Visitantes

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A difícil arte de entender Glauber Rocha


No último dia 22, fez 30 anos de morte de um dos maiores artistas da nossa história. Glauber Rocha, cineasta revolucionário, criou uma linguagem única, uma mescla de crítica social e alegorias literárias. Tornou-se um ícone da cinematografia mundial, inspiração para obras de cineastas de importância singular para a criação do cinema ao qual conhecemos atualmente.

Um fato é inquestionável. A originalidade de sua temática revolucionou, porém muita gente torceu o nariz para sua obra. Se bem que seus filmes são de difícil entendimento, principalmente para os olhos menos críticos. A linguagem tensa e lírica, de sequencias formidáveis (principalmente em Deus e o Diabo na Terra do Sol, 1964), se tornaram uma vanguarda brasileira. Foi o expoente de uma época em que nosso cinema era respeitado mundo afora, o chamado Cinema Novo.

Entender a obra de Glauber vai muito além de perder finais de semana à frente da TV assistindo filmes da Nouvelle Vague, ou se remoendo em tentar compreender a obscuridade lenta e aterradora de Bergman. É diferente, pois o baiano se tornou um avatar de uma era de hibernação forçada da cultura popular. Criou-se de uma necessidade de expressão de uma sociedade refém de um regime que censura e deportava. Viveu uma fantasia realística, aonde entender sua ideologia depende do entendimento do mundo em que viu em sua época.

Julgá-lo chato e psicótico, criador de non senses teóricos, é válido e perdoável para quem assiste a algum de seus exemplares. É difícil para qualquer especialista em cinema compreender Glauber. Sendo assim fica muito mais fácil odiá-lo. Um filme como seu derradeiro A Idade da Terra (1980), pode ser considerado seu pior trabalho pelo teor claustrofóbico que carrega nos discursos escalafobéticos. Entretanto, se lermos uma biografia, ou abrirmos o Google para ver diversos pontos de sua vida e obra, percebe-se que pode ser simplesmente um testamento melancólico de um artista a frente de seu tempo.

Os mesmos que dão de ombros para o diretor, são os mesmos que babam pelos exageros brilhantes e nostálgicos de Truffaut, ou batem palmas para a arrebatadora realidade em que trabalha Martin Scorcesse e nem param para pensar que tem muito de Glauber em suas obras. Podem até não gostar de seus filmes, mas diminuir seus feitos e contribuições para o nosso cinema é de fato inaceitável. Se hoje exaltam a habilidade de criar absurdos inebriantes de Von Trier, é por que não conhecem Rocha, ou simplesmente por que brasileiro tem mania de não reconhecer o talento de seus conterrâneos.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

OS PODERES E AS FRAQUEZAS DE UMA ADAPTAÇÃO

Voar, correr na velocidade da luz, escalar paredes, ter uma força sobre-humana e um corpo invulnerável. Quem quando criança não sonhou em ter, pelo menos, uma vez na vida estes poderes? Pois bem, estes poderes sintetizam a força de todo grande super-herói que se preza. Os poderes físicos aliados à força do caráter e a inclinação para valores do Bem e da Justiça, fazem do homem um herói. Eles sempre aparecem no momento que a humanidade mais necessita. Foi assim, assim vem sendo e assim será até os fins dos tempos. É uma resposta ao clamor de uma sociedade fragmentada por valores opostos. Um poder que se originou dos quadrinhos e se estendeu pelas telas do cinema. Desde a primeira adaptação modesta até os catatônicos efeitos visuais de hoje, os heróis mascarados e sobre-humanos são presença constante na grade de produções cinematográficas anuais.

