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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O Oscar e suas surpresas

Em toda época de premiação há sempre uma poderosa sinopse de especulações e incertezas. Nem mesmo os favoritos escapam a um olhar crítico de todos que respiram esta época. Nenhum vencedor ou ganhador escapa das polêmicas alçadas pelos cinéfilos de todo o mundo. Em resumo, acompanhar a premiação mais glamorosa do universo artístico tem como regra principal gerar a velha e boa controvérsia, que alimenta a paixão. No decorrer de toda a história do Oscar, houve muitas surpresas. Ora agradáveis, ora nem tanto. Favoritos sucumbiram de forma até certo ponto perplexa a produções e interpretações mais inferiores. Estas foram às chamadas surpresas desagradáveis.
Assim sendo, selecionamos 10 entre os inúmeros casos que marcaram “surpreendentemente” a história do Oscar:


1 – CIDADÃO... QUEM?!

Um dos primeiros grandes golpes sofrido pelos apostadores de plantão diz respeito à escolha de melhor filme de 1941 para o lagrimejante Como era verde o meu vale de John Ford. E a surpreendente vitória teve uma relevância ampliada por conta de na lista de seus concorrentes constar aquele que é considerado por muitos como o melhor filme de todos os tempos. Aos olhos da Academia, nem mesmo toda a pompa, repercussão e glória de Cidadão Kane de Orson Welles foram suficientes para levar a estatueta dourada.


2 – QUANDO DOIS E DOIS NÃO SÃO QUATRO

Um filme espetacular com duas das maiores personagens e interpretações da história. Barbada, certo? Não. Errado. Pois não é que arrancaram o Oscar de 1950 das quatro mãos de Bette Davis e Anne Baxter de A Malvada e entregaram a Judy Holliday por Nascida ontem? De dez, onze especialistas não explicam esta escolha. Algumas teorias são até plausíveis como a divisão consequente dos votos de Bette e Anne. Mas o que alimenta o sentimento de desolação é saber que a vencedora nem ao menos teve uma interpretação convincente em seu filme para tal feito. Como coloca a revista SET enfaticamente ao fazer uma análise do filme: “como é fraca a interpretação de Holliday!”.


3 – NOCAUTE NOS FAVORITOS

Uma das maiores proezas (talvez a única) de Silvester Stallone no cinema, foi idealizar Rocky, um lutador, vencedor de 1976. O roteiro, escrito pelo próprio em apenas três dias, desbancou filmes poderosos como Todos os homens do presidente, o excelente frenesi de Taxi driver e o intrigante Rede de intrigas que premiou Peter Finch e Fae Dunaway. Certamente esta foi uma das maiores supressas da história. Um nocaute nas apostas, uma vez que embora o filme seja Cult e tenha um protagonista extremamente popular, não passa de um bom entretenimento de sessão da tarde. Ou seja, um filme bem “feitinho”, mas sem grandes alardes.


4 – FUGINDO DAS MÃOS

1993 foi um ótimo ano para o Oscar. Grandes filmes como O Piano de Jane Champion e A lista de Schindler de Steven Spielberg. Grandes interpretações como dos vencedores Holly Hunter (O piano) e Tom Hanks (Filadélfia). No entanto, o ano não foi marcado somente pelas obras-primas. Obra-prima mesmo quem protagonizou foi a Academia ao premiar a fraca interpretação de Tommy Lee Jones como melhor ator coadjuvante por O fugitivo. O mesmo personagem que tem interpretado exaustivamente em toda sua carreira. Um policial durão que persegue bandidos com alto teor de sarcasmo e virilidade insossa. Nenhuma surpresa. A surpresa ficou mesmo por conta de sua vitória sobre interpretações inesquecíveis como do maravilhoso Ralph Fiennes em A Lista de Schindler e do talentosíssimo (só a Academia não vê) Leo Di Caprio em Gilbert Grape.

5 – ATRIZ DE UM FILME SÓ

A atriz Gwyneth Paltrow ficou conhecida inicialmente do grande público por intermédio de seu romance com o galã Brad Pitt. Depois passou a estrelar produções menores até que teve sua grande oportunidade em Shakespeare apaixonado, o grande vencedor de 1998. Num papel de uma mulher a frente de seu tempo a atriz chega até convencer em certos momentos, especialmente quando se transveste de homem e talvez merecesse mesmo uma indicação. Mas nada que venha a superar o desempenho magistral de concorrentes de peso como a nossa Fernanda Montenegro em Central do Brasil e da talentosíssima Cate Blanchet, vivendo simplesmente a Rainha Elizabeth no filme homônimo. Sua vitória é contestada por muitos até hoje, tanto que sua carreira se estagnou e ela caiu no esquecimento.


