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quarta-feira, 6 de abril de 2011

O brado de liberdade de todos Homens-Elefante

Quando Werner Herzog concebeu o melancólico O Enigma de Kaspar Hauser, em 1974, a história de um rapaz que depois de anos preso em um porão sai para conviver em comunidade mas não compreende o mundo que passou a viver, fez com que os espectadores sentissem pena, mas ao mesmo tempo questinassem todo processo que move a sociedade.

Os moradores da cidade o repugnavam e o trancafiaram numa torre. Medo do quê? Os moradores da cidade mostraram um lado da sociedade mundial que todos conhecem, mas negam. O preconceito diante de uma figura que não preenche os requisitos básicos do esteriótipo construído desde os primórdios dos tempos. Julgar a todos não é justo, se ninguém está livre de ter um gen preconceituoso. O filme se desenrola até momento onde o personagem não se compreende, o que faz dele refém da incompreensão da sociedade.

Mas nem tudo estava perdido. Em 1980, David Lynch provou que nem tudo pode ser setenciado de acordo com a opinão pública. Sob a apaixonante fotografia em preto e branco, O Homem Elefante chocou e emocionou pessoas de todo o mundo com a história verídica de John Merrick, um homem que tinha maior parte de seu corpo deformado devido a uma rara doença. Foi resgatado de um circo de "aberrações" por um médico. A partir daquele momento, o principal desafio de Merrick era enfretar o preconceito. Sempre que era humilhado, sujeitando-se a ser tratado como um animal, seu espírito se portava como tal. Se resignava a aceitar seu cruel destino, sem nem mesmo pronunciar uma palavra de lamento.

A missão do Doutor Treves, que o resgatou, não era fazer com que a sociedade o aceitasse, e sim fazer ele se aceitar. O brado "Eu não sou um animal, sou um ser humano!" de Merrick no auge de uma humilhação pública, faz com que passem a enxergá-lo como o homem que era. Outro personagem que o ajudou foi a Sra Kendall (Anne Bancroft), que aguçou sua sensibilidade para o teatro, tornando-o cada vez mais "humano".

A lição do filme de Lynch pode ser de grande valia nos dias atuais. Estamos em uma época onde o bullyng, seja real ou virtual, destrói sonhos e cria uma linha tênue de baixo astral na vida de muitas pessoas. Se seguirmos o pensamentos do pobre Kaspar Hauser, deixando o mundo nos abater, sucumbiremos. Entretanto se enfretarmos a realidade, não com violencia, mas simplesmente nos aceitando, com certeza a sociedade nos enxergará. Viva John Merrick!

Um comentário:

  1. Que texto!! Parabéns, Paulo! Você escreve com primor e com o coração... Orgulho! Abraços com carinho! Renata Vargas

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