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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O Artista (2011)


The Artist, 2011. Dirigido por Michel Hazanavicius. Com Jean Dujardin, Berenice Bejo, James Cronwell, John Goodman, Malcolm McDoweel.Nota: 9.5

Pensar em um filme preto e branco nos dias atuais é no mínimo um exercício de coragem, já que o 3D é uma realidade que avança a passos largos para o domínio da indústria cinematográfica. Agora, além de bicolor, o longa ser mudo como nos primórdios do cinema, aí é uma ousadia fora do comum. Para conseguir triunfar sob essas condições, só mesmo mostrando um conhecimento muito grande a respeito da sétima arte. E foi estudando seus primeiros passos é que o francês Michel Hazanavicius escreveu e dirigiu O Artista, uma aula de cinema formidável, metalingüístico e exuberante, que prova que há espaço para a arte na era digital.


Muitos até dizem, erroneamente, que o filme é uma versão às avessas de Cantando na Chuva, extraordinário musical de Gene Kelly, que mostrava o “estrago” que o som causou quando chegou às telonas. Entretanto, o tom irônico e rítmico em que o tema foi tratado, contrasta com o drama melancólico, apesar de sutil, que conduz a produção franco-americana. E, ao contrário dos personagens do longa de 1952, o protagonista não é refém da mudança, e sim um resistente, já que nem tenta se adaptar à nova era.


A construção do roteiro apresenta uma articulação cinematográfica de vanguarda inteligente, especialmente quando monta as imagens de maneira metafóricas, assim como Serguei Einsestein o fizera na revolução do cinema russo da década de 20. E isso se fez muito importante para que a mensagem tivesse efeito sob o publico. Novamente mostrou conhecimento imprescindível ao mostrar a efervescência de Hollywoood, as orquestras que sonorizavam as salas de cinema e, claro, todo o glamour que cercava as estrelas dos grandes estúdios.


Para construir seus protagonistas, Hazanavicius criou verossimilhanças como mitos da época. O seu George Valentin é inspirado no primeiro grande astro do cinema, Rodolfo Valentino. Já Peppy Miller pode ser uma mistura da musa do mudo Clarence Badger, com deusas da era do som como Joan Crowford e Claudette Colbert (essa pelo lado cômico de filmes como Aconteceu Naquela Noite).


Os atores do filme mostram uma personalidade e talento incrível para conduzir seus personagens, já que teriam de construir uma linha tênue entre a simulação e a interpretação. Berenice Bejo se mostra versátil para viver as duas versões de Miller, mas mantendo o carisma e a sensibilidade. Porém o filme é de Jean Dujardin, o francês é gigante em cena. É brilhante como o exagerado e galanteador no auge carreira, e mais ainda como o melancólico decadente, que sente na pele o ostracismo de sua era. Para completar, os números de sapateado com sua parceira de cena, tornam sua interpretação uma das mais completas que o cinema já viu.


Uma obra completa e nostálgica, um estudo meticuloso da arte cinematográfica e mostra que há muito que se explorar das técnicas atuais, além de seu potencial para pirotecnias. Será apreciado por poucos, mas cultuados por quem sonha em um dia ver nas telas uma presença maior do cinema artístico.

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