O primeiro grande filme de um ícone dos quadrinhos aconteceu em1978. No papel do Super-Homem, o ator Christopher Reeve, se firmou como um ídolo do cinema em todos os tempos. O ator conseguiu imprimir uma fusão perfeita entre o atrapalhado repórter do Planeta Diário e o incrível Herói por detrás de seus óculos. Super-Man, o filme, contou além de um elenco estelar, com um premiado roteirista. Gene Hackman (Lex Luthor), Margot Rider (Lois Lane) e Marlon Brando (Jor-El) receberam o suporte de Mário Puzzo, de O Poderoso Chefão. A história é tradicional: um menino exilado pelos pais que salvam sua vida após a explosão de seu planeta de origem. Na Terra, ele tenta se adaptar a vida humana. Tudo sob aval dos responsáveis pelos efeitos visuais de Guerra nas estrelas. Eles fizeram o homem voar aos olhos extasiados dos fãs.

Tamanho investimento não teria outro resultado além de um sucesso de bilheteria e o fato de entrar definitivamente na galeria dos filmes mais importantes da história cinematográfica. Depois vieram outras três sequências totalmente dispensáveis. Ele retornou as salas de cinema em 2006 com Superman, o retorno. O filme, com a assinatura de Bryan Singer, nem de longe lembra do original, trazendo agora o introspectivo Brandon Houth no papel principal. A história se constituiu fraca ao mostrar a vida de todos na Terra sem a presença do Herói cinco anos exilado. De volta, ele descobre que sua amada Lois Lane está casada e é mãe de um lindo menino, fruto de sua relação com ele. Nem a presença do extraordinário Kevin Spacey como o vilão Luthor, tirou a impressão de estarmos assistindo a uma novela mexicana das piores sem a necessidade da Kryptonita.

Outro homem capaz de voar, só que com o auxílio de suas poderosas teias também ganhou sua adaptação. Em 2001 quando o tímido Tobey Maguire vestiu a roupa do Homem-Aranha, ele direcionou suas teias para o sucesso. No filme, Peter Parker, um adolescente tímido que quase não é percebido por seus colegas de classe e pelo grande amor de sua vida Mary Jane (Kirsten Dunst), torna-se, através da mordida de uma aranha radioativa, o Herói alpinista que hoje conhecemos. A mutação não só afeta seu lado físico como também o emocional. E coube ao ator Wiliam Dafoe a missão de fazer do doentio Duende Verde seu terrível antagonista nesta primeira aventura. Missão que seria dois anos depois passada para Alfred Molina como o Dr. Octopus. Se o primeiro longa foi um sucesso de público, o segundo foi de crítica, baseando-se num roteiro bem definido e em cenas de ação impecáveis. Seguindo no embalo do sucesso, prometeram fazer de sua sequência a melhor da trilogia. No entanto, o aguardado Homem Aranha 3, não passou de promessa e marketing bem feito.

O filme foi um fracasso em todos os sentidos. Quem viu não entendeu a natureza de um roteiro rocambolesco recheado de vilões mal aproveitados para todos os lados. Harry Osborne (James Franco) herdou do pai a prancha voadora e partiu para vingar sua morte tornando-se o Duende Macabro. Enquanto isso O Homem de Areia aterrorizava a cidade depois de se tornar o responsável pela morte de Tio Ben e ganhar os poderes acidentalmente. Mais tarde, o próprio Homem Aranha. Graças a um estranho material químico alienígena que em contato com o corpo humano desperta nos homens seus mais primitivos e nocivos instintos. Cheio de autoconfiança, o contido Peter Parker se transforma num conquistador inveterado ao mesmo tempo em que o Herói se torna Venon, sua outra personalidade, considerado por nove entre dez fãs do aracnídeo como seu maior rival. Uma vez que a ambiguidade do Herói torna sua história espetacular pelo menos nos quadrinhos. Todos estes vilões se chocaram num filme curto demais para contar de forma mais crível suas histórias. Assim podemos afirmar que todos renderiam, separadamente, inesquecíveis sequencias.

