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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A Árvore da Vida (2011)

The tree of life, 2011. Dirigido por Terence Mallick. Com Brad Pitt, Sean Penn e Jessica Chastain.

Nota: 9.4

Muitos se assustam quando se deparam com a narrativa não-linear, com simbolismos e alegorias que pipocam a todo momento nas pouco mais de duas horas do filme A Árvore da Vida, escrito e dirigido por Terrence Mallick. E não para menos, o diretor destila todo seu potencial e cria uma obra de sensibilidade única, inspirada em grandes mestres, para contar uma história que vai da agonia da culpa ao extase da expiação. Com fotografia incrível, o filme carrega apenas um defeito, ser direcionado a olhos sensíveis a um cinema fora do comum.

Se em Além da Linha Vermelha (1998) Mallick trabalhou com elementos mais comuns ao cinema americana "convencional", com o diferencial de montar um filme com uma linguagem mais lírica e lenta para um exemplar de guerra, retratando os temores e terrores de quem viveu a terrível experiência nos campos das ilhas da indonésia. Se tornou cult movie e bateu de frente com O Resgate do Soldado Ryan (1998), de Steven Spielberg. Nesse longa, o diretor buscou os conflitos internos que atormentavam os combatentes, sob uma ótica contrastantes com o show pirotécnico, e excepcional, do filme de Spielberg.

Para quem pretende entender a expansão alegórica de A Árvore da Vida, tem de se ao menos ter aguentado a lentidão de seu filme anterior. Apesar de assemelhar-se em condução, a construção filmica se tornou muito mais tênue e complexa. Em um primeiro ato, o texto direciona o expectador para a reflexão maniqueísta do equilíbrio humano, emendando à questões transcendentais quanto ao temor a Deus. Poucas palavras salpicam e resumem a agonia que consome o personagem, e começam a desenrolar a trama no que seria seu ápice.

O momento mais extraordinário, e um tanto subjetivo, do filme é sua analogia temporal, que leva o público através dos tempos na busca por uma explicação para as questões levantadas nas sequências anteriores. Talvez só o próprio Mallick compreendesse essa sequência, ou então fosse sua intenção deixar cada um tirar suas próprias conclusões. O mesmo Stanley Kubrick havia feito em 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968), só que as ferramentas que ele utilizou durante todo o filme, do recorte temporal no início ao infinito na sequência final, proporcionou um entendimento menos nebuloso quanto ao de Mallick.

Apesar de ousada, o mecanismo de "viagem no tempo" não é nenhuma novidade. Este estilo pode ser visto em Adaptação (2002), de Philip Kauffman, onde sua narrativa também engloba dramas existenciais, porém com um concepção mais humor-negro, e bem menos complicada. Mas o que torna A Árvore da Vida uma obra com requintes de prima, é o teor intimista, Com uma fotografia impressionante, possivelmente vencedora do próximo Oscar, e que arranca de Brad Pitt sua melhor interpretação.

Ainda sobre Pitt, quanto mais sua imagem se distancia de um deus helênico, mais seu talento ganha destaque. Sua atuação como o pai rígido e depois arrependido, emana antipatia e compaixão, o que prova a competência com que incorporou o personagem. Sua companheira, Jessica Chastain, pinta como a grande sensação do ano, já que além da boa atuação nesse longa, emplaca outra excelente participação em Histórias Cruzadas (Help, 2011). A ruiva, além de ser fisicamente semelhante a australiana Cate Blanchett, seu início mostra que tem talento para um dia ser como ela atuando.

Por fim, não nada de mais no filme de Terrence Mallick. É apenas uma discussão intrínseca, muitas vezes transcendental, do ser humano. Uma visão lírica de um assunto comum a qualquer um. Para quem não consegue entender o contexto, é só experimentar assistir novamente, e ao contrário do que dizem a respeito, não se trata de uma produção voltada para quem se acha culto e com uma capacidade maior que os outros. É apenas um filme que exige atenção, em todos os elementos que compõe o cenário, para só assim poder se identificar com a trama, e então, entendê-la.

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