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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Menina de Ouro: 10 anos de emoções douradas

Menina de Ouro (Million Dolar Baby, 2004)
Direção: Clint Eastwood
Com: Clint Eastwood, Morgan Freemam e Hillary Swank
Nota: 10

Dez anos após sua realização, a grandeza deste pequeno grande filme continua enchendo os olhos e o coração de quem assiste. Sim, ele é emotivo, sentimentalista, e para os mais céticos, um “drama mexicano”. Porém jamais fugiu destas mesmas características para o qual foi criado. Emocionar, e como tal, carregar no chamado tragi-drama. Portanto, se você não é fã deste estilo, passe longe, pois neste ponto, deu um nocaute até nos mais gelados. 

Menina de Ouro começou surpreendendo a todos pelo “cabeça” do projeto. O durão Clint Eastwood produziu, dirigiu e atuou nesta pequena obra-prima de um pouco mais de 2 horas. Mistificado por seus personagens fortes no gênero faroeste, Clint se superou como um ator que também sabe fazer chorar. Aqui ele dá vida a Frank Dunn, um ex-treinador que agora trabalha numa Academia de Boxe decadente. Respeitado no meio por ser uma espécie de descobridor de talentos, logo se torna alvo da determinada garçonete aspirante a boxeadora Maggie Fitzgerald (Hillary Swank), que embora esteja velha demais para iniciar uma carreira no Boxe, o convence de que assim como ele, pode surpreender. Ambos têm personalidades fortes e não dão o braço torcer. São estas semelhanças providenciais que dão a liga na forte relação que se cria lembrando pai e filha. Ambos tem muito em comum. A vida não fora generosa com eles em seu meio familiar. Enquanto Frank sofre com o desprezo da única filha, Maggie é menosprezada pela sua família. Sua mãe egoísta (Margo Mantindale), a irmã golpista e o irmão malandro querem viver do dinheiro de sua profissão, mas tem vergonha dela. 

Frank e Maggie criam mais que um laço profissional quando a menina de ouro começa a ganhar fama. O talento de Maggie se sobrepõe a sua idade e com muita determinação, ela vai derrubando todas as adversárias até chegar a luta pelo título. Até chegar no momento crucial de sua vida e da vida de seu treinador, amigo e pai postiço. 

É neste enredo que o filme chama a atenção e ganha muitos pontos. Essa troca de interesses profissionais e profundamente pessoais dos personagens é bem delineada num roteiro maravilhoso escrito por Paul Haggis, o mesmo da miscelânea Crash, obra vencedora do Oscar de 2006. Roteiro esse cheio de cenas sensíveis e metáforas certeiras como a história de Maggie, seus irmãos e o cão que teve de ser sacrificado pelo seu pai. É interessante como o passado da personagem vem à tona de forma casual, sem o recurso previsível de flashbacks

A ascensão, glória e “queda” da menina de ouro, age também em momentos importantes protagonizados pelo veterano sempre ótimo, Morgan Freemam como Eddie Scrap, um ex-lutador de futuro promissor que perdeu a visão de um olho por conta de uma luta. Amparado pelo talento de Morgan, contemplado com o Oscar de melhor Coadjuvante, Eddie é uma peça fundamental na trama mesmo que não saia da Academia. É o responsável pela narração da história como sendo uma carta escrita para a filha de Dunn. É ele quem ajuda Maggie a convencer o amargurado treinador e é ele quem consegue defender a honra do carismático “Perigoso(Jay Baruchel), responsável pelo alívio cômico do filme.

Swank e Eastwood: parceria perfeita

Se Freemam brilhou com o texto leve carregado de ironia, Clint na direção não deixou a desejar com um trabalho formidável ao lado de Swank. O valentão mostrou versatilidade por trás e à frente das câmeras. Como diretor, venceu o Oscar, e como ator, concorreu ao mesmo, encarnando um personagem mais real, humano. Swank, atriz talentosa, mas de escolhas complicadas para a carreira, deixa fluir um carisma brilhante para sua personagem ora tão transparente, ora introspectiva em momentos de sofrimento em que as palavras são dispensáveis. Isso valeu também a Estatueta dourada. E olha que ela nem era a primeira escolha para o papel. Sandra Bullock desistiu após o atraso das filmagens. 

A química dos três atores e o talento de cada um ajudou na construção de personagens tão simples, mas ao mesmo tempo compostos. O bom ritmo do filme ditou as passagens de tempo e o decorrer de toda a essência da trama, não deixando que a simplicidade se tornasse banalidade, tendo um grande impacto nas sequências finais mais emocionantes. 

Para aqueles que pensam que o filme de Eastwood é um derivativo do popular Rocky, irá se decepcionar. Mesmo que o filme protagonizado por Stallone seja de grande apelo popular e um inquestionável contexto histórico, as comparações não cabem. A história é mais muito forte e com uma qualidade na trama dos personagens bem maiores que o vencedor do Oscar de 1977. Não é um filme que deixa cenas memoráveis como uma subida na escadaria depois de uma longa corrida. Não é um filme sobre a vitória no Boxe, e sim, sobre pessoas que vivem suas vidas esperando uma chance, buscando algo que as complete. A vitória neste caso não é subir na parte mais alta do pódio, conquistar o cinturão, e sim cada um vencer seus próprios limites, realizar. Quem viu, se realizou e jamais esqueceu!

Em tempo: Menina de Ouro foi o meu primeiro DVD que ganhei de meu irmão em 2005. É algo que marca realmente. Um presente de ouro! 

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