceira da
história, e volta no tempo para nos contar sua trajetória a partir
do ponto de vista dos outros personagens. Primeiro ato de brilhantismo. Durante o decorrer da película as palavras se
entrelaçam e dissecam a psique das personagens, que aos poucos
podemos ver a verdade por trás tanto de da dureza de Margo, quanto
da simpatia de Eve. O destaque, com certeza, vai para a visão
lúgubre que o sagaz DeWitt tem a respeito dos seres humanos e do que
fazem para conseguir o que querem. Mesmo pessimista, seu olhar é
franco e determinista.
Mankiewicz
dirige com maestria, alternando de forma inteligente os quadros e às
vezes primando por belos planos abertos que valorizaram cada palavra
que era dita. O trabalho excelente de fotografia em preto e branco de
Milton Krasner, evidencia a obscuridade de Eve em suas primeiras
cenas no flash back e se abre para a luz quando a ascensão da moça
estava em ponto de se revelar. Além disso, vale se destacar o
conjunto de toda a obra, que deixam um ar teatral, pungente, que faz
do filme uma verdadeira história do teatro e de tudo que acontece em seus bastidores.
O
ponto magnífico, porém, mora na forma extraordinária do elenco,
que deu mais vida ao texto. Bette Davis deu a Margo Channing a honra
de sua melhor atuação na carreira. O cinismo, a empatia, e os olhos
mortais que valem cada minuto na tela, talento puro, aula de
interpretação. Anne Baxter se esforça e consegue sua grande
atuação no cinema, pois a ambição de Eve está em seus olhos, e
seu semblante muda de uma hora para outra quando lhe convém. Apesar
de coadjuvantes excepcionais, como Celeste Holm, Thelma Ritter (ambas
indicadas ao Oscar) e Hugh Marlowe, é George Sanders, com seu rude
Addison DeWitt que se destaca com suas palavras cortantes e um
cinismo sem igual, que lhe rendeu o Oscar. E ainda tem a novata e já
exuberante Marilyn Monroe fazendo uma pontinha.
Um
espetáculo cinematográfico, simples e conduzido de forma competente
e inteligente. Recebeu merecidas 14 indicações ao Oscar (Filme,
diretor, roteiro, atriz (Davis e Baxter), atriz coadjuvante (Holm e
Ritter), ator coadjuvante (Sanders), figurino, som, direção de
arte, edição e música), recorde até hoje junto com Titanic
(1997). Virou um ícone
do cinema americano e determinou novos parâmetros de se fazer uma
história de ambição sem exageros. Valorizou aquilo que há algum tempos poucas produções se preocupam, a história, o texto, as palavras que valem mais do que qualquer imagem esculpida em 3D, CGI e afins. Imperdível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário