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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

X-Men Dias de um futuro esquecido: feito para não esquecer


X-Men Dias de um futuro esquecido 
(X-Men: Days of Future Past, 2014)
Direção: Bryan Singer
Elenco: James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Hugh Jackman, Patrick Stweart e Ian McKellen
Nota: 8

Filmes que tem os Heróis conhecidos como protagonistas no geral não têm uma grande preocupação de qualidade no roteiro, tramas mais caprichadas com uma construção de personagens. Afinal, para um fã no afã de ver sua paixão ganhando vida e poderes nas telas, nem conta se consiste ou não este devido capricho para honrar estas obras. Perguntem por que Superman de 1978 é reverenciado até hoje como um clássico e todos os filmes que o sucederam até o presente momento, nem chegam perto de sê-lo? Ou então por que Batman- O cavaleiro das trevas de Christopher Nolan fez um vencedor do Oscar em 2009? Nesses casos, nem precisa chegar perto de ser uma obra-prima, mas uma boa história contada e um roteiro que segue a coerência é o suficiente para satisfazer o espectador um pouco mais exigente. X-Men Primeira Classe de 2011 foi um deles. 

Lançado pelas mãos do diretor Matthew Vaughn, contou o início da saga dos “homens de Xavier”. Seu êxito apagou todos os erros cometidos pela primeira trilogia de Bryan Singer lançada em 2000. Em X-Men – Dias de um futuro esquecido, Singer e os mesmos roteiristas, não esqueceram o que elevou a saga dos mutantes dando continuidade à boa história anterior, que explorou uma identidade mais humana dos personagens míticos de heróis incompreendidos e temidos por uma humanidade preconceituosa. Charles Xavier (James McAvoy), Raven (Jennifer Lawrece), Erick Lehnsherr (Michael Fassbender) e Hank McCoy (Nicholas Hoult), para quem se lembra, foram bem trabalhados num roteiro funcional. 

Agora uniram os atores da primeira Trilogia de Singer com os de Vaughn e isso me impulsionou a querer pagar para ver. No futuro, os poucos sobreviventes liderados pelo Professor Xavier (Patrick Stewart) e Magneto (Ian McKellen) usam seus poderes para enviar Wolverine (Hugh Jackman) ao passado para deter Mística (Lawrence) que teria assassinado Bolívar Trask (Peter Dinklage), idealizador do Projeto Sentinela. O ato desencadearia um futuro apocalíptico para os mutantes, pois capturada, Mística e seus genes, seriam a arma perfeita do insistente Trask para tornar as Sentinelas imbatíveis exterminando quase todos eles. Se Mística matasse Trask, o Governo Americano entraria em pânico, ordenando o início do Projeto Sentinela. Aliás, estes robôs gigantes foram um show à parte, não apenas pelos efeitos especiais, mas também pela trilha sonora característica das personagens. Me senti em frente à TV ainda menina sentindo medo delas. 

A tática de se voltar ao passado para consertar algo no futuro não é nova e muito menos original, mas funciona se bem empregada numa trama convincente, explicada nos primeiros 20 minutos. No filme, Wolverine teria de convencer os jovens Charles e Erick, lendários por suas Filosofias diferentes acerca da interação com a humanidade, a trabalharem juntos. Tarefa complicada ainda mais quando o Herói com garras sem adamantium (um sub-trama interessante) encontra um Charles totalmente devastado pelas consequências da Guerra do Vietnã que minou sua Escola e a perda da amiga Raven para o ex-amigo e aliado Erick. E com a atenuante de estar sem poderes, já que um soro desenvolvido por Hank o faz andar, mas com este ônus. 

