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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

A Lista de Schindler: duas décadas de amor ao cinema e um presente para a humanidade


A lista de Schindler (The Schindler’s list, 1993)
Direção: Steven Spielberg
Com: Liam Neeson, Ralph Fiennes e Ben Kingsley

Nota: 10

A Segunda Guerra Mundial foi o capítulo mais triste de nossa história. Foram seis anos de vergonha que nos levou à beira do abismo ético, moral e social. Os alicerces que a sustentavam tiveram como base o ódio. Uma facção de poder militar e econômico ganha força ao tentar resgatar o orgulho de sua nação. Eles representavam a chamada Raça Ariana e a intitulava como a mais pura, a superior, a que mais se aproximava do ser humano ideal. Aqueles que não seguiam essencialmente seus padrões físicos eram tachados de seres inferiores e, portanto, não eram classificados como seres humanos. 

Negros, asiáticos e indígenas sofreram discriminadamente ao longo da história e durante muito tempo deixados à margem da cadeia biológica. Os negros viram seu continente ser dividido como fatias de pizza pelos europeus e depois transformados em escravos. Os asiáticos tiveram seus templos violados e sua cultura esmagada. Os índios massacrados física e ideologicamente pelos colonizadores e hoje veem pouco a pouco sua cultura sendo jogada ao esquecimento. Todos tiveram que se submeter pela força a uma outra cultura em razão de uma ideia totalmente deturpada de um grupo ao conceituar a raça humana como um todo. Este princípio se tornou a bandeira do Holocausto. A disseminação do ódio da raça ariana pelos judeus durante a Guerra. Segundo este princípio, os judeus eram os responsáveis pela crise que a Alemanha enfrentava naquela época. Assim passaram a ser vítimas de uma campanha antissemita do Nazismo. 

Meios de comunicação em massa foram usados bem como discursos inflamados por todos os líderes do Partido frente à população. Até as crianças foram atingidas, uma vez que nas escolas o que se pregava nas cartilhas era ódio aos judeus. Para sustentar suas afirmações, os Nazistas recorreram a argumentos científicos, que segundo eles, eram inquestionáveis. O judeu não era um ser humano. Eram como ratos, piolhos, insetos nocivos à humanidade e como tais mereciam ser extintos. Eram tratados como animais no sentido literal da palavra. Tiveram suas vidas arrancadas e sua dignidade despida sob todos os aspectos. Foram proibidos de frequentar qualquer local ou estabelecimento público. Depois que tiveram suas lojas e patrimônios destruídos, foram expulsos de suas casas, forçados a viver amontoados numa área restrita que chamaram de Gueto. Este, por sua vez, não era como um cortiço. As condições de vida eram tão sub-humanas que nem de longe poderia se perceber que se tratava de uma moradia humana. Mais lembrava um cercado, um curral. Sua extinção em Agosto de 42, levou sua população aos famigerados campos de concentração. Um lugar que mais parecia uma prisão para animais. Dormiam numa espécie de estábulo e eram marcados como gado antes de trabalharem até a morte eminente. Homens e mulheres saudáveis ganhavam uma sobrevida nos campos. Já as crianças e os idosos eram assassinados em câmaras de gás sem nenhum tipo de consciência ou remorso.

Neste capítulo, o homem mostra sua mais assustadora face como único animal que mata o da mesma espécie. Um a um, 6 milhões de judeus foram exterminados pelas forças alemãs da SS. E este número poderia ter sido maior se não fosse a coragem e compaixão de um homem que arriscou sua vida e fortuna para salvar 1.100 judeus.

Toda essa introdução histórica serve para mostrar o quanto o cinema mexe com emoções daqueles que fazem uma associação pertinente com os rumos da vida real. Isso é o que mais me chama a atenção no cinema. Ter a oportunidade de vivenciar através das telas todas as emoções humanas enquadradas em contextos históricos atemporais. O diretor Steven Spielberg usou dessa mesma sensibilidade para nos trazer uma obra que beirou a perfeição. A Lista de Schindler foi uma ideia concebida por alguém que por ter raízes judaicas, colocou a mesma indignação histórica e paixão cinematográfica ao rodar os takes de cada cena. Detalhe: tudo (ou quase tudo) em preto e branco. Sim, não há cor, não há alegria em cada momento da trama, apenas a visão de uma garotinha com um casaco vermelho, usado simbolicamente como sangue,símbolo do martírio, para chamar a atenção de Schindler. As outras tomadas seguem em alguns momentos depoimentos fiéis daqueles que sobreviveram ao Holocausto, inclusive há um documentário no DVD que conta bem isso. Portanto vejo a obra mais voltada ao cinema documentário do que dramático propriamente dito. 

