Visitantes

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A MAIOR DAS RELÍQUIAS

Ela nasceu de uma família de pais trouxas e desde criança já sofria uma espécie de bulling por ser diferente da maioria dos bruxos de Hogwarts. Pequenina, se encolhia num mundo permeado de livros, poções, e tudo mais que se possa existir para fazer de uma criança superdotada uma bruxa de verdade. Era tida como esquisita pela maioria dos colegas por justamente andar na contramão. De personalidade forte, nunca se deixou intimidar com as represarias. Sentia-se e de fato era, a mais brilhante aluna da Escola de Magia, deixando por algumas vezes emergir um ar de superioridade, até certo ponto de arrogância nas salas de aula. Ao optar por um isolamento de escapismo, a sensação de invulnerabilidade criou uma armadura de defesa em seu espírito. De toda esta matéria, fez-se Hermione Jean Granger (Emma Watson), a heroína da saga Harry Potter, e uma das maiores personagens da literatura e do cinema mundial.
A arte de defesa contra as trevas da ignorância e do preconceito foi sua aliada durante um bom tempo. E embora pudesse parecer que estava no caminho certo em se dedicar inteiramente aos estudos, no fundo de seu exílio particular, lhe faltava algo. A paixão não correspondida pelo colega Ronald Weasley (Rupert Grint) colocava em xeque toda sua onipotência. Desta paixão fez-se uma fissura na armadura, deixando-a irritantemente vulnerável. Com a chegada do famoso Harry Potter (Daniel Radcliffe) a Hogwarts, parte de suas necessidades foram supridas. A relação com Ron Weasley mudou de sentido, passando a se conhecerem melhor mediante os perigos que uma amizade com Harry possa acarretar.

Com o garoto que sobreviveu ao Lorde das trevas, desenvolveu uma mística parceria imprescindível para esta batalha. Uma parceria tão perfeita que traduz com exatidão a máxima de que para todo grande Herói existe aquele aliado fundamental. A pessoa que o ajuda a carregar o fardo que sua posição obriga. Clark Kent e Chloe Sullivan de Smallville e Frodo Bolseiro e Sam Wise Gandhi de O Senhor dos Anéis, são exemplos atuais do sucesso do entrosamento entre o Herói e seu chamado braço direito. Inclusive, Frodo e Sam seriam os personagens de J.R.R.Tolkien que teriam influenciado J.K.Rowlling a difundir os laços de amizade entre os poderosos bruxos, uma vez que a autora parece ter bebido da fonte de O senhor dos Anéis em algumas passagens de sua saga. Hermione estaria para Harry assim como Sam para Frodo. Contudo, para os fãs, não importa de onde veio a inspiração, pois o importante é o que esta inspiração trouxe de benéfico para eles. Hermione mostrou ter muito mais em comum com Harry que a inicial do nome, chegando a se equiparar, ou superá-lo em alguns aspectos por vezes. Harry dizia que Hermione seria uma bruxa muito melhor que ele, e ela, para retribuir a gentileza não se cansava de exaltar sua coragem. “Eu, livros e inteligência. Mas há coisas mais importantes. Amizade e coragem”, disse ao amigo certa vez.

Enquanto isso, Ron seguia à margem, relutando em ouvir a voz de seu coração, mesmo diante de cada façanha realizada por ela. De estranha em primeiro instante, Hermione passou a ser brilhante perante seus olhos do rapaz a cada vez que exibia suas “mágicas soluções” a fim de escaparem das inúmeras enrascadas que se envolviam. Com seu vasto conhecimento do mundo dos trouxas arquitetou fugas oportunas de um local para outro em frações de segundos. O que para a maioria dos bruxos seria uma fraqueza (não ser de sangue puro), para ela definia sua personalidade e deixava sua força mais evidente. É aí que se fundamenta a importância em ser diferente. Poder contribuir a seu modo na luta contra o Mal.

A coragem do menino Potter e o altruísmo do menino Weasley, só ganharam altivez com as qualidades latentes de Granger. Em cada desafio, a amizade entre eles se cristalizava. A jovem bruxa era o eixo principal que os unia. Ela estava sempre apostos toda vez que o perigo rondava seus amigos. Sua lógica perspicaz, sua notória inteligência, coragem onipresente, dedicação inflexível aos estudos, força de caráter singular, se acentuaram consideravelmente com o passar dos anos. Tudo isso mediante a um propósito: tornar-se o pilar inabalável de Harry Potter em sua Guerra contra Voldemort. Foi os olhos do amigo, guiando-o pelas mãos por diversas vezes em cada sequencia. O escudo que o protegeu de um terrível destino. Se tivessem sido criados por J.R.R.Tolkien, se veriam juntos numa jornada igualmente perigosa, com o menino bruxo afirmando: “Harry não teria chegado tão longe sem a Hermione”. Como reafirmou Ron Weasley de J.K.Rowlling, “A gente não ia durar dois dias sem ela”. E o ruivinho nenhum dia a mais sem ela. O casal fofo da saga finalmente se acertou mediante ao perigo eminente do fim do mundo. Conseguiram fundir a admiração dele para com ela, e o amor dela para com ele.

Mais que uma peça fundamental na batalha do Bem contra o Mal em Hogwarts, Hermione Granger é um típico modelo de heroína atípica, dotada de qualidades notáveis e defeitos aceitáveis. Uma personificação mais que perfeita da amizade incondicional, lealdade catedrática e do amor sublime. Três das maiores Relíquias da Vida de Hermione Granger. A maior das relíquias de Harry Potter.