Contudo, o que era difícil se torna fácil graças a uma agilidade nociva no roteiro. Em pouco tempo, Wolverine convenceu Charles, que ajudou Erick a escapar de uma prisão por ter supostamente assassinado o Presidente Kennedy. A tensão dramática foi quebrada pelo curto espaço de tempo de uma ação e outra e ainda mais quando se tem cenas inúteis e enfadonhas de jovens engraçadinhos exibindo seus poderes para alegrar uma plateia teen. Lembrando que um dos pontos menos entusiasmantes da primeira Trilogia foi a enxurrada de figurantes de luxo que deixam pra trás histórias mal contadas. Sabemos que cada mutante tem seu poder em particular, no entanto, pra quem está longe de ser uma fã ardorosa devoradora de quadrinhos, é normal se sentir um pouco perdida. Nesse caso, o melhor é deixar a confusão acerca de poderes e se concentrar nos personagens mais relevantes e no objetivo principal de toda a história. 

O elenco, ponto positivo de Primeira Classe, segura bem um texto nada extraordinário, apenas eficiente. McAvoy e o talentoso Fassbender formam uma bela dupla antagônica dando suporte ao carisma eterno de Jackman e seu Wolverine e o talento reconhecido de Lawrence. Por outro lado, não há muito do que se dizer de Stewart e McKellen que pouco aparecem, assim como Ellen Page e Halle Berry, vencedora do Oscar, que nem estaria na trama se não fosse a preocupação pelas cifras nas bilheterias. O contexto histórico da Guerra do Vietnã bem como o assassinato do Presidente Kennedy também foi bem inserido naquilo que a saga X-Men tem de melhor. A questão da opressão e discriminação no caos político vivido pela sociedade americana de encontro com o medo que a humanidade tem do que é diferente. Tudo inserido no discurso final de Magneto que foi muito melhor e de mais impacto do que flutuar ao lado de um estádio de Futebol inteiro pelos ares. 

No clímax dramático na redenção de Mística, valeu o ingresso. Lawrence, formidável como de costume, deixou sua personagem fluir, e enfim, dividiu com Wolverine a relevância na história. A dualidade humana vista em Raven, uma jovem perdida que anseia por respostas e Mística, uma mutante corajosa em busca de vingança. Este conflito pessoal elevou a personagem, que merecia sim ter em suas mãos o destino dos mutantes, afinal, sua representação mórfica é muito alusiva às diferentes personalidades humanas.

Assim como existe a mensagem clara de X-Men, a coexistência pacífica apesar das diferenças, no cinema não é muito diferente. Se de um capricho maior com as histórias emergem produções interessantes como essa, por outro lado, o objetivo apenas de entreter ajuda a alavancar as bilheterias. Neste contexto, ambos são de suma importância para o cinema. Mas quando se tem uma ótima mescla dos dois elementos, ele se torna algo mais prazeroso de se assistir.

Dias de um futuro esquecido: aqui a "bagunça de mutantes"
serviu a seu propósito em todos os âmbitos

X-Men - Dias de um futuro esquecido desenvolve com mais maturidade a primeira sequência, especialmente entre Charles e Raven. Mas ambas produções cumprem bem o seu papel de esquecer os equívocos de X-Men, X-Men 2 e X-Men 3 - O Confronto final. O fim deixa pra trás mais indagações, que os mais otimistas chamariam de ganchos para o próximo capítulo da saga. A volta de Jean Grey (Famke Janssen), viva, Ciclope (James Spader), infelizmente vivo, e Vampira (Anna Paquin), que só aparece de relance quase imperceptível se juntam no chamado happy end ao lado de tudo como deveria ser na Escola Xavier. A cena pós-créditos - essa sim gancho mesmo – nos mostra um culto em meio as areias do grande deserto numa amostra arrepiante do que vem por aí. X-Men Apocalipse (título provisório) deve tentar aparar estas arestas. Ou não. Mas até lá, a mim só resta exaltar mais este êxito e deixar para trás amargas lembranças de um passado esquecido quando se trata de filmes do gênero. 

PS: Desculpem quem ainda não assistiu ao filme, mas penso que a estas alturas do campeonato não cabe se revoltar com spoilers.

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