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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

OS PODERES E AS FRAQUEZAS DE UMA ADAPTAÇÃO

Voar, correr na velocidade da luz, escalar paredes, ter uma força sobre-humana e um corpo invulnerável. Quem quando criança não sonhou em ter, pelo menos, uma vez na vida estes poderes? Pois bem, estes poderes sintetizam a força de todo grande super-herói que se preza. Os poderes físicos aliados à força do caráter e a inclinação para valores do Bem e da Justiça, fazem do homem um herói. Eles sempre aparecem no momento que a humanidade mais necessita. Foi assim, assim vem sendo e assim será até os fins dos tempos. É uma resposta ao clamor de uma sociedade fragmentada por valores opostos. Um poder que se originou dos quadrinhos e se estendeu pelas telas do cinema. Desde a primeira adaptação modesta até os catatônicos efeitos visuais de hoje, os heróis mascarados e sobre-humanos são presença constante na grade de produções cinematográficas anuais.

O primeiro grande filme de um ícone dos quadrinhos aconteceu em1978. No papel do Super-Homem, o ator Christopher Reeve, se firmou como um ídolo do cinema em todos os tempos. O ator conseguiu imprimir uma fusão perfeita entre o atrapalhado repórter do Planeta Diário e o incrível Herói por detrás de seus óculos. Super-Man, o filme, contou além de um elenco estelar, com um premiado roteirista. Gene Hackman (Lex Luthor), Margot Rider (Lois Lane) e Marlon Brando (Jor-El) receberam o suporte de Mário Puzzo, de O Poderoso Chefão. A história é tradicional: um menino exilado pelos pais que salvam sua vida após a explosão de seu planeta de origem. Na Terra, ele tenta se adaptar a vida humana. Tudo sob aval dos responsáveis pelos efeitos visuais de Guerra nas estrelas. Eles fizeram o homem voar aos olhos extasiados dos fãs.

Tamanho investimento não teria outro resultado além de um sucesso de bilheteria e o fato de entrar definitivamente na galeria dos filmes mais importantes da história cinematográfica. Depois vieram outras três sequências totalmente dispensáveis. Ele retornou as salas de cinema em 2006 com Superman, o retorno. O filme, com a assinatura de Bryan Singer, nem de longe lembra do original, trazendo agora o introspectivo Brandon Houth no papel principal. A história se constituiu fraca ao mostrar a vida de todos na Terra sem a presença do Herói cinco anos exilado. De volta, ele descobre que sua amada Lois Lane está casada e é mãe de um lindo menino, fruto de sua relação com ele. Nem a presença do extraordinário Kevin Spacey como o vilão Luthor, tirou a impressão de estarmos assistindo a uma novela mexicana das piores sem a necessidade da Kryptonita.

Outro homem capaz de voar, só que com o auxílio de suas poderosas teias também ganhou sua adaptação. Em 2001 quando o tímido Tobey Maguire vestiu a roupa do Homem-Aranha, ele direcionou suas teias para o sucesso. No filme, Peter Parker, um adolescente tímido que quase não é percebido por seus colegas de classe e pelo grande amor de sua vida Mary Jane (Kirsten Dunst), torna-se, através da mordida de uma aranha radioativa, o Herói alpinista que hoje conhecemos. A mutação não só afeta seu lado físico como também o emocional. E coube ao ator Wiliam Dafoe a missão de fazer do doentio Duende Verde seu terrível antagonista nesta primeira aventura. Missão que seria dois anos depois passada para Alfred Molina como o Dr. Octopus. Se o primeiro longa foi um sucesso de público, o segundo foi de crítica, baseando-se num roteiro bem definido e em cenas de ação impecáveis. Seguindo no embalo do sucesso, prometeram fazer de sua sequência a melhor da trilogia. No entanto, o aguardado Homem Aranha 3, não passou de promessa e marketing bem feito.