6 – WEISZ E SWINTON: ESTRAGA FESTAS

Premiadas com a estatueta de melhores coadjuvantes pode-se dizer que Rachel Weisz e Tilda Swinton arrancaram da cartola suas respectivas vitórias e derrubaram muitos palpites. Ambas se tornaram uma pedra no sapato de muita gente. Em 2005, Weisz foi premiada por dar vida a uma jovem ativista pelos direitos humanos na África. No entanto a força de sua personagem não a impede de quase chegar a fazer uma figuração em O jardineiro fiel de Fernando Meirelles. Mesmo assim superou atuações como de Frances McDormand como uma líder sindical com limitações físicas em Terra fria e de Michelle Wilhams como a esposa devotada de Heath Leadger em O segredo de Brockeback mountain. Já Swinton foi mais ousada ao superar a irretocável e aplaudidíssima interpretação de Cate Blanchet como Bob Dylan em Não estou lá e da segura Saiorse Ronan de Desejo e reparação.


7 – OS BRUTOS TAMBÉM AMAM, MAS NÃO LEVAM

Um dos filmes mais cultuados dos últimos tempos, O segredo de Brockeback Mountain ganhou todas as disputas que antecederam ao Oscar. Não somente na categoria de Melhor filme, mas pela popularidade da crítica e do público que aplaudiram de pé uma história fantástica de amor entre dois jovens cowboys. Pelo excelente roteiro, performances extraordinárias e a direção do visionário Ang Lee, ganhar o Oscar de Melhor filme seria uma mera formalidade se não fosse o tenso Crash. O filme de Paul Haggis funcionou como uma colcha de retalhos tecida por um excelente roteiro e o latente apelo das cinzas do 11 de Setembro. Assim conseguiu o que poucos acreditavam. Tirar a vitória quase certa de uma das últimas obras-primas do cinema.


8 – QUEM QUER SER UM ALIENADO?

De todos os vencedores na categoria de Melhor filme não houve quem se comparasse ao péssimo Quem quer ser um milionário? A escolha do filminho de Danny Bole como vencedor de 2008 é uma das mais desagradáveis surpresas da corrida do Oscar. Nem é preciso que se listem aqui seus concorrentes, pois qualquer um que tenha um mínimo de atrativo considerável o teria vencido. Não se sabe ao certo a razão da Academia ter prestigiado com tanta veemência um thriller com um roteiro bobo, sem pé nem cabeça, e com cenas até certo ponto desconfortáveis aos olhos. Mera falta de sensibilidade ou apenas um lobby poderosíssimo? No mundo em que vivemos hoje, é difícil engolir uma história de um João Ninguém que se torna milionário participando honestamente de um programa de perguntas e respostas da TV. E que estas respostas simplesmente emerjam de forma casual a ele. Este equívoco nos levou a acreditar na velha e boa historinha pra boi dormir. Aqui ou lá na Índia.

9 – O PODER DA MISS SIMPATIA

Querida pelos profissionais de Imprensa, do público e dos colegas de trabalho por sua notória simpatia, Sandra Bullock é uma estrela respeitada. E quando concorreu ao Oscar pela primeira vez em 2009 num papel dramático, muitos se deixaram influenciar pelo seu carisma. Esta é a única explicação para o fato de a Miss simpatia ter superado atuações mais surpreendentes como da novata Carey Mulligan em Educação e da chorosa Gabourney Sidibe em Preciosa. Ambas tinham personagens muito mais fortes e consequentemente interpretações muito mais bem trabalhadas e convincentes do que a de Sandra, que não fez nada demais em Um sonho possível, mesmo vivendo uma milionária que ajuda um rapaz negro a se integrar na sociedade. E ainda tivemos neste ano a atuação insuperável de Emily Blunt como A jovem Rainha Vitória. Uma interpretação tão incrível quanto o fato dela nem sequer ter sido indicada ao prêmio. Nunca subestimem o poder da força da simpatia!


10 - OS ANOS EM QUE DOIS GIGANTES PASSARAM EM BRANCO

Quem conhece um pouco de cinema sabe quem e o que representa Steven Spielberg e Martin Scorsese para o mesmo. A magnitude dos dois diretores transcende qualquer tipo de premiação. Por isso foi tão surpreendente os anos em que ambos não conseguiram nenhum Oscar sequer em suas produções. Em 1985 Spielberg fez o drama rico de A Cor púrpura concorrer a exatamente 11 estatuetas. Entretanto, nem mesmo com todo o prestígio do diretor, o filme não lhe rendeu nenhuma estatueta sequer. Dezessete anos depois, foi a vez de Scorsese ficar a ver navios. Seu épico Gangues de Nova Iorque concorreu a 10 Oscar e nem mesmo o fato de ter sido eleito o Melhor filme do ano pela revista Rolling Stone não lhe trouxe nenhuma premiação. Mais que uma surpresa, foi uma pena que esses dois grandes filmes tenham passado em branco na história do Oscar.

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