Quando as portas da Escola Xavier para superdotados se abriram em 2000, causou uma grande expectativa em torno de seus fãs. Afinal, adaptar para o cinema as histórias dos famosos mutantes seria uma tarefa nada fácil. Uma trilogia da saga já estava confirmada. E ao julgar pelos três filmes, melhor seria que as portas tivessem fechadas. X-Men de Bryan Singer mostrou como o cotidiano da Escola foi abalado com a chegada de novos mutantes. Destaque para o truculento Wolverine incorporado com uma competência assustadora pelo australiano Hugh Jackman e a mutante Vampira, papel da vencedora do Oscar Anna Paquin. Como não poderia deixar de ser, o imponente Magneto de Sir Ian McKellen foi o líder antagonista da história da Guerra entre humanos e mutantes. O gênio da revolução mutante tentou usar os poderes da jovem novata com o objetivo de transformar toda humanidade em mutantes. Nem mesmo a presença da estrela e também vencedora do Oscar Hally Berry, diga-se de passagem, apagadíssima como a mutante Tempestade, conseguiu suprir o desejo dos fãs. O filme até foi uma boa sequencia de ação para os leigos, ou seja, quem nunca esteve a par da história dos mutantes. Já para seus verdadeiros fãs, foi uma tremenda decepção.

X-Men 2 é a síntese dos filmes do gênero com muita ação, efeitos especiais e pouquíssimo conteúdo. Uma confusão de personagens e histórias tão dispensáveis quanto à interpretação de seu bom elenco. No final de nada, a morte de Jean Gray anuncia o nascimento da Fênix, um dos maiores e mais temidos vilões da saga. Assim como Venon, a Fênix também muda a personalidade de sua persona. A diferença é que enquanto o primeiro tem uma fonte física, a outra é emocional e se encontra na psique de Gray. E assim como Venon, sua história foi decepcionante. Em X-Men 3 a poderosa mutante classe 5 foi reduzida a um mero capanga de Magneto em sua luta megalomaníaca contra os homens. E como isso já não bastasse para tornar o filme ultrajante, ainda criaram uma vacina, uma espécie de “cura” para a mutação genética, aniquilando o verdadeiro propósito da saga X-Men.

O suporte de apoio às diversidades humanas. Além de vitimar nomes de suma importância para a causa como Mística, Vampira e Magneto. Sem falar no inchaço de personagens que deixou muita gente que acompanhou a história desejando ter superpoderes de escrever algo menos repulsivo. Mas nada se compara a falta maior de não ter inserido, nem ao menos em menção, o maior de todos os mutantes, o quase invencível Apocalipse. Algo que, no universo X-MEN é mais que ultrajante, é inadmissível!

Embora a trilogia tenha deixado e muito a desejar, devemos considerar o nível de complexidade de se adaptar para as telas a história dos mutantes, dada a complexidade dos próprios personagens. Algo que está para ser corrigido com a promessa de mais uma trilogia da saga. Então o que fica desta trilogia mutante são filmes bem feitos voltados ao entretenimento de quem nunca teve nas mãos uma revista em quadrinhos.

O mais humano dos heróis também teve sua presença inserida no mundo do cinema. Em cada sequencia o vigilante noturno mais querido dos quadrinhos teve de enfrentar seus mais terríveis inimigos. Em Batman ele combateu o esplêndido Coringa de Jack Nicholson. O multifacetado ator ofuscou tanto a estrela do protagonista, vivido por Michael Keaton, que acabou sendo indicado ao Globo de Ouro naquele ano. Batman, o retorno marcou o retorno de Keaton ao papel principal, mas não ao sucesso. O filme foi um fracasso ao trazer a gata Michelle Pfeiffer como Mulher- Gato e um deformado e repugnante Dany De Vilto como Pinguim. Deixando todos literalmente numa gelada.