A OITAVA HORCRUX NO CAMINHO DE HARRY POTTER

É ingrata e perigosamente propensa a erros a missão de adaptar uma obra literária. Perante este desafio, diretores e produtores de cinema tendem a ter cautela e discernimento a obter o mesmo êxito dos livros. É preciso fazer com que o público virgem das páginas, tenha acesso à sua história por meio das telas, mesmo que na forma adaptada. Impedir que todos sintam a necessidade de sair dos cinemas para uma biblioteca mais próxima a fim de entender o que viram.

Sucessos de público e crítica nos últimos tempos, filmes como O Código da Vinci e O Senhor dos Anéis são exemplos extraordinários de que uma boa adaptação literária pode também se tornar um grande sucesso cinematográfico. Ambos transpuseram para as telas a mesma emoção dos livros, criando uma forma de entretenimento bem acessível àqueles que não se dispõem a se enveredar pelos caminhos das páginas. É possível apreciar a estes filmes sem nem sequer ter ouvido falar em Dan Brow ou J.R.R.Tolkien. Este é o chamado público leigo, ou seja, aqueles que apenas desejam assistir a um bom entretenimento, sem a obrigação de conhecer a fundo suas origens. Uma fórmula que costuma funcionar bem quando a preocupação em realizar obras de qualidade supera o fato de ter que repetir a qualquer custo (lê-se: lucrar) o sucesso dos filmes anteriores.

Fenômeno criado pela escritora J.K.Rowlling, Harry Potter parecia deitar eternamente em berço esplêndido desde seu primeiro longa até que o passar dos anos trouxeram um sucesso tão imenso que o poder das telas mutilou o poder das páginas. Nestes quase 10 anos o fenômeno atingiu as salas de projeção tão rapidamente quanto aparatar de um local para outro. E foi justamente isto que fez com que as últimas sequências deixassem a desejar. A pressão dos grandes estúdios com contratos sumariamente assinados culminou com a falta de tempo hábil para realizar com mais “capricho” os filmes que viriam a fechar as lacunas deixadas pelos antecessores.

Os protestos dos fãs tornaram-se constantes, diante de uma adaptação equivocada ou de um proeminente adiamento da data do último filme. Além disso, detalhes primordiais para o fechamento da saga se perderam em meio a roteiros condensados, muitas cenas de ação e de pouca relevância.

Uma adaptação não condizente com as páginas dos livros é um fato bem aceito, pois se trata de licença poética ou pura necessidade dos produtores. Mas quando forças maiores do que a arte interferem de maneira nociva no bom andamento de uma obra é de se lamentar. Assim, a fase mais madura da vida de Harry Potter e seus amigos (certamente a mais interessante), permaneceram na penumbra de um emaranhado de “como assim?” e “porquês” para quem leu os livros. Já para quem nunca tiveram em mãos as aventuras literárias do menino bruxo, sentiu-se perdido em alguns momentos assistindo aos capítulos derradeiros da maior franquia do cinema.

O ápice da saga, o mais esperado, aquele que finalmente traria as respostas almejadas, decepcionou seu vasto público depois de tanto tempo de espera. Harry Potter e as Relíquias da Morte – parte 2 já nasceu com a expectativa de ser o melhor de todos eles. Aquele que fecharia magistralmente a fascinante história de K.Rowlling. No entanto, as muitas sequências infundadas do thriller, a desvalorização de alguns dos personagens relevantes da saga, a confusão em relação à associação das Relíquias da Morte com as chamadas Horcruxes, transformaram toda a expectativa em frustração. Equívocos que respingaram até no embate final entre Harry e Voldemort. O poder do personagem soberbamente interpretado por Ralph Fiennes se esvaiu bem antes do esperado confronto, como ressalta Preview: “O personagem de Ralph Fiennes amedronta menos que sua cobra gigante assustadora”. Uma pena!

Se a última sequência do Lorde das Trevas foi sonolenta e sem empolgação, então o que dizer do fim da tresloucada Bellatrix Lestrànge (Helena Bonham Carter)? Uma das grandes vilãs da trama, a perversa prima de Sirius Black (Gary Oldmam), não merecia um fim tão patético. Vamos precisar do feitiço de Obliviate para esquecer a cena brindada com um erro de continuidade gritante! No fim de tudo, mais surpresas. Ruins, claro. A sequência final do trio de Heróis bruxos, regada a casamentos e herdeiros, transformou o filme em uma boa novela.
Harry Potter e as Relíquias da Morte – parte 2 só não foi uma decepção maior por conta da esplêndida atuação de Alan Hickman como o indecifrável Severus Snape. O intérprete do rabugento professor de Hogwarts roubou merecidamente, todos os holofotes para si, equilibrando perfeitamente as forças de seu personagem.

Seja por meio dos livros ou pelas telas do cinema, o público que aprecia uma boa forma de entretenimento, busca sempre pelo melhor. E merece o melhor. Obras adaptadas devem ter a missão de antes de tudo, agradar o espectador em todos os níveis. Esta missão só se dá com exatidão quando se preocupam em fazê-lo com paixão pela arte e não visando apenas os enormes frutos que contratos milionários podem gerar. Uma Horcrux poderosa, onde se oculta a parte mais soturna da alma do cinema. Tão poderosa que nem o famoso Harry Potter pôde destruir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário