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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Garota interrompida (1999)

Garota interrompida (Girl, interruped, 1999)
Direção: James Mangold
Com: Wynona Ryder, Angelina Jolie, Woopi Goldberg,Vanessa Redgrave, Britanny Murphy e Elizabeth Moss
Nota: 9


"Loucura não é ter a obstinação contrariada, ou esconder um terrível segredo. É você ou eu amplificado. Se você já disse uma mentira e gostou. Se já desejou ser criança pra sempre. Elas não eram perfeitas, mas eram minhas amigas. " Para entender um pouco esta obra marcante e portanto, indispensável, é preciso começarmos pelo último tópico narrativo da personagem central deste sucesso de James Mangold. O filme se centra numa época turbulenta de  questões humanistas (como a guerra do Vietnã) e se faz traduzir o que significou para qualquer garota de personalidade diferenciada viver nos EUA dos anos 60. Muitas destas garotas eram tachadas de insanas, por conta de vários motivos que ia de divergências de opinião em relação aos padrões da sociedade até homossexualismo. Seriam estas garotas mesmo com limites avançados de insanidade mental ou apenas garotas interrompidas? 

A expressão no singular foi usada por Susanna Kaysen, autora de livro homônimo lançado em 1994 para relatar os anos em que a própria esteve internada numa famosa instituição psiquiátrica para moças. Susanna era deste tipo de jovem inconsequente que torna a vida algo trivial ditada com sexo casual, drogas, bebidas, tentativas de suicídio. A jovem sofre uma intervenção por parte dos pais e passa dois anos em Claymoore. Através desta fundamental experiência de vida, Susanna escreveu seu livro e dele fez-se Garota interrompida, filme lançado em 1999 que teve Wynona Ryder no papel da autora rebelde. 

A obra cinematográfica vai traçando um perfil interessante de várias personagens ao começar pela protagonista. Diagnosticada com distúrbio de limite de personalidade, Susanna (Wynona) era o que hoje chamaríamos naturalmente de "rebelde sem causa", que naquela época tinha outro significado. Uma garota que como tantas outras com muito dinheiro no bolso, se sente isolada do mundo e entendiada por demais para não se prender a vida bem como suas banalidades. Assim cada dia era como se fosse o último. A morte uma companheira natural e de certo instrumento de libertação que um vidro de aspirina e uma garrafa de vodca poderiam ser mais que bons parceiros. Diante desta tentativa de suicídio que não fora a primeira, seus pais resolvem trancafiá-la em Claymoore esperando por uma "cura". Ao chegar naquele que seria seu lar por pelo menos dois anos, Susanna se envolve com um grupo distinto de garotas que também carregam consigo um valioso debate sobre a possível sanidade. Logo, é seduzida a fazer parte do grupo e as coisas ganham mais intensidade quando ela conhece a sociopata Lisa (Angelina Jolie), a paciente mais temida, e ao mesmo tempo, mais adorada da instituição. Uma espécie de líder instigante da qual emanam os mais variados sentimentos naquele ambiente claustrofóbico. Susanna se entrega inquestionavelmente ao mundo de Lisa,que a conduz pela mão como ídolo. Neste processo  ela fechava os ouvidos e o coração para os valiosos conselhos da enfermeira Valerie (Woopi Goldberg) e de quebra não aceita o tratamento imposto pela Dra. Wick (Vanessa Redgrave), a psiquiatra. Seu tratamento era estar ao lado de garotas como Lisa, quem fazia se sentir viva entre uma e outra aventura. E é numa destas aventuras que ela muda sua concepção ao se tornar testemunha do suicídio de uma de suas amigas recém-saída de Claymoore. A morte imaginada parece ridícula quando se vê a real de perto. A beleza dela se esvai, ficando somente a dor e frustração. A partir dali os olhos magnéticos de Lisa já não a atraíram mais e aquela que antes fora seu refúgio, é substituída por seu diário, por onde descreve toda a miscelânea de sentimentos dentro de si abrindo sua porta de acesso a uma vida mais saudável. 

A fascinante trajetória descrita por Kaysen em seu livro torna-se um roteiro brilhante pelas mãos de Mangold em parceria Lisa Loomer e Anna Hamilton Phelan. Todos os elementos são tratados de forma homogênea e objetiva, sem rodeios e captando da melhor maneira possível, todos os sentimentos emanados pelas jovens. Maravilhosamente inserido com personagens hipnóticas, que por sua vez derivam de um elenco extraordinário. O maior poder do filme se centra justamente em suas garotas interrompidas. Além de Wynona, Jolie, Woopi e Redgrave, somos brindados com atuações seguras de promissoras estrelas. A saudosa Britanny Murphy divide o espaço com Elizabeth Moss, Ângela Betis e Cléa Duvall. Tudo meramente calculado para transcrever o poder de empatia de cada uma das moças. Pena que com tão pouco tempo, e pelo tema centralizado na protagonista, não se pôde aprofundar um pouco mais a essência de cada uma delas, mas se formos levar em consideração o sucesso da obra, podemos afirmar que tratou-se de um mau necessário. 

Com um "mau necessário" também teve de conviver Wynona. Tudo por conta de uma promissora estrela de nome Angelina Jolie. A bela de traços inesquecíveis barbariza ao limite sua carismática sociopata, tonando-se parte integral do projeto. Jolie nos faz vislumbrar um pouco de sua personalidade na vida real . Uma mulher linda, fascinante, carismática que nos convida a nos jogar no desconhecido mar de emoções de sentimentos inseridos na mente das mulheres de personalidade marcante. Dor e isolamento se funde com compaixão e coragem. A atuação exageradamente impecável contribui para o chamariz do filme e consequentemente para a premiação da atriz com o merecido Oscar de coadjuvante.

É difícil falar desta obra e não fazer dela uma relação com aquela que foi uma de suas estrelas, Wynona Ryder. A atriz que já provara todo seu talento em obras inesquecíveis ao lado de diretores como Tim Burton e Martin Scorsese, atua também como co-produtora do filme. Alguns críticos apontam este trabalho o início de sua derrocada por ter sido ofuscada por Jolie. Talvez se valendo pelo título que ao que parece, caiu como uma luva para exemplificar a trajetória da atriz. Da parte ficcional, é certo afirmar que Wynona não decepcionou, pelo contrário. Atuou como costumava fazer, e ao julgar o êxito técnico da obra, concluímos que tenha expandido seu sucesso para detrás das câmeras. Mas então afinal o que houve com sua trajetória? Bem quanto a esta resposta há muitas teorias existenciais, psicológicas e até financeiras, mas nenhuma delas poderá eximir, pelo menos por enquanto, o que já sabemos. Wynona foi uma estrela. É uma atriz de talento. Disso é possível admitir que, mesmo diante de uma invencível Jolie, do casamento de personalidades entre atriz e personagem, se fez inesquecível seu momento de garota interrompida.

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