Depois veio Batman Eternamente que trouxe Val Kilmer no papel principal. Aqui ele ganhava um parceiro na luta contra o crime. O queridinho do momento Cris O’ Donnell assumiu o papel do malabarista Robin enquanto o veterano Tommy Lee Jones emprestou seu rosto ao vilão Duas Caras. O espevitado Jim Carrey se esbaldava como Charada enquanto a bela Nicole Kidman sofria em suas mãos como a mocinha da trama. Com uma produção amadora, roteiro obsoleto e um elenco recheado de estrelas no auge da canastrice, o filme se eternizou como um dos piores da história.

Batman e Robin trouxe novamente O’Donnell e seu colam no elenco agora ao lado do então Rei da Canastra George Clooney como seu eterno parceiro. O valentão Arnold Schwarzenegger numa atuação tão risível quanto o filme no papel do vilão Mr. Frese. Uma Turmam e Alicia Silverstone lideraram o elenco feminino. A primeira como a sensual Era Venenosa e a segunda no papel da sobrinha do mordomo Alfred que decide se juntar a dupla de heróis no combate ao crime. Difícil mesmo foi combater o maior vilão do longa, a péssima qualidade do filme.

Finalmente para o bem de todos amantes do cinema, estas tristes páginas da história se encerraram quando em 2005 o diretor Christopher Nolan decidiu homenagear o herói de capa preta de uma maneira mais condizente a seus fãs. Veio Batman Begins, que contou a história de como o menino órfão se transformou no Homem Morcego. Para viver o "Herói solitário" Nolan convocou o talentoso Cristian Bale, que vestiria novamente a capa e o cinto de utilidades em 2009 com o aguardado Batman – o cavaleiro das trevas. Em ambas as produções o diretor esqueceu os percalços das anteriores e transformou suas sequencias em cinema de verdade ao tratar com seriedade suas histórias. Ao começar pelo elenco de atores tarimbados emanando credibilidade a cada cena.

Enquanto Begins trazia Michael Caine como o mordomo Alfred, Cavaleiro das trevas o substituiu por Morgan Freemam e nos apresentou um dos maiores algozes da história do cinema atual. Heath Ledger incorporou de maneira assombrosa o vilão Coringa, trucidando a interpretação de Nicholson no mesmo papel anteriormente. Tanto que Ledger levou para casa o Oscar. Batman – o cavaleiro das trevas foi a prova de que quando se leva o cinema a sério, independente de qual história ou gênero que possa pertencer, o reconhecimento é uma consequência mais que positiva. O filme de Nolan é o melhor já feito para homenagear um ícone dos quadrinhos ao tratar o Herói da capa preta como ele é. Um homem despido do Herói sobre-humano.

Em suma, a missão de adaptar para as telas uma história que nos quadrinhos se torna imutável por uma legião de fãs, é algo que exige uma séria e mais contundente reflexão da parte de quem tenta levar adiante este projeto. A inovação só é uma coisa positiva quando se tem comprometimento de contar uma boa história por meio de uma boa produção. Ou então teremos de assistir a coisas dispensáveis do gênero como Quarteto fantástico e o Surfista prateado ou um Lanterna Verde totalmente fora de suas raízes negras.

Se no universo dos quadrinhos, heróis e vilões tem um lado definido, na vida real e no mundo do cinema esta escolha fica a cargo do espectador, já que existe espaço suficiente para agradar a dois tipos de público. Aos que preferem o cinema de entretenimento ou aqueles que optam pelo cinema de reflexão. Não importa o lado que você venha a escolher desde que seus valores morais tenham como base os destes importantes personagens fictícios que a tanto nos fascinam incondicionalmente. Que possamos nos valer de seus poderes e esquecer suas fraquezas. Pra isso você nem precisa voar, correr na velocidade da luz ou escalar paredes.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Três é demais?



Enquanto algumas franquias faturam milhões em continuações de longas de sucesso, a discussão entre quantidade e qualidade se mantém em alta. Mas nem sempre continuações são sinônimos de pretensões financeiras. Grandes filmes, de diretores renomados, garantiram além de sucesso bilheteria, elogios por parte da crítica. Entretanto, os conseguintes têm de ter um motivo justo para ser produzido.