O filme foi um fracasso em todos os sentidos. Quem viu não entendeu a natureza de um roteiro rocambolesco recheado de vilões mal aproveitados para todos os lados. Harry Osborne (James Franco) herdou do pai a prancha voadora e partiu para vingar sua morte tornando-se o Duende Macabro. Enquanto isso O Homem de Areia aterrorizava a cidade depois de se tornar o responsável pela morte de Tio Ben e ganhar os poderes acidentalmente. Mais tarde, o próprio Homem Aranha. Graças a um estranho material químico alienígena que em contato com o corpo humano desperta nos homens seus mais primitivos e nocivos instintos. Cheio de autoconfiança, o contido Peter Parker se transforma num conquistador inveterado ao mesmo tempo em que o Herói se torna Venon, sua outra personalidade, considerado por nove entre dez fãs do aracnídeo como seu maior rival. Uma vez que a ambiguidade do Herói torna sua história espetacular pelo menos nos quadrinhos. Todos estes vilões se chocaram num filme curto demais para contar de forma mais crível suas histórias. Assim podemos afirmar que todos renderiam, separadamente, inesquecíveis sequencias.

Quando as portas da Escola Xavier para superdotados se abriram em 2000, causou uma grande expectativa em torno de seus fãs. Afinal, adaptar para o cinema as histórias dos famosos mutantes seria uma tarefa nada fácil. Uma trilogia da saga já estava confirmada. E ao julgar pelos três filmes, melhor seria que as portas tivessem fechadas. X-Men de Bryan Singer mostrou como o cotidiano da Escola foi abalado com a chegada de novos mutantes. Destaque para o truculento Wolverine incorporado com uma competência assustadora pelo australiano Hugh Jackman e a mutante Vampira, papel da vencedora do Oscar Anna Paquin. Como não poderia deixar de ser, o imponente Magneto de Sir Ian McKellen foi o líder antagonista da história da Guerra entre humanos e mutantes. O gênio da revolução mutante tentou usar os poderes da jovem novata com o objetivo de transformar toda humanidade em mutantes. Nem mesmo a presença da estrela e também vencedora do Oscar Hally Berry, diga-se de passagem, apagadíssima como a mutante Tempestade, conseguiu suprir o desejo dos fãs. O filme até foi uma boa sequencia de ação para os leigos, ou seja, quem nunca esteve a par da história dos mutantes. Já para seus verdadeiros fãs, foi uma tremenda decepção.

X-Men 2 é a síntese dos filmes do gênero com muita ação, efeitos especiais e pouquíssimo conteúdo. Uma confusão de personagens e histórias tão dispensáveis quanto à interpretação de seu bom elenco. No final de nada, a morte de Jean Gray anuncia o nascimento da Fênix, um dos maiores e mais temidos vilões da saga. Assim como Venon, a Fênix também muda a personalidade de sua persona. A diferença é que enquanto o primeiro tem uma fonte física, a outra é emocional e se encontra na psique de Gray. E assim como Venon, sua história foi decepcionante. Em X-Men 3 a poderosa mutante classe 5 foi reduzida a um mero capanga de Magneto em sua luta megalomaníaca contra os homens. E como isso já não bastasse para tornar o filme ultrajante, ainda criaram uma vacina, uma espécie de “cura” para a mutação genética, aniquilando o verdadeiro propósito da saga X-Men.

O suporte de apoio às diversidades humanas. Além de vitimar nomes de suma importância para a causa como Mística, Vampira e Magneto. Sem falar no inchaço de personagens que deixou muita gente que acompanhou a história desejando ter superpoderes de escrever algo menos repulsivo. Mas nada se compara a falta maior de não ter inserido, nem ao menos em menção, o maior de todos os mutantes, o quase invencível Apocalipse. Algo que, no universo X-MEN é mais que ultrajante, é inadmissível!

Embora a trilogia tenha deixado e muito a desejar, devemos considerar o nível de complexidade de se adaptar para as telas a história dos mutantes, dada a complexidade dos próprios personagens. Algo que está para ser corrigido com a promessa de mais uma trilogia da saga. Então o que fica desta trilogia mutante são filmes bem feitos voltados ao entretenimento de quem nunca teve nas mãos uma revista em quadrinhos.

