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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Ben-Hur: Uma obra-prima que transcende o tempo e os limites do espetáculo!


Ben-Hur, 1959. Dirigido por Willian Wyler. Com Charlton Heston, Stephen Boyd, Jack Hawkins, Frank Thring, André Morell e Sam Jaffe.

Nota: 10

Já havia assistido a este filme épico algum tempo atrás. O idioma era em inglês, portanto eu o vi legendado. E convenhamos que uma obra que tenha quase 4 horas de duração, assistir tendo que ler as legendas, é um tanto quanto complicado e fatalmente caímos na armadilha de perder algum detalhe que possa ser grande para o total entendimento. Hoje, 5 anos depois, tive a oportunidade de revê-lo em nosso idioma e o fascínio continuou o mesmo. 

Primeiro sucesso do cinema a faturar 11 Oscar, Ben-Hur conta como a história do Cristo se fundamentou no embate antigo da linha tênue entre o ódio e o amor

“Um conto do Cristo.” Assim são abertos os créditos iniciais de um épico grandioso que traça um paralelo interessante entre dois personagens inesquecíveis dentro da história, cada qual a seu modo.

Judah Ben-Hur (Charlton Heston), um aristocrata judeu de grande influência econômica na Região, viu sua vida desmoronar após um incidente com o novo Governador do Estado da Judeia, que na época estava sob o Poder do Império Romano. Sua mãe Miriam (Martha Scott) e sua irmã Tirzah (Cathy O'Donnel) foram condenadas com ele injustamente a uma vida sub-humana nas masmorras romanas. A desesperança começou a transformar seu coração em uma rocha sólida à procura de vingança contra um inimigo inesperado.

O inimigo era o romano Messala (Stephen Boyd), após uma bem sucedida campanha pelo Império Romano, volta a Terra onde cresceu ostentando um posto considerável. Para fortalecer a dominação romana no território, Messala faz uma proposta ao amigo de infância. Ben-Hur teria de ajudá-lo na missão de restabelecer a ordem na região judaica que transpirava fanatismo religioso à espera do Messias. O romano rogava em nome da velha amizade para sustentar as muitas questões políticas da época. No entanto, Ben-Hur não concordava com os métodos nada ortodoxos do Império Romano para estabelecer esta ordem. Ele preferiu continuar sendo um judeu autêntico do que trair seu povo, mesmo em nome da amizade. Diante desta recusa, o oficial romano usa um incidente com o Governador como represaria. A casa de Hur era a mais forte da região, portanto, puni-la era como sufocar quem ousasse levantar a mão contra o poder de Roma. Assim começa a saga de Ben-Hur que passa a viver do ódio para alimentar sua força como escravo em um navio de Guerra. 

Enquanto isso, o Império Romano continuava sua saga de escravização e punições contra seu povo. A situação se tonara insustentável na Região e rebeliões dispersas eram facilmente sufocadas. Até que surgiu um filho de carpinteiro da região da Galileia, chamada Nazaré, que teria a missão de reunir o povo e marchar para a tão sonhada liberdade. Seu nome era Jesus e conduzia uma multidão de seguidores por todos os lados, proclamando o Evangelho com base no amor incondicional ao próximo em meio a muitos milagres. Seu nome ecoou tão forte que rapidamente foi denominado o Messias, ou seja, aquele que libertaria os filhos de Israel da opressão. Como consequência, tornou-se uma ameaça em potencial ao Sistema que imperava. O mesmo sistema que condenou Ben-Hur aos navios de Guerra. E foi lá que ele encontrou uma saída considerável para retornar e enfrentar Messala. 

Depois que um dos navios da frota é atacado por bárbaros, Ben-Hur liberta os escravos, além de ter tempo de salvar a vida do Cônsul Romano responsável pela missão. O espírito do escravo 41 havia chamado a atenção do Cônsul, que viu nele a mesma força de seu filho morto. Quintus Arrius (Jack Hawkins) adotou o escravo judeu como seu filho e voltaram triunfantes para Roma. Como o filho de um Cônsul ele teve a oportunidade de recuperar a sua e a Honra de todo seu povo por meio de uma tradicional corrida de Bigas. E o mais importante para ele. Se vingaria de Messala. Assim, se faz. Ben-Hur vence a corrida, recupera a dignidade e ainda descobre pelo amigo quase desfalecido o paradeiro real de sua família que considerava morta.