O Cineposforrest aponta as melhores trilogias lançadas, é claro, sempre disposto a aceitar opiniões diversas.

As 3 melhores:

1 – A Trilogia do Chefão: A fantástica adaptação feita a quatro mãos pelo diretor Francis Ford Coppola e o próprio autor do livro, Mário Puzzo é com certeza a melhor entre todas as trilogias. Com uma trama envolvente, que conta a saga da Família Corleone, desde os anos 50 até o fim da década de 70, impactou e conquistou tanto público quanto a crítica. Apesar de ter sofrido uma sensível queda de qualidade do da parte II para a III, não foi o suficiente para que o brilho se desfizesse. Além do sucesso, a obra é a única dentre as trilogias na história do cinema a ter dois filmes vencedores do Oscar de melhor filme (Parte I e II), e o personagem Vito Corleone, o único a ter dois intérpretes diferentes contemplados com a estatueta (Marlon Brando, Parte I e Robert DeNiro, Parte II). NOTA: 9.5


O Poderoso Chefão, Parte I (The Godfather, Part I), 1972. Dirigido por Francis Ford Coppola, roteiro de Francis Ford Coppola e Mario Puzzo adaptado do romance de Mario Puzzo. Com Marlon Brando, Al Pacino, Robert Duvall, Diane Keaton, Talia Shire, James Caan e John Cazalle. Nota: 9,6

O Poderoso Chefão, Parte II (The Godfather, Part II), 1974. Idem. Com Al Pacino, Diane Keaton, Robert DeNiro, Robert Duvall, John Cazalle e Talia Shire. Nota: 9.7

O Poderoso Chefão, Parte III >(The Godfather, Part III), 1990. Idem. Com Al Pacino, Diane Keaton, Andy Garcia, Sofia Coppola, Talia Shire, Lee Strasberg, Eli Wallach, Joe Mantegna e Bridget Fonda. Nota: 9.2


2 – A Trilogia Nativista: Quando George Stevens decidiu filmar Um Lugar ao Sol, adaptação do romance de Theodore Dreiser iniciava a sua visão sobre a formação da identidade do povo americano. Esse excelente filme conta a história de um jovem ambicioso que mata uma jovem operária que esperava um filho dele, para que isso não o atrapalha em sua ambição de se casar com alguma herdeira rica. Com a mesma sensibilidade em conduzir suas tramas, Stevens constrói sua obra-prima criando uma espécie de alegoria sobre o bem e o mal. Os Brutos Também Amam mostra o nascimento de um americano benevolente, bondoso que faz de tudo para proteger os fracos. Contudo seu maior sucesso ainda estava por vir. Assim Caminha a Humanidade além de contar com um elenco formidável, o diretor fecha a trilogia acentua os valores morais dos cidadãos americanos. Por seu brilhante trabalho, George Stevens venceu o Oscar no primeiro e no terceiro filme. NOTA: 9.4

Um Lugar ao Sol >(A Place in the Sun, 1951.
Dirigido por George Stevens, roteiro de George Stevens adaptado do romance de Theodore Dreiser. Com Montgomery Clift, Elizabeth Taylor, Shelley Winters e Raymond Burr. Nota: 9.1

Os Brutos Também Amam (Shane, 1952).
Dirigido por George Stevens, roteiro de A. B. Guthrie inspirado na obra de Jack Schaefer. Com Allan Ladd, Jean Arthur, Van Heflin, Jack Palance, Brandon DeWilde, Ben Johnson, Emile Meyer, Elisha Cook Jr. e Edgar Buchanan. Nota: 9.6

Assim Caminha a Humanidade (Giant, 1956).
Dirigido por George Stevens, roteiro de George Stevens. Com James Dean, Elizabeth Taylor, Rock Hudson, Carroll Baker, Dennis Hopper, Mercedes McCambridge, Sal Mineo e Rod Taylor. Nota: 9.5