O mais humano dos heróis também teve sua presença inserida no mundo do cinema. Em cada sequencia o vigilante noturno mais querido dos quadrinhos teve de enfrentar seus mais terríveis inimigos. Em Batman ele combateu o esplêndido Coringa de Jack Nicholson. O multifacetado ator ofuscou tanto a estrela do protagonista, vivido por Michael Keaton, que acabou sendo indicado ao Globo de Ouro naquele ano. Batman, o retorno marcou o retorno de Keaton ao papel principal, mas não ao sucesso. O filme foi um fracasso ao trazer a gata Michelle Pfeiffer como Mulher- Gato e um deformado e repugnante Dany De Vilto como Pinguim. Deixando todos literalmente numa gelada.

Depois veio Batman Eternamente que trouxe Val Kilmer no papel principal. Aqui ele ganhava um parceiro na luta contra o crime. O queridinho do momento Cris O’ Donnell assumiu o papel do malabarista Robin enquanto o veterano Tommy Lee Jones emprestou seu rosto ao vilão Duas Caras. O espevitado Jim Carrey se esbaldava como Charada enquanto a bela Nicole Kidman sofria em suas mãos como a mocinha da trama. Com uma produção amadora, roteiro obsoleto e um elenco recheado de estrelas no auge da canastrice, o filme se eternizou como um dos piores da história.

Batman e Robin trouxe novamente O’Donnell e seu colam no elenco agora ao lado do então Rei da Canastra George Clooney como seu eterno parceiro. O valentão Arnold Schwarzenegger numa atuação tão risível quanto o filme no papel do vilão Mr. Frese. Uma Turmam e Alicia Silverstone lideraram o elenco feminino. A primeira como a sensual Era Venenosa e a segunda no papel da sobrinha do mordomo Alfred que decide se juntar a dupla de heróis no combate ao crime. Difícil mesmo foi combater o maior vilão do longa, a péssima qualidade do filme.

Finalmente para o bem de todos amantes do cinema, estas tristes páginas da história se encerraram quando em 2005 o diretor Christopher Nolan decidiu homenagear o herói de capa preta de uma maneira mais condizente a seus fãs. Veio Batman Begins, que contou a história de como o menino órfão se transformou no Homem Morcego. Para viver o "Herói solitário" Nolan convocou o talentoso Cristian Bale, que vestiria novamente a capa e o cinto de utilidades em 2009 com o aguardado Batman – o cavaleiro das trevas. Em ambas as produções o diretor esqueceu os percalços das anteriores e transformou suas sequencias em cinema de verdade ao tratar com seriedade suas histórias. Ao começar pelo elenco de atores tarimbados emanando credibilidade a cada cena.

Enquanto Begins trazia Michael Caine como o mordomo Alfred, Cavaleiro das trevas o substituiu por Morgan Freemam e nos apresentou um dos maiores algozes da história do cinema atual. Heath Ledger incorporou de maneira assombrosa o vilão Coringa, trucidando a interpretação de Nicholson no mesmo papel anteriormente. Tanto que Ledger levou para casa o Oscar. Batman – o cavaleiro das trevas foi a prova de que quando se leva o cinema a sério, independente de qual história ou gênero que possa pertencer, o reconhecimento é uma consequência mais que positiva. O filme de Nolan é o melhor já feito para homenagear um ícone dos quadrinhos ao tratar o Herói da capa preta como ele é. Um homem despido do Herói sobre-humano.

Em suma, a missão de adaptar para as telas uma história que nos quadrinhos se torna imutável por uma legião de fãs, é algo que exige uma séria e mais contundente reflexão da parte de quem tenta levar adiante este projeto. A inovação só é uma coisa positiva quando se tem comprometimento de contar uma boa história por meio de uma boa produção. Ou então teremos de assistir a coisas dispensáveis do gênero como Quarteto fantástico e o Surfista prateado ou um Lanterna Verde totalmente fora de suas raízes negras.

Se no universo dos quadrinhos, heróis e vilões tem um lado definido, na vida real e no mundo do cinema esta escolha fica a cargo do espectador, já que existe espaço suficiente para agradar a dois tipos de público. Aos que preferem o cinema de entretenimento ou aqueles que optam pelo cinema de reflexão. Não importa o lado que você venha a escolher desde que seus valores morais tenham como base os destes importantes personagens fictícios que a tanto nos fascinam incondicionalmente. Que possamos nos valer de seus poderes e esquecer suas fraquezas. Pra isso você nem precisa voar, correr na velocidade da luz ou escalar paredes.

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