No último dia 22, fez 30 anos de morte de um dos maiores artistas da nossa história. Glauber Rocha, cineasta revolucionário, criou uma linguagem única, uma mescla de crítica social e alegorias literárias. Tornou-se um ícone da cinematografia mundial, inspiração para obras de cineastas de importância singular para a criação do cinema ao qual conhecemos atualmente.
Um fato é inquestionável. A originalidade de sua temática revolucionou, porém muita gente torceu o nariz para sua obra. Se bem que seus filmes são de difícil entendimento, principalmente para os olhos menos críticos. A linguagem tensa e lírica, de sequencias formidáveis (principalmente em Deus e o Diabo na Terra do Sol, 1964), se tornaram uma vanguarda brasileira. Foi o expoente de uma época em que nosso cinema era respeitado mundo afora, o chamado Cinema Novo.
Entender a obra de Glauber vai muito além de perder finais de semana à frente da TV assistindo filmes da Nouvelle Vague, ou se remoendo em tentar compreender a obscuridade lenta e aterradora de Bergman. É diferente, pois o baiano se tornou um avatar de uma era de hibernação forçada da cultura popular. Criou-se de uma necessidade de expressão de uma sociedade refém de um regime que censura e deportava. Viveu uma fantasia realística, aonde entender sua ideologia depende do entendimento do mundo em que viu em sua época.
Julgá-lo chato e psicótico, criador de non senses teóricos, é válido e perdoável para quem assiste a algum de seus exemplares. É difícil para qualquer especialista em cinema compreender Glauber. Sendo assim fica muito mais fácil odiá-lo. Um filme como seu derradeiro A Idade da Terra (1980), pode ser considerado seu pior trabalho pelo teor claustrofóbico que carrega nos discursos escalafobéticos. Entretanto, se lermos uma biografia, ou abrirmos o Google para ver diversos pontos de sua vida e obra, percebe-se que pode ser simplesmente um testamento melancólico de um artista a frente de seu tempo.
Os mesmos que dão de ombros para o diretor, são os mesmos que babam pelos exageros brilhantes e nostálgicos de Truffaut, ou batem palmas para a arrebatadora realidade em que trabalha Martin Scorcesse e nem param para pensar que tem muito de Glauber em suas obras. Podem até não gostar de seus filmes, mas diminuir seus feitos e contribuições para o nosso cinema é de fato inaceitável. Se hoje exaltam a habilidade de criar absurdos inebriantes de Von Trier, é por que não conhecem Rocha, ou simplesmente por que brasileiro tem mania de não reconhecer o talento de seus conterrâneos.
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