3 – A Trilogia do Anel:
Muitos (leia-se José Wilker) veem na ferramenta tecnológica falta de conteúdo. Entretanto a retumbante adaptação da gigantesca obra de J. R. R. Tolkien, concebida pelas mãos do diretor Peter Jackson é um bom exemplo de que a sentença não é uma regra. Com visual espetacular das montanhas e planícies da Nova Zelândia e Austrália, somos transportados para a Terra-Média escorados à perfeita adaptação do texto encabeçada por Phillipa Boyens. A dedicação do diretor foi imensa, e depois de 5 anos de produção, O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, surgiu como uma hecatombe no mundo do cinema, enlouquecendo o público e dobrando a crítica. Mas seria em O Retorno do Rei, o último filme, que viria a consagração. Com um espetáculo beirando à perfeição, sem exageros, com ação e emoção, uma verdadeira obra-prima. Foi o primeiro filme de fantasia a conquistar o Oscar de melhor filme, além de receber outras dez estatuetas. No total a trilogia venceu 17 das 30 indicações que recebeu. Frodo, Gollum e Cia. ficaram para sempre na memória de quem teve o prazer de assistir aos filmes. NOTA: 9.4

O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel >(The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring, 2001).
Dirigido por Peter Jackson, roteiro de Peter Jackson, Phillipa Boyens, Fran Walsh e Stephen Sinclair. Com Elijah Woody, Viggo Mortensen, Orlando Bloom, Ian McKenlen, John Rhys-Davies, Liv Tyler, Hugo Weaving, Cate Blanchett, Sean Astin, Bernard Hill, Christopher Lee, Dominic Monaghan, Billy Boyd, Sean Bean, Miranda Otto, Ian Holm e Andy Serkins como Gollum. Nota: 9.4

O Senhor dos Anéis: As Duas Torres >(The Lord of The Rings: The Two Towers, 2002)
. Idem. Idem. Nota: 9.1

O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei >(The Lord of the Rings: The Returno f the King, 2003).
Idem. Idem. Nota: 9.7

terça-feira, 9 de agosto de 2011

ANGELINA JOLIE

Fama e sedução

Uma estrela de brilho inigualável. Assim podemos definir esta belíssima atriz de lábios carnudos e olhos esfuziantes que são pura sedução. Um brilho que se originou da terra do cinema. Foi em Los Angeles que a estrela Angelina Jolie Voight deu sua primeira cintilada para o mundo. Filha de um casal de atores, o ator Jon Voight e a atriz Marcheline Bertrand, ela logo começou a se familiarizar com o estrelato. Aos 11 anos frequentou a escola de artes Lee Strasbourg Theatre Institute, permanecendo durante dois anos brilhando em várias peças. Contudo, com o sucesso veio também as consequências da fama. Os hormônios da adolescência levaram Jolie a um período de rebeldia que a afastou dos palcos.

Passada esta fase, a estrela voltou a atuar, agora estudando na Universidade de Nova Iorque enquanto trabalhava como modelo. Seu belo rosto era figura constante em clipes musicais de sucesso. A carreira cinematográfica começou oficialmente em 1993 na ficção científica B, Ciborg 2. Depois de mais de dez longas metragens, foi a TV que lhe abriu a oportunidade definitiva de conquistar Hollywood. Primeiro com True womam e depois com George Wallace levou seu primeiro Globo de Ouro. Mas foi a supermodelo Gia Caranghi que alçou Jolie para a fama. Em Gia – fama e destruição (1996), a atriz teve uma atuação digna de um Oscar, mas acabou ficando “apenas” com mais um Globo de Ouro e um SAG Award. Um papel que caiu como uma luva em suas mãos, uma vez que ambas tinham a mesma personalidade indomável.