O theco Oskar Schindler (Liam Neeson) migrou para a Polônia a fim de enriquecer com a Guerra e fez de sua fábrica de armamentos um refúgio para seus 1.100 operários. Á princípio a ideia era lucrar com a mão-de-obra judia, muito mais rentável do que a polonesa. Porém sob a influência indireta de seu sagaz contador judeu Itzhak Stern (Ben Kingsley), ele começa a enxergar todo o sofrimento daquele povo. Suas ações que fugiam do padrão Nazista, Partido do qual fazia parte, chamava a atenção, mas ele conseguia com muito charme e certo cinismo, reverter todas as acusações e ainda esconder o que sua fábrica realmente fazia. Apenas abrigava judeus, nada mais. Oskar gastou toda a fortuna acumulada em deferimento a manipular acordos e negociatas. Em outras palavras, usou seu poder que tinha como um membro, seu capital e Inteligência estratégica para favorecer quem estava condenado a um destino insólito. Só no fim, quando percebeu o quanto desperdiçou em sua incorrigível vida boêmia, se deu conta de que poderia ter salvado mais pessoas numa das cenas de grande emoção e interpretação do ator.

Schindler e Stern: enganando o Nazismo com a confecção da famosa lista

Falando em interpretação, Ralph Fiennes simplesmente entrou para história como o cruel Amon Göth, oficial da SS que nutria uma obsessão pela judia Helen Hirsch (Embeth Davidtz), a quem escolheu a dedo para trabalhar em sua casa no campo de concentração. Só o Oscar pareceu não ter enxergado tamanho empenho do ator, um dos melhores do cinema, dando a Estatueta dourada para Tommy Lee-Jones e seu fraco desempenho em O Fugitivo. Contudo, o que importa para quem não liga para premiações, e sim desempenho, é todo o talento de Fiennes passeando pela tela levando a crueldade e obsessão do Oficial até as últimas consequências numa mescla de asco e admiração para quem assiste. A dupla Neeson e Kingsley deu uma veracidade arrepiante a todas as cenas dos dois homens, empregador e empregado, parceiros e no fim de tudo, amigos. 

Ele não era um Santo. Aquele tipo de herói perfeito que encanta a todos indiscriminadamente, mas teve a sensibilidade de fazer algo pela humanidade que nem mesmo os Santos poderiam fazer. Schindler abriu sua mente e o coração com o devido respeito à cultura judia e assim pôde aprender a valorizar o que nós, seres humanos, temos de melhor. A diversidade cultural. Foi o que serviu como base para a Declaração Universal dos direitos Humanos feita pela ONU (Organização das nações unidas) após a Guerra. Entender que o que nos separa é justamente o que nos dá mais força e equilíbrio. Divergências culturais são saudáveis para todos nós. Contudo, é preciso saber separar estas divergências de qualquer tipo de preconceito. Quando nos tornemos ditadores de princípios que julgamos serem os melhores, os mais adequados à humanidade, cometemos um erro que nos torna tão irracionais quanto animais. São formas graves e inaceitáveis de preconceito de quem se considera parte da mesma raça. Somos únicos e cada qual contribuiu da sua forma para uma lista universal da Paz. A lista de todas as raças sublinhada com amor, fraternidade e respeito a todas as formas de diversidade. Este é um presente tão significativo para a humanidade quanto a obra de Spielberg para o cinema. 

Como puderam notar, o texto não se tratou apenas de uma crítica cinematográfica e sim um desenvolvimento propício à mensagem destes tempos. Tempos de reflexão para mais um ano que se aproxima. Mais um vivenciando tudo que a sétima arte pode nos oferecer, como esta obra emocionante que atravessou duas décadas carregando todo o status de cinema feito como arte para entrar na história. 

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