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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O Cinema segundo Orson Welles

No final da década de 30 o cinema americano atingia até então o seu ápice com produções de grande importância e influência para o desenvolvimento da chamada “sétima arte”. Filmes como o naturalista “No tempo das diligências”, de John Ford, o otimista “Do mundo nada se leva” do adorado Frank Capra, e o musical reverenciado por gerações “O mágico de Oz” dirigido por Victor Fleming e responsável pelo debute da estrela Judy Garland, marcaram para sempre seus respectivos gêneros. Mas o grande marco do cinema clássico hollywoodiano foi, com certeza, “E o vento levou”, também de Fleming, e assim como os citados, de 1939.
Foi um grande sucesso de bilheteria por anos, e mostrava que depois da grande depressão que se abateu sobre os Estados Unidos em 1929, o país estava se recuperando. Era impossível pensar que o cinema produziria algo mais significativo, não à toa já era considerado o melhor filme já feito, e assim seria até o fim dos tempos. Entretanto o reinado do filme de Victor Fleming duraria apenas dois anos. Em 1941 o mundo conheceu Orson Welles e a sua epopéia do magnata da imprensa Charles Forster Kane em “Cidadão Kane”.
A grande maioria dos críticos americanos e europeus consentem que o filme foi e será o melhor e mais importante que o cinema já produziu. As inovações técnicas como a profundidade de campo, a introdução do plongeé e o contra-plongeé, o rebaixamento de teto dos cenários foram só alguns de uma infinidade de detalhes que revolucionaram a arte de se fazer cinema. Além das técnicas inovadoras, o roteiro também se desenvolveu de forma singular já que não seguia os clichês básicos vistos até então nas salas de projeção. Charles Forster Kane foi o primeiro grande anti-herói do cinema americano: não era galã e muito menos um bom moço.
Mas nem tudo foram flores. Para chegar ao reconhecimento que o faz carregar o peso de ser o maior de todos, a obra de Welles sofreu com polêmicas e com a indiferença. Teve o seu lançamento quase embargado pelo “Kane” da vida real, o empresário William Hearst, que chegou a processar o diretor por ter se inspirado nele para conceber o magnata da ficção. Além disso, foi ignorado nas principais premiações, entre elas a maior de todas, o Oscar entregue pela Academia das artes cinematográficas desde 1929. Talvez o estranhamento por tudo de diferente que foi apresentado no filme tenha causado essa ojeriza instantânea.
Foi premiado inquestionavelmente com o Oscar de melhor roteiro, porém o gênio Welles foi ignorado como diretor e ator. Mas os olhos da crítica não tardaram a lhe fazer justiça. Começou a ser estudado por teóricos e reconhecido por outros diretores. Produções posteriores começaram a aderir suas técnicas, entre elas o maior sucesso do cinema de Hollywood, “Casablanca” (1943), de Michael Curtiz. No longa, algumas características de Welles são introduzidas, o tornando cinema de mais alto nível. Além disso, um dos movimentos mais importantes, o neo-realismo italiano, só fez de suas obras grandes painéis da sociedade italiana pós-guerra, devido ao advento de 1941.
Se é o melhor de todos os tempos, isso é uma questão de ponto de vista. Entretanto é indiscutível que “Cidadão Kane” foi o mais importante. Sua concepção jogou por terra a capa conservadora que mantinha o fordismo em que se encontrava o cinema americano. A linguagem cinematográfica que Griffith começou, Eisenstein certificou, Welles inovou. Foi o grande “messias” da sétima arte, que assim como Cristo foi ignorado para depois ser contemplado. A diferença é que o diretor viveu para ver o cinema mudar a partir de sua obra. Sorte de quem hoje pode assistir aos bons filmes graças a ele. Azar da Academia que terá que se lembrar para sempre que não premiou o melhor já feito.

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