Foi aí que sua estrela começou a brilhar mais intensamente com sucessivos sucessos. O colecionador de ossos (1998), ao lado do astro Denzel Washington e Alto controle, ao lado de Billy Bob Thornton, com quem manteve uma relação turbulenta até 2002. Em 1999 atuou ao lado de Winona Rider na cinebiografia da jovem Suzana Kelsen em Garota interrompida. Sua personagem, a sociopata Lisa, lhe rendeu o Oscar que não levou em 1996. Era coadjuvante, mas com a estrela que tem, é um adjetivo que não se aplica a ela. Seguiram-se os anos 2000 e com ele vieram a era dos blockbusters, Lara Croft: Tomb raider (2001), 60 segundos (2002), O espanta tubarões (2006) – e alguns fiascos como Alexandre (2007) de Oliver Stone e Capitão Sky e o mundo de amanhã (2008),em que a atriz teve como acessório um grotesco tapa-olho (ergh!). Contudo, nada abalaria sua carreira como Sr. e Sra. Smith (2005).


O filme foi um enorme sucesso de bilheteria. Não por conta do roteiro e direção. O sucesso se deve ao marketing produzido por ela e seu parceiro de cena Brad Pitt. Fofocas envolvendo seu envolvimento com o galã tornaram-se capas de vários tabloides. Um episódio que quase minou sua promissora carreira. Na época Pitt era casado com a atriz Jennifer Aniston, uma das queridinhas da América, o que colocou Jolie no papel da vilã sedutora que destrói lares. Só que diferentemente do que acontece na maioria das produções, desta vez a vilã levou a melhor. Hoje Angelina e Brad formam o casal mais lindo e mais influente do mundo ao lado de seus belos filhos.
Após esta tempestade, a atriz ainda estrelou o filme de ação O procurado e o drama A troca (2009), dirigido por Clint Eastwood, de quem recebeu incansáveis elogios e mais uma indicação ao Oscar. Em 2010 Salt teve, surpreendentemente, uma ótima crítica, elevando-a de vez ao status de maior estrela da sétima arte no momento.

O que faz de Angelina Jolie uma estrela não são ataques de estrelismo nos sets de filmagens, desposar astros famosos ou escândalos envolvendo a família ou uso de substâncias ilícitas. O que define Angelina Jolie como estrela é algo muito mais simples que vai além de qualquer justificativa infame de tabloide. É olhar para ela com uma perspectiva muito familiar. Vê-la como um ser humano, desnudo de qualidades e defeitos. Ela é o que é. Nem mais, nem menos. Apenas uma mulher linda, talentosa, com nuances de personalidade e carisma ímpar, que sabe tirar o que de melhor obtém da vida pessoal e profissional e ainda assim olhar pelos outros que não tiveram a sorte de nascer com o mesmo brilho.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sam Mendes e o American Way Life

Em dois grandes filmes, Sam Mendes desmitifica a máxima do American Way Life, com roteiros brilhantes e de uma melancolia que nos coloca numa encruzilhada entre o bom e o necessário para nossa vida

Logo na primeira cena de Beleza Americana (American Beauty, 1999) percebemos que o título da obra, uma alusão a uma bela rosa americana sem cheiro e espinhos, é a grande ironia da história. O brilhante roteiro de Allan Ball desnuda o dia-a-dia de uma família suburbana americana, um grande exemplar dos adeptos do estilo de vida americano, criado após a reestruturação do país, depois da Grande depressão, em meados a década de 40.

O chefe da família, Lester Burnham (Kevin Spacey formidável em atuação vencedora do Oscar), de repente se vê frustrado com sua vida e percebe que tudo o que sonhou não passou de um foge da juventude. A mecanização com que sua vida se desenvolveu, a base familiar, a casa, tudo o caracteriza o estilo pré-concebido de vida que leva, deixa Lester a mercê de seu vazio existencial.

