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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Jogos Vorazes - A Esperança - Parte 1 (2014)

Jogos Vorazes – A Esperança – Parte 1
(The Hunger Games: Mockingjay – Part 1)
Direção: Francis Lawrence
Com: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Donald Sutherland, Julianne Moore, Woody Harrelson, Elizabeth Banks e Phillip Seymour-Hoffman

Nota: 8

Pra quem ainda insistia em comparar a franquia estrelada por Jennifer Lawrence com outros filmes adolescentes e afins, certamente deve ter revisto a sua opinião após assistir Jogos Vorazes – A Esperança – Parte 1. Com uma trama bem mais madura e menos colorida como as anteriores, o diretor Francis Lawrence acerta em dar um tom mais reflexivo ao começo do fim. Não há mais a loucura megalomaníaca de jovens se matando, apresentações ofuscantes de figurinos em desfiles e corrida desenfreada pela sobrevivência numa ação interrupta. Aqui, o papo é mais sério e os jogos acontecem em outro território. 

Depois de ter mandado ao chão literalmente todo o “circo” de opressão do Presidente Snow (Donald Sutherland), a jovem Katniss Everdeen (Lawrence, incrível) agora tem que unir forças para viver uma nova realidade fora dos jogos. E é neste processo que baseia toda a estrutura do filme. Katniss se vê perdida em meio a uma trama que não escolheu fazer parte, mas que precisa protagonizar. Ela quer proteger sua família, seus amigos e ainda de quebra, saber se seu parceiro Peeta Mellark (Josh Hutcherson) está vivo. Peeta foi um dos vencedores que terminou o último filme capturado pela Capital. A grande revelação de seu paradeiro ocorre por meio da TV quando todos ficam a par dos planos de Snow, que o usa como arma contra aquela que agora é a inimiga número 1 do tirano de barba branca e fala macia. Aliás, fala é que não volta ao filme. Tudo é mais dialogado, sentimentos humanos ainda emergem entre operações de espionagem e farpas políticas e mesmo com o fim dos Jogos, a mídia continua tendo sua importância por onde trava-se uma disputa interessante pelo Poder. Snow quer manter todos os Distritos ainda sob controle e acabar com a imagem de Katniss, transformada em uma espécie de arauto da Rebelião, que ecoa pelos 12 distritos, ainda que de forma tímida e não organizada. Em outras palavras, Snow acabou dando um tiro no próprio pé dentro de seu jogo de manipulação através dos holofotes, criando uma heroína tão magnética quanto sua intérprete. É aí que entra uma outra parte interessante do longa. 

Katniss irá se juntar ao chamado Distrito 13 composto por uma força militar desconhecida por PANEM aos cuidados da Presidente Alma Coin (a sempre ótima Julianne Moore) que também usa dos recursos tecnológicos e midiáticos para dar o troco a qualquer pretensão de Snow. Esta central da Rebelião esperava por algo, alguém, alguma chama de esperança para enfim estabelecer a ordem de forma democrática no país, e o mais importante, sem mortes violentas de jovens inocentes. Alma parece o oposto de Snow, embora conserve algumas características do mesmo, como a importância de priorizar certos tópicos nesta Guerra. Assim ela bate de frente com a (ainda) relutante Katniss, a quem conclui, inicialmente, não ser a garota que Plutarch (Phillip Seymour-Hoffman) mencionara com tanto entusiasmo para ela. Neste ponto não podemos tirar dela a razão, afinal, Katniss parece mesmo uma mocinha paradoxal, capaz de derrubar um aeroplano, mas que aparece chorando pelos cantos por conta de um Amor que a mim até agora não convenceu. Afinal, Katniss ama ou não ama Peeta? Eis a questão! 

Não li nenhum dos livros de Suzanne Collins e não sei qual o teor da relação entre os dois jovens descrita lá, mas pelos filmes, a impressão que tenho é que há algo forçado em muitas situações. Quando foram para os Jogos na primeira sequência, ambos nem ao menos se falaram, embora fossem do mesmo Distrito. Com o desenvolvimento de toda a tensão dos jogos, criou-se um forte laço entre eles. Laço que foi responsável pela permanência de ambos nos jogos e para que se sagrassem campeões. Depois do triunfo, estão mais distantes do que nunca, apenas representando, tentando convencer a todo país que são um casal apaixonado até Peeta parar de respirar dentro da arena e Katniss se desesperar. Dúvida sanada? Pode ser dentro das pretensões da história, mas a mim ainda não convenceu, há algo tão superficial no ar quanto a interpretação do jovem Hutcherson. Neste caso, ponto para o casal de Crepúsculo, que ao menos tem uma química considerável que levou com certo sucesso a famigerada série. Em outras palavras, a relação de Katniss e Peeta parece romance sustentado única e exclusivamente para situações vistas nesta terceira sequência como Snow usando o rapaz como o calcanhar de Aquiles da jovem heroína. “São as coisas que mais amamos, é que nos destroem”. Belas palavras, que funcionariam melhor se tudo fosse mais crível quando se trata de Katniss e Peeta nos filmes.

