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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Trilogia A Múmia: diversão e qualidade em ordem decrescente

Quando em 1999 emergiu dos sarcófagos do mundo mais uma aventura hollywoodiana, muitos apostavam que seria um remake dos famosos filmes de terror da década de 30 estrelados por Boris Karloff. Mas logo o que era terror, tornou-se um excelente blockbuster, e as comparações foram outras. A caracterização de um herói irresponsavelmente charmoso chamado Rick O’Connel (Brendan Fraser) lembrou o mítico Indiana Jones de Harrison Ford. Esta comparação no entanto, não diminuiu a essência da obra dirigida por Sthepen Sommers. Pelo contrário, só fez valer ao menos o interesse do público saudoso das aventuras do eterno Indy. 

Rick era o tipo perfeito de Herói. Bonito, corajoso e divertido, com o carisma lá nas alturas. Tudo o que precisava o oficial-Chefe de uma Expedição no Egito. Depois do fracasso de sua expedição com os americanos em 1920, ele ficou anos preso como um vagabundo qualquer. Contudo, com um segredo que mudaria pra sempre sua vida e a dos irmãos Canarhan, estudiosos da cultura egípcia. Ambos descobrem que Rick sabe a localização da lendária Hamunaptra, a chamada Cidade dos Mortos, que segundo a lenda esconde riquezas dos antigos faraós. A história chama a atenção da linda bibliotecária Evelyn Carnahan (Rachel Weisz), que segue seu irmão Jonathan (John Hannah) na possibilidade de enfim, encontrar a cidade. Eles chegam até Rick e o salva da forca em troca do aventureiro guia-los até as areias de onde escapou com vida. 

Além das riquezas mencionáveis, Hamunaptra esconde também segredos inomináveis e um deles, é a maldição da Múmia. Segundo a lenda, contada na poderosa introdução do filme, Imhotep (Arnold Voslo), o Sumo Sacerdote do Faraó Set I (Aharon Ipalé) envolveu-se romanticamente com a sua escolhida Anck-su-Namun (Patricia Velásquez). Para viver este amor proibido, os amantes planejaram se livrar do Monarca e assim o fizeram. Contudo, o plano não saiu como esperavam e Anck-su-Namun acabou sendo morta pela Guarda do Faraó e Imhotep condenado nesta e na outra vida. Ele sofrera o Hom Dai, o pior dos castigos, sendo amaldiçoado como o homem que jamsi descansaria e que se ressuscitasse traria consigo as pragas do Egito. E é exatamente o que acontece quando o grupo de Evelyn e de expedidores americanos encontram o livro dos mortos e invocam a Múmia/Imhotep, que não descansa até cumprir toda a descrição da maldição. Coube então a Rick, Evelyn e cia encontrar um meio de devolver a Múmia a seu túmulo infernal impedindo-o de trazer as trevas ao mundo e ressuscitar sua amada Anck-su-Namun. 

A Múmia foi uma das maiores surpresas daquele ano. O filme faturou o que muitos não esperavam com uma aventura, mesmo não sendo original, bem roteirizada entre personagens carismáticos e marcantes o suficiente para ter uma segunda sequência em 2001 trazendo o retorno de Imhotep e Anck-su-Namun, agora na figura de sua descendente que chefiou uma escavação com o intuito de libertar Imhotep para impedir um segundo reinado do Escorpião Rei (Dwayne Johnson). Segundo a lenda, também introduzida, o guerreiro teria recebido poderes especiais do Deus Anúbis para completar sua missão de conquistar o mundo através da violência. Após terminar sua jornada, Anúbis cobrou seu preço, tomando a alma do guerreiro, que se fosse trazido a vida novamente, ressuscitaria também o seu Exército das trevas. Mas poucos sabiam que a descendente de Anck-su-Namun queria mesmo era tornar-se de corpo e alma a amada de Imhotep e juntos trazer o terror e desolação ao mundo.