A corrida de Bigas: uma das cenas mais memoráveis
do cinema faz jus a sua fama de espetáculo
Após o duro golpe de saber que sua mãe e irmã contraíram Lepra, uma doença incurável nas prisões romanas, nele se desencadeia um sentimento que desconhecia até então. Nem mesmo o amor incondicional de Esther (Haya Harareet), tirou dele este desejo visceral. O Império Romano, entre tantos outros crimes, teria corrompido a alma de seu amigo. Sua sede de vingança só seria saciada com a queda do mesmo. A estas alturas, Ben-Hur era considerado o Redentor de seu povo depois de vencer Messala na corrida. O povo judeu o aclamava entre louros e aplausos. Naquela época, derrotar um romano na arena significava mostrar todo o poder dos outros homens. A fama e o poder consequente fortaleceram suas ambições de liberdade pelo poder da espada. Liderar uma rebelião a fim de terminar com a tirania em seu país. É neste momento que o filme ganha contornos espirituais com bases na figura de outro Redentor.

Dá para imaginar Jesus de Nazaré como apenas um coadjuvante numa história? Esta certamente foi a maior proeza do filme de William Wyler. Jesus não resplandece sua face na tela e muito menos menciona uma palavra sequer. Um relance de imagem é o suficiente para transcender sua presença no filme. Sua silhueta surge como o carpinteiro que se abaixa, humildemente, para saciar a sede de Ben-Hur caminhando na escravidão dos desertos. Um segundo encontro se faz quando o judeu retribui o gesto de caridade ao Cristo no caminho do Calvário.

Sem entender o porquê de aquele Homem Bom ter sido condenado à morte, Ben-Hur se viu na mesma situação tempos atrás. Ambos foram vítimas da injustiça. A diferença foi que enquanto o aristocrata pensou em usar seu ódio como arma, o carpinteiro pregou incessantemente o Amor como a única arma da verdadeira liberdade. Até mesmo nas horas de desespero, suas palavras serviram como alento a todos que ansiavam por esperança. O embate moral de Ben-Hur chega ao limite da condição humana, quando o lado obscuro de sua alma se esvai diante do milagre das últimas palavras proferidas por Cristo na cruz. “Pai, perdoai-lhes, pois eles não sabem o que fazem”. “Eles” a quem se refere é diretamente ao sistema que o condenou à morte. O mesmo sistema que assolava seu povo.

Sentindo o poder das palavras de Cristo, a redenção de Ben-Hur salva as vidas de sua mãe e irmã curadas pela fé. “E senti a sua voz tomar a espada de minha mão”. As cenas finais são de uma grandeza hipnotizante. E não apenas pela questão espiritual, mas como coesão de toda a obra de quase 4 horas num delinear perfeito entre os elementos mais primordiais do cinema. Nem mesmo os ainda precários efeitos visuais (especialmente nas sequências da batalha marítima) destoam de uma obra-prima tão rica que não precisa nos hipnotizar com efeitos nauseantes que vimos hoje em dia.

Conhecido por interpretar personagens reais, Heston surpreende num papel fictício e ao mesmo tempo tão real que lhe deu o Oscar de Melhor Ator. Tão surpreendente quanto ver um Jesus somente pelo poder de sua presença subjetiva. Tão surpreendente quanto um filme de ação tratar com tanta humanidade um tema relevante a qualquer época. Sentimentos que ditam os caminhos pela alma humana e obriga cada ser humano a escolher qual curva seguir. Como uma corrida de Bigas, tomar as rédeas de seu próprio destino. Este é o ideal da verdadeira liberdade.

Que a força de Ben-Hur e o espírito de Cristo estejam sempre conosco!


3 comentários:

  1. Parabéns pelo comentário.
    Acrescento ainda que a presença subjetiva como você disse, de Cristo no filme, o fez ficar ainda mais espetacular, pois se o diretor desse muito foco no personagem de Jesus, desviaria o filme do tema central e talvez ele se perdesse.Vale lembrar que no primeiro encontro de judah e cristo há um envolvimento de amor espiritual entre os personagens, esse episódio ditará toda a trama seguinte, onde a força de Deus ajuda até a frota romana na batalha e judah passa a ser o cristo com armas em busca de justiça.
    Obs:
    Assisti a Ben Hur quando eu tinha 16 anos no cinema em 1977 e no cinema é que se vê toda a grandiosidade desse que considero o maior épico e o maior filme de todos os tempos.



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    1. obrigada pela participação e muito pertinentes suas observações. É um épico sobre espiritualidade em meio a um tema tão brutal quanto a violência. Sorte sua de ter visto este filme nos cinemas. Que legal!

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    2. Muito obrigado também.
      Um abraço.

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