Embora o livro seja classificado como romance e carregado dessa forma na adaptação para o público alvo, eu prefiro me concentrar na essência da batalha, no foco, no pano de fundo da criação da franquia. A luta pela Liberdade, o fim da opressão foi o que me pegou a acompanhar a saga de Katniss. Romance, triângulos amorosos, e todo o sentimentalismo que o envolve, poderiam perfeitamente ficar em segundo plano pra mim. Isso deixa o filme sem ritmo e a heroína sem brilho em certos momentos. Porém entendo os esforços de todos envolvidos para que a franquia não desabe no interesse dos jovens, que adoram ter um casalzinho para shippar (torcer), como foi bem colocado na primeira sequência de 2012.

Katniss como o Tordo, símbolo, da revolução: a faceta mais interessante da heroína

O roteiro mais lento, arrastado, de momentos mais contemplativos tem seu bônus e ônus. Se por um lado a escalação do elenco com atores talentosos, a direção de arte mais profissional, a proposta mais atemporal e revolucionária desmistifica a obra erroneamente vista como “um Crepúsculo da vida”, este mesmo ritmo acabou fazendo o roteiro de Danny Strong (gente....é o Jonathan de Buffy!) quase pender para o nonsense. Um mal necessário pela gana dos produtores por cifras. A ideia de dividir a obra em duas partes, explica um pouco o porquê da falta de criatividade de Hollywood hoje, esticando ao máximo certos produtos de retorno. Se por um lado, é preciso tomar parte de reflexões que envolve o cenário de Jogos Vorazes, por outro, é arriscado se tratando da maioria dos fãs que espera por algo mais bombástico. Neste caso, por segurança, tudo poderia ter sido perfeitamente condensado em um único longa com um tempo maior se necessário. 

Sobre o elenco, quem lê meus textos, sabe de toda a admiração que tenho pelo trabalho de Lawrence, uma atriz na maior concepção da palavra. Arrisco dizer que se não fosse por ela, Katniss não seria nem metade do que é. Para compor todas as nuances da mocinha de arco e flecha, era essencial uma atriz que segurasse todos os momentos de drama, tensão e até mesmo os mais românticos, visto sua empatia junto ao público. Até quando tem que ser canastrona, ela se dá bem como na passagem em que fica à frente das câmeras como o “rosto da rebelião”. Um momento cômico em meio a toda tensão. Sutherland, veterano e seguro. Aliás sobre Sutherland lembramos de uma experiência com este tipo de público, embora não muito bem sucedida em 1992 no filme Buffy – A caça-vampiros em que vivia Merrick, o Sentinela da caçadora. Sobre Moore é tão boa que não precisa de cenas escalafobéticas para ser contemplada. Elizabeth Banks, mesmo sem todo o aparato de carro alegórico e maquiagem, se saiu bem, mostrando que a superficial Effie tem sim muito sentimento. O mesmo não posso dizer de Stanley Tucci, que aqui apareceu como figurante. Não sei se terá importância na segunda sequência, mas se assim for, poderiam perfeitamente escalar um outro ator assim como Woody Harrelson, apagado com a sobriedade de Haymitch. Quanto a Seymour-Hoffman, é uma tristeza enorme saber que toda esta competência não será mais vista. Cumpriu de forma brilhante o seu papel, elevando a franquia, que com um pouco de boa vontade desfaz com sobras a imagem que tem perante aos críticos mais ácidos. 

Jogos Vorazes começou revolucionando o conceito de obra voltada para o público teen, amadureceu essa ideia na segunda parte e agora colhe os frutos de todo esse comprometimento que foge da mediocridade de obras de mesmo gênero. É cinema de entretenimento com apetite voraz tentando mostrar algo a mais dentro dos moldes do gênero, afinal, não é apenas de brilhos reluzentes ao Sol ou estatuetas douradas na estante que se faz a sétima arte. 

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