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terça-feira, 30 de agosto de 2011

A difícil arte de entender Glauber Rocha


No último dia 22, fez 30 anos de morte de um dos maiores artistas da nossa história. Glauber Rocha, cineasta revolucionário, criou uma linguagem única, uma mescla de crítica social e alegorias literárias. Tornou-se um ícone da cinematografia mundial, inspiração para obras de cineastas de importância singular para a criação do cinema ao qual conhecemos atualmente.

Um fato é inquestionável. A originalidade de sua temática revolucionou, porém muita gente torceu o nariz para sua obra. Se bem que seus filmes são de difícil entendimento, principalmente para os olhos menos críticos. A linguagem tensa e lírica, de sequencias formidáveis (principalmente em Deus e o Diabo na Terra do Sol, 1964), se tornaram uma vanguarda brasileira. Foi o expoente de uma época em que nosso cinema era respeitado mundo afora, o chamado Cinema Novo.

Entender a obra de Glauber vai muito além de perder finais de semana à frente da TV assistindo filmes da Nouvelle Vague, ou se remoendo em tentar compreender a obscuridade lenta e aterradora de Bergman. É diferente, pois o baiano se tornou um avatar de uma era de hibernação forçada da cultura popular. Criou-se de uma necessidade de expressão de uma sociedade refém de um regime que censura e deportava. Viveu uma fantasia realística, aonde entender sua ideologia depende do entendimento do mundo em que viu em sua época.

Julgá-lo chato e psicótico, criador de non senses teóricos, é válido e perdoável para quem assiste a algum de seus exemplares. É difícil para qualquer especialista em cinema compreender Glauber. Sendo assim fica muito mais fácil odiá-lo. Um filme como seu derradeiro A Idade da Terra (1980), pode ser considerado seu pior trabalho pelo teor claustrofóbico que carrega nos discursos escalafobéticos. Entretanto, se lermos uma biografia, ou abrirmos o Google para ver diversos pontos de sua vida e obra, percebe-se que pode ser simplesmente um testamento melancólico de um artista a frente de seu tempo.

Os mesmos que dão de ombros para o diretor, são os mesmos que babam pelos exageros brilhantes e nostálgicos de Truffaut, ou batem palmas para a arrebatadora realidade em que trabalha Martin Scorcesse e nem param para pensar que tem muito de Glauber em suas obras. Podem até não gostar de seus filmes, mas diminuir seus feitos e contribuições para o nosso cinema é de fato inaceitável. Se hoje exaltam a habilidade de criar absurdos inebriantes de Von Trier, é por que não conhecem Rocha, ou simplesmente por que brasileiro tem mania de não reconhecer o talento de seus conterrâneos.


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