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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Como esquecer (2010)

COMO ESQUECER (IDEM, 2010)
Direção: Malu de Martino
Com: Ana Paula Arósio, Murilo Rosa, Natália Lage, Bianca Comparato e Arieta Corrêa.
Nota: 7


Como esquecer uma vida de amor e aventuras ao lado de quem sempre foi a razão de sua existência? Colocado assim, parece um daqueles tipo de romances shakespearianos que já sabemos que irá terminar em tragédia.

A adaptação autobiográfica de Miriam Campello transcorre para este ápice trágico da vida da professora universitária Júlia (Ana Paula Arósio), que cai em depressão após uma dolorosa separação de sua companheira de nome Antônia. Sim apenas nome, pois a própria não aparece em nenhum momento da trama. Nem mesmo nos flashbacks delirantes da protagonista em seus momentos felizes ao lado da amada. Tragédia poderia ser uma qualificação para o filme se a diretora Malu de Martino não tivesse em mãos uma atriz protagonista de tamanha competência em brilhar no gênero drama. Acostumada em ser uma das mocinhas sofridas das incansáveis novelas da TV, Arósio confirma esta condição com a mesma competência, com a diferença de que aqui as lágrimas são substituídas por uma dor mais intimista de sua personagem. Nada de reações escandalosas e  rompantes emocionais.

A dor de Júlia é mostrada de forma tão intensa que a professora simplesmente se recusa a aceitar qualquer tipo de ajuda até do mais leal dos amigos Hugo (Murilo Rosa), que assim como ela também é homossexual e passara por um momento de perda, só que com o atenuante de que a sua foi irremediável  O falecimento de seu companheiro seria o tipo de troca de experiências que poderia se tornar um átimo mais que providencial para alavancar a moça. No entanto, parece que junto com Antônia, se foi parte da existência física e psicológica da personagem, que começa a se prejudicar invariavelmente no trabalho e na vida pessoal. Que o diga sua petulante aluna Lygia (Bianca Comparato), a quem lhe deve uma devoção profissional e afetiva e sua pretendente mais madura a paisagista Helena (Arieta Corrêa).Helena tem personalidade oposta de Júlia. Ama intensamente a vida que leva e leva intensamente que ama. Mas nem mesmo a atração magnética dos opostos que se atraem, é o suficiente para penetrar a forte armadura do coração da professora. Seu estado de espírito piora quando suas restrições financeiras a leva dividir o apartamento com mais duas pessoas. O amigo Hugo e Lisa (Natália Lage), uma garota que descobre estar grávida com o destino imaginado de mãe solteira.

O que era pra ser um triângulo de amizades convencionais e de ajuda mútua, algo que amigos dividem quando vão morar juntos, torna-se um mar de reclamações e lamentações por parte de Júlia. Assim é impossível para o espectador torcer pra personagem esquecer e dar por cima. Sua depressão parece entrar num estado irreversível de patologia, destilando amargura por todos os poros e pessoas. Nada de mocinhas redentoras que jamais passarão fome ou coisas do tipo. Até porque se trata de uma obra de natureza real. Ana faz de sua personagem algo esquecível no sentido prazeroso de se admirar na ficção, mas inesquecível no sentido de admirar o trabalho da atriz em demonstrar com perfeição toda esta negatividade carregada pela moça.

Pode-se afirmar então, que este é um pecado esquecível da obra, que cumpre sua proposta. Costumo afirmar que um filme pra ser bom ou pelo menos aceitável tem que cumprir com o que promete. Sem as falsas expectativas. É assim com Como esquecer. Ele pára no tempo, junto com a personagem. Mesmo entrando no perigoso rumo do marasmo emaranhado num roteiro irregular, se volta todo para o excelente trabalho de Ana e de seu elenco de coadjuvantes. Além disso, o filme evita clichês quando se trata de retratar um personagem homossexual. Não há crise existencial por parte de sua identidade. Um ponto positivo pra quem gosta de apreciar histórias de temática gay sem o drama carregado que gera a opção sexual. A personagem é tratada como qualquer outra que sofre ao término de qualquer relação sem esteriótipos.

A julgar por seu trabalho no filme, o mesmo sofrimento não deve ter tido Ana ao dar um tempo em sua relação com as decadentes novelas e minisséries de horários inoportunos, entrando assim para a seleta (e pertinente) lista de astros que se negam a fazer parte do sistema de castração artístico imposto pela TV. O cinema fez bem a ela, assim como faz bem a outros de talento semelhante que brilham fora da caixa de ilusões como Selton Mello e Rodrigo Santoro. Bom pra nós que pelo menos por enquanto Ana tenha esquecido a TV ou seria a TV que a esqueceu? Quem se importa? Afinal, pra bom entendedor a ordem dos fatores nunca altera o seu bom produto.

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