Jagten, 2012. Dirigido por Thomas Vinterberg. Com Mads Mikkelsen,
Thomas Bo Larssen, Annika Wadderkopp e Lasse Fogelstrom.
Nota: 9,5
Thomas Vinterberg foi alçado ao
estrelato mundial depois de criar, ao lado do talentoso e polêmico Lars Von Trier, umas
séries de regras de filmagem que deram origem ao movimento cinematográfico Dogma 95. E com o ótimo Festa de Família (98) alcançou um status
de brilhante, isso com apenas 28 anos. Porém, sua carreira não se manteve lá em
cima, e com filmes bem menos interessantes, seu nome nem circulava mais pelos
altos bastidores do cinema. Mas, com o excelente A Caça, volta ao cinema simplista, competente e intimista, sem
perder a mão que o fez notável no início da carreira.
Lucas (Mads Mikkelsen,
sensacional) é um professor de jardim de infância de uma pequena cidade
dinamarquesa, que vive sua rotina entre as bebedeiras e caça de cervos com os
amigos, além de sofrer com a ausência do filho, sob custódia da ex-esposa.
Quando a meiguinha Klara (Annika Wedderkopp), filha de seu melhor amigo Theo
(Thomas Bo Larssen, ótimo), sugere para outra professora que foi abusada por
ele, uma temporada de caça às bruxas começa, à base de humilhações e violência.
Aos poucos, tudo e todos vão lhe virando as costas, restando apenas a determinação
de seu filho Marcus (Lasse Fogelstrom) e a lealdade de poucos amigos.
Vinterberg se juntou a Tobias
Lindholm e criou uma história simples, partindo daquela velha e, convenhamos, errônea de que criança não mente, e mostra como rumores são prejudiciais à estabilidade de um indivíduo e até de uma comunidade inteira. O
roteiro é intimista, primeiro apresenta um Lucas frágil e passivo, que não
consegue se impor na briga para conseguir ter a companhia do filho. Porém,
quando a mentira espalhada pela pequenina e ganha proporções assustadoras, sua habilidade
entra em ação. O protagonista enfrenta um julgamento sem mesmo passar por uma
sindicância, é agredido, humilhado, e chega a o fundo do poço, sem que não
haja uma atenuação por parte do texto.
O diretor se aprofunda em seus
personagens, principalmente no contraste entre Lucas e Klara. A forma como
constrói a atmosfera desfavorável para que as conclusões se processassem são
praticamente naturais. A combinação fofoca, cidade pequena e criança são
acompanhadas pela câmera de Vinterberg sem intromissão, da mesma forma conduz
as conseqüências, viscerais e extremas. Na maior delas, Lucas encontra sua
adorada cadela Fanny em um saco preto sem vida. Este mosaico de ação-reação provoca a mudança de personalidade dos personagens, sempre lembrando ao público
como tudo havia começado.
O sucesso do longa, todavia, está
diretamente ligado à atuação extraordinária de Mads Mikkelsen. Seu Lucas é
bobalhão que se dá bem com as crianças, mas deixa a desejar ao encarar os
problemas “adultos”, mas quando perde quase tudo, e toda a cidade se dispõe a lhe
enxotar, o bom moço aos poucos dá lugar a um homem bruto, vingativo e disposto
a provar sua inocência. Competência merecidamente premiada em Cannes, e que torna uma absoluta injustiça a ausência de seu nome no circuito de premiações, em especial, no Oscar.
Se Vinterberg não é o mesmo que
assinou o manifesto controverso há quase 20 anos, ao menos seu cinema recuperou
a forma com esta obra brilhante e com certeza um dos melhores filmes do ano. Uma mostra que ainda é capaz de dar prosseguimento à sua carreira longe da sombra de seu amigo Lars Von Trier, ainda que sem didatismo de outros tempos, contudo extremamente competente.
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