Sua obsessão pela colega da filha, e a amizade com o filho do vizinho, um jovem maconheiro e perturbado pelo regime totalitário de seu pai, são seus caminhos para mudar o rumo de seu destino. Sua mulher Carolyn (Annette Benning, ótima) é um de seus problemas em sua procura por uma vida sem regras sociais, já que uma daquelas que se adaptaram, ou se conformaram, com o esquema do casa/comida/filhos e uma felicidade de mentira.

Ball não poupa ninguém. Mostra de forma divertida, chocante e, às vezes, melancólica como o sistema domina e destrói sonhos. Um estudo social eloquente e controverso do mundo, que aos olhos do resto do mundo, parece ser perfeito. Os delírios de Lester com a jovem ninfa (Mena Suvari) traduzem o desespero emocional que domina o personagem, uma alegoria que se completa com o universo paralelo e insano de sua filha e o filho do vizinho. Mesmo Carolyn vive seu íntimo paradoxo, enquanto tenta prova que sua vida é uma maravilha se perde em meio suas frustrações e arrependimentos.

Seguindo o mesmo arcabouço metafórico, Foi Apenas um Sonho >(Revolutionary Road, 2008) traz uma espécie de “O início” de seu longa de 1999. Argumentado por Justin Haythe, baseado no romance de Richard Yates, o filme traz um casal suburbano cheio de sonhos de uma vida feliz, mas que aos poucos vai sucumbindo ao sistema de vida, já consagrado nos áureos anos 50.

Neste caso é a jovem April Wheeler (Assombrosa atuação de Kate Winslet) que se sente em uma prisão sem muros. Uma clausura espiritual que pensou ter fim quando planejou uma vida nova em Paris. Os interesses de seu marido, Frank (o também fantástico Leo Dicaprio), se contrapõe quando consegue uma promoção no trabalho onde odiava trabalhar. Mas seria lógico deixar um bom salário para tentar uma incerta vida em Paris?

Talvez seja o ponto G do filme. Nesse processo de firmação do American Way Life essa pode ter sido o grande conflito vivido pelos americanos. Quanto valia a felicidade? Novamente Mendes da destaque a algum coadjuvante insano, no caso uma grande atuação de Michael Shannon, o jovem interno de um hospício, que parece ser o único que percebe que os planos de April são uma tentativa de se libertar. A ironia do título também é destacável, já que a rua onde moram é a “estrada revolucionária”, que no fim de tudo mostra que a revolução nunca aconteceu.

O que diferencia as obras é o teor na condução. Enquanto Beleza Americana é mais ácida e divertida, repleta de duplos sentidos, Foi Apenas um Sonho é mais cru, um melancólico desenho definhado de uma grande mentira. Talvez assim sejam por um representar a ascensão e o outro o declínio do estilo de vida sacralizado pelas propagandas políticas americanas.

O que as tornam semelhantes são as excelentes atuações do elenco, e a força tarefa de Sam Mendes para provar que os americanos viveram em uma grande fantasia por décadas, e que não há uma maneira certa ou errada de se conduzir a vida. Além de tudo nos coloca no centro da discussão, fazendo-nos tentar imaginar se nossas vidas seriam melhores se fizéssemos o que gostamos mesmo com dificuldades, ou se conseguíssemos um padrão de vida bom, mas fadados ao vazio até o fim da vida.

Beleza Americana (American Beauty, 1999), dirigido por Sam Mendes, roteiro de Allan Ball. Com Kevin Spacey, Annette Benning, Chris Cooper, Peter Gallagher, Mena Suvari, Thora Birch, Allisson Janney e Wes Bentley. 121 min. Vencedor de 5 Oscar (Filme, diretor, ator – Spacey, roteiro original, fotografia)

Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road, 2008), dirigido por Sam Mendes, roteiro de Justin Haythe baseado na obra de Richard Yates. Com Kate Winslet, Leonardo DiCaprio, Michael Shannon, Kathryn Hahn, David Harbour e Kathy Bates. 119 min. 3 indicações para o Oscar (Ator coadjuvante – Shannon, direção de arte, figurino)