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domingo, 26 de outubro de 2014

A Menina que roubava livros (2013)

A menina que roubava livros (The Book Thief, 2013)
Direção: Brian Percival
Com: Sophie Nélisse, Geofrey Rush e Emily Watson
Nota: 6

Um dos filmes mais aguardados deste ano foi A menina que roubava livros, dirigido por Brian Percival. O filme é baseado no sucesso editorial de mesmo nome e seguindo a linha da chuva de adaptações literárias para o cinema, pecou ao trazer expectativas demais junto ao público fidedigno ou mesmo aqueles que não são. Em outros termos, uma coisa é ler o livro e achar o máximo, outra é ter a mesma interjeição quando este se aventura na sétima arte. As transformações são inevitáveis sabendo que a fidelidade à obra original é praticamente impossível de se alcançar ao bater da claquete. 

Estamos em 1938 na ascensão do Nazismo na Alemanha e logo já nos compadecemos com os dramas que enfrenta a menina Liesel Meminger (Sophie Nélisse), abandonada pela mãe comunista por conta de forças maiores. Quando seu irmão mais novo morre na fuga, a matriarca resolve dar a Liesel uma nova família, um novo recomeço. Ela é adotada pelo casal alemão Hans Hubermann (Geoffrey Rush) e Rosa (Emily Watson) depois do enterro de seu irmão. Este episódio muda sua vida ao se defrontar com aquilo que será sua paixão nos próximos anos. O Manual do Coveiro, que cai do bolso do homem no cemitério, é o primeiro exemplar de uma série de livros que irá colecionar na memória. Mas a luta começa quando Liesel sofre na Escola por não saber ler. Coube então ao pai adotivo ajudá-la superar este desafio e depois de muitas histórias contadas pelas páginas consegue alfabetizá-la usando seu porão para isso. A determinação da menina é algo que assusta o patriarca alemão ao vê-la resgatar em meio às brasas teimosas de uma pilha um dos volumes considerado inapropriado pelo regime Nazista. A extinção dos livros através das chamas da Ditadura é certamente uma das melhores passagens do filme.

A queima dos livros: um dos raros momentos de beleza crua da trama

Este pequeno ato de coragem, mas de uma grandeza impressionante, comove a mulher do prefeito que abre as portas de sua biblioteca para a menina que roubava livros. Liesel mergulha a fundo nesta aventura contando mais tarde com a ajuda do amigo Rudy (Nico Liersch). Um garoto que desconhece os preceitos do regime e idolatra um atleta negro, o corredor americano Jessie Owens, que fez história com suas 4 medalhas no Atletismo olímpico em plena Alemanha Nazista. Logo o talento para correr do menino é percebido pelo Governo, mas Rudy se nega a satisfazer um regime opressivo e foge do recrutamento. As crianças seguem vivendo suas vidas sabendo dos perigos que as cercavam todos os dias daquela época difícil com o estouro da Segunda Guerra e das bombas que caíam sobre a cidade de vez em quando. A situação piora para Liesel e a família Hubermann quando o filho de um Soldado judeu que havia salvado a vida de Hans durante a Primeira Guerra pede asilo. Se sentindo em dívida com o amigo, o alemão acolhe em sua casa o jovem Max (Ben Schnetzer), que também é fã de livros. Então logo se aproxima de Liesel, tornando seu amigo, confidente e parceiro na hora da leitura. Esta amizade irá se estender por muitos anos, entre momentos de alegria e sofrimento. 

Para quem leu o livro, alguns pontos abordados no filme foram considerados decepcionantes, afinal, como citado acima, é muito complicado se encontrar um consenso entre literatura e cinema. No entanto, as limitações da obra não ficam somente a cargo das armadilhas de adaptá-la para o cinema. Neste campo, ela chega a comover em algumas cenas especialmente as pavimentadas com a narração da Morte, que podemos dizer sem exagero, é a personagem central do filme e que foi de fato um acerto na voz do ator Roger Allam. A própria se coloca bem na perspectiva de todos os personagens do filme sustentados por atuações que transitam entre o razoável e excelente. A menina Sophie demonstra talento ao protagonizar o filme, porém lhe falta o que talvez seja primordial quando se trata de interpretações infantis: empatia. Assim fica difícil mergulhar tão intimamente nas emoções cruas da menina, que vai apenas se apoiando no forte contexto da trama, na trilha sonora e na narração. Em outras palavras, a história por si emociona e não sua protagonista. O casal alemão também não trabalha em plena sintonia. Enquanto Rush se perde entre o avassalador do início e um mero coadjuvante no fim, Watson dá um show como a mãe durona de coração mole. É uma das melhores e mais instigantes atuações do ano com certeza. 

O roteiro poderia se fazer inesquecível aproveitando o fio da meada de um dos temas. A visão das crianças acerca da brutalidade da Guerra. O mesmo elemento usado em O menino do pijama listrado (2008), outra obra adaptada, não funcionou aqui. Este conseguiu comover na medida certa com um final muito mais comovente e impactante, ou seja, aquilo que não se deixa esquecer. O filme de Percival bem que tentou, mas deixou que no fim a emoção se transformasse numa novela de sentimentalismo barato que logo que termina, o espectador já se esqueceu do que viu nesta rajada de temas que ornamentou a história. Erro de foco que se apoiou em outros tópicos para ajudar a emocionar. Bem aquém da expectativa dos fãs, e nada a ponto de roubar dos leigos a sensação de que tudo poderia ser bem melhor. 

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