Evelyn e O'Connel e seu primeiro encontro com a Múmia:
início de uma boa história

O retorno da Múmia perdeu um pouco do encanto impactante da primeira sequência nos apresentando mais do mesmo. Personagens parecem não ter evoluído e sim apenas existido por anos. Dez anos depois, o casal Rick (Fraser) e Evelyn (Weisz) agora são pais de um moleque espevitado Alex (Freddie Boath), que entre outras travessuras, colocou no pulso o bracelete de Anúbis. Capturado pelos vilões, Alex os levaria até o Deserto no Oásis de Ham-Sher, onde se desenvolveu as batalhas mais emocionantes entre heróis e vilões. Mas até chegar a este momento, foram muitos minutos com a sensação de dejavu da primeira parte, inclusive nos bons efeitos especiais. Deve ser por isso que o filme arrecadou uma bilheteria satisfatória mesmo enterrando de vez qualquer possibilidade de vermos Imhotep e Anck-su-Namun novamente. A terceira aventura agora seria em outro país, a lendária China e sua mitologia. 

A Múmia: Tumba do Imperador Dragão estreou em 2008 e como seus antecessores foi muito bem nas bilheterias, porém distante de ser tão rico e divertido. Coube aos roteiristas Alfred Gough e Milles Millar da consagrada série Smallville o roteiro da trama. Acostumados com o público jovem como alvo, eles não economizaram na dosagem para dar ao contexto da história um ar mais jovial. A começar pelo grau da importância dada aos protagonistas da trama. Saem o casal O’Connel, e entram o filho Alex (Luke Ford) agora crescido e jovem Lin (Isabella Leong). Não que Rick (Fraser repetindo o papel) e Evelyn (agora representada por Maria Bello) sejam meros coadjuvantes, mas foi notório a passagem, ou tentativa, de passagem do bastão. Essa mudança certamente foi um dos fatores que emperraram o filme. Embora Fraser tenha conseguido emplacar seu carisma novamente mesmo com seu herói envelhecido, e Bello defendendo com muito mérito o papel de Weisz, não se salvou a trama. O carisma dos personagens originais esteve inalterado enquanto os jovens não conseguiram nem arranhar tal feito. Aliás, Bello deu a Evelyn um tom correto depois de anos e esteve longe de ser a responsável pelo fiasco como foi injustamente massacrada pela crítica. O problema estava na espinha dorsal da história confusa e cheio de furos. 

Diretor dos filmes anteriores, Sommers produziu uma aventura fraca e ilógica que tentou trazer uma versão dos mitos da antiga China. Aqui vemos o Imperador Han (Jeti Li) como o déspota que tenta conquistar o maior número de territórios e aumentar o seu poder. Sagaz, o Imperador se envolve com poderes sobrenaturais e quando se dá conta de que uma vida só não é o bastante para tudo que conquistou, ele ordena que seu mais leal General Ming (Russel Wong) encontre Zi Juan (Michelle Yeoh), uma feiticeira poderosa para lhe conceder a imortalidade. Assim que coloca os olhos na bela, Han logo pensa em possuí-la, mas ela já está encantada por seu General. Cruel, o Imperador manda assassinar Ming, mas sela seu próprio destino. Zi Juan o amaldiçoa a se tornar pedra junto com o seu Exército e se for libertado trará novamente o caos ao mundo. Passam-se séculos e séculos e o jovem Alex prova que herdou o dom de despertar múmias dos pais e uma sucessão de acontecimentos traz o Imperador de volta à China pós-guerra. 

Os elementos que funcionaram bem nas primeiras sequências, não surtiram o mesmo efeito, nos dando a sensação de que o Imperador deveria ter ficado em sua Tumba. Uma história sem pé sem cabeça na tentativa de dar (mais uma) versão mais “romântica” ao Exército de Terracota. Piadas forçadas engrossando um texto pobre e previsível, personagens que nada acrescentaram e erros de continuidade - como um feitiço em chinês arcaico ditado em inglês – não compensaram algumas boas sequências de ação e a luta entre Li e Yeoh, relembrando momentos marcantes de ambas as trajetórias no cinema. 

Entretenimento é uma parte essencial, fundamental dentro do cinema e neste propósito, A Trilogia A Múmia alcançou com aplausos o seu objetivo. Entretanto, quando se fala em uma qualidade maior de mescla de todos os elementos de uma obra, ela muito se perdeu desde que o fanfarrão Rick conheceu a intrépida Evelyn. O cinema ganhou sim uma ótima pedida, mas nada tira a sensação de que poderia ter sido melhor. Poderia ter se tornado algo tão memorável quanto os filmes de Karloff. 

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