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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A Malvada (1950)

Dirigido por Joseph L. Mankiewicz. Com Bette Davis, Anne Baxter, George Sanders, Celeste Holm, Thelma Ritter, Hugh Marlowe, Gregory Ratoff e Marilyn Monroe.

Nota: 9.6

Houve um tempo onde o cinema se valia muito mais do roteiro do que da qualidade técnica e potencial comercial. E, um dos melhores, ou o melhor, exemplar de um texto bem escrito, poderoso, verborrágico, sombrio e com toques de um refinado humor estão presentes nesta adaptação de Joseph L. Mankiewicz de um conto publicado na revista Cosmopolitan em 1946, The windom of Eve. Em A Malvada mergulhamos em uma história de cobiça de uma mulher, Eve Harrington (Anne Baxter), que usa de todo seu talento para interpretar e dissimular com o intuito de tomar a carreira e a vida de Margo Channing (Bette Davis, em atuação estupenda). Para isso, conta com a ajuda da ingênua Karen Richards (Celeste Holm) e do cínico crítico teatral Addison DeWitt (George Sanders), para triunfar em seus planos.

O filme se inicia pelo fim, assim Mankiewicz não faz rodeios em mostrar que a aparentemente inocente Eve seria a grande trapaceira da história, e volta no tempo para nos contar sua trajetória a partir do ponto de vista dos outros personagens. Primeiro ato de brilhantismo. Durante o decorrer da película as palavras se entrelaçam e dissecam a psique das personagens, que aos poucos podemos ver a verdade por trás tanto de da dureza de Margo, quanto da simpatia de Eve. O destaque, com certeza, vai para a visão lúgubre que o sagaz DeWitt tem a respeito dos seres humanos e do que fazem para conseguir o que querem. Mesmo pessimista, seu olhar é franco e determinista.

Mankiewicz dirige com maestria, alternando de forma inteligente os quadros e às vezes primando por belos planos abertos que valorizaram cada palavra que era dita. O trabalho excelente de fotografia em preto e branco de Milton Krasner, evidencia a obscuridade de Eve em suas primeiras cenas no flash back e se abre para a luz quando a ascensão da moça estava em ponto de se revelar. Além disso, vale se destacar o conjunto de toda a obra, que deixam um ar teatral, pungente, que faz do filme uma verdadeira história do teatro e de tudo que acontece em seus bastidores.

O ponto magnífico, porém, mora na forma extraordinária do elenco, que deu mais vida ao texto. Bette Davis deu a Margo Channing a honra de sua melhor atuação na carreira. O cinismo, a empatia, e os olhos mortais que valem cada minuto na tela, talento puro, aula de interpretação. Anne Baxter se esforça e consegue sua grande atuação no cinema, pois a ambição de Eve está em seus olhos, e seu semblante muda de uma hora para outra quando lhe convém. Apesar de coadjuvantes excepcionais, como Celeste Holm, Thelma Ritter (ambas indicadas ao Oscar) e Hugh Marlowe, é George Sanders, com seu rude Addison DeWitt que se destaca com suas palavras cortantes e um cinismo sem igual, que lhe rendeu o Oscar. E ainda tem a novata e já exuberante Marilyn Monroe fazendo uma pontinha.

Um espetáculo cinematográfico, simples e conduzido de forma competente e inteligente. Recebeu merecidas 14 indicações ao Oscar (Filme, diretor, roteiro, atriz (Davis e Baxter), atriz coadjuvante (Holm e Ritter), ator coadjuvante (Sanders), figurino, som, direção de arte, edição e música), recorde até hoje junto com Titanic (1997). Virou um ícone do cinema americano e determinou novos parâmetros de se fazer uma história de ambição sem exageros. Valorizou aquilo que há algum tempos poucas produções se preocupam, a história, o texto, as palavras que valem mais do que qualquer imagem esculpida em 3D, CGI e afins. Imperdível.

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