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sábado, 29 de novembro de 2014

10 Filmes inesquecíveis da minha infância – Parte 2

Bem, não é de hoje que gosto de assistir a filmes. Desde o final dos anos 80 até os meados dos anos 90, assistia a vários deles nas Sessões da tarde e Supercines da vida. Histórias divertidas, que mesmo bobinhas carregavam a inocência de que estava engatinhando pelas veredas do cinema. Claro que o senso crítico aqui deixou muito a desejar em algumas produções. Mas podemos cobrar algo de quem apenas estava procurando entretenimento? 

Já listei aqui mesmo no Blog a primeira parte desse momento nostalgia, agora vamos finalizar com algumas produções que além de terem tido a graça de divertir, também entraram para a história como grandes produções do cinema:

1 – Krull (1983)

Dirigido por Peter Yates, uma história sobre jovens apaixonados incapazes de realizar seu Amor. O Príncipe Colwyn (Ken Marshall) tem seu casamento interrompido pela maldade de um Ser pavoroso chamado de A Besta, que sequestra sua bela Princesa Lyza ( Lysette Anthony). Depois de ver todo o seu Reino destruído, o jovem parte em busca da amada para dar sentido a sua vida. Une-se a ele nesta jornada personagens carismáticos que nos impulsionam a torcer pelo sucesso da jornada. Um velho sábio, um guerreiro mulherengo vivido por Liam Neeson, um feiticeiro atrapalhado que se transformava em vários animais e um Cíclope do Bem. Embora tenha tido uma morna receptividade nas bilheterias, foi o precursor para outros filmes de fantasia.



2 – Splash – uma sereia em minha vida (1984) 

Dirigido por Ron Howard, esta comédia foi a primeira dos estúdios Touchstone Pictures, criado pela Disney, a desenvolver um tema mais adulto. Daryl Hanna no auge da beleza protagonizou a trama de uma sereia que salva a vida de um jovem solitário vivido por Tom Hanks. Os dois se envolvem em plena Nova Iorque e o jovem tenta impedir que um grupo de pesquisadores inescrupulosos façam experimentos com a bela mulher/sereia. É típico Sessão da tarde reprisado várias vezes durante vários anos, afinal, a clássica história de um Amor proibido sempre mexe com os corações independente do ano.


3 – Karate Kid – A hora da verdade (The Karate Kid, 1984) 

O jovem Ralph Machio e o veterano Pat Morita entrariam de vez na lista de personagens inesquecíveis do cinema nesta história sobre Amor, superação e diferenças culturais. Tudo bem que o enredo hoje pareça muito pobre, mas eu duvido que alguém tenha ficado indiferente à história de um rapaz em um país estrangeiro que para defender seu relacionamento, decide enfrentar uma gangue de valentões. E também duvido que ninguém tenha tentado fazer o mesmo “golpe da águia” de Daniel. Para isso, ele contou com a ajuda do velho Senhor Miyagi, que lhe ensina mais do que alguns golpes. O sucesso foi tão grande que gerou uma franquia além de cinema com venda de bonés, bonecos, faixas como de Daniel Laruso e etc....Simplesmente memorável! 

4 – Os caça-fantasmas (Ghostbusters, 1985) 

Dan Aykroyd, que também estrela o filme, nem esperava que seu roteiro fosse ser tão marcante com uma trilha sonora inesquecível. Quem nunca sonhou em caçar fantasmas quando crianças? Pois é, diante de todo este apelo, não foi muito difícil o filme cair nas graças do público no começo dos anos 80, dourado para as aventuras. Peter (Bill Murray), Raymond (Aykroyd) e Egon (Harold Ramis) são professores de parapsicologia da Universidade Columbia que usam a verba que ganham para investigar fenômenos paranormais que a ciência desconsidera. Demitidos da universidade, abrem seu próprio negócio de “caçar fantasmas”, transformando-se em heróis de boa parte da população e de muitas crianças da época. O filme que ainda contava com Sigourney Weaver e a faísca cintilante da franquia Alien, fez tanto sucesso que ganhou mais uma sequência e uma versão em desenho animado.

5 – Indiana Jones e o Templo da perdição (Indiana Jones and the Temple of Doom, 1985) 

Comecei pela segunda aventura do eterno arqueólogo estrelado por Harrison Ford. Dentre as três sequências esta foi a primeira que assisti e a que realmente me impressionou. Se em os Caçadores da Arca perdida tivemos mais ação e diversão, aqui Indy enfrentou forças mais sombrias, como escravidão infantil e poder das trevas que provinha de sacrifícios com crianças. Macabro não? Pois foi isso que fez o filme receber críticas menos entusiasmantes e mais o fato de terem inserido a cultura Hindu, tão controversa em qualquer obra. Outro problema do filme foram as distinções ideológicas de Steven Spielberg e George Lucas. Embora hoje seja voltado para o gênero aventura, o fato é que o estilo mais adulto soube marcar história em mentes impressionáveis, como a minha, mas nunca deixou de ser uma ótima diversão.


6 – Curtindo a vida adoidado (Ferris Bueller's Day Off, 1986) 

Quem nunca sonhou em enganar os pais e matar um dia de aula para curtir a vida adoidado? Para os adolescentes dos meados dos anos 80 era um sonho de consumo, bem diferente de hoje, não é mesmo? Assim, o filme estrelado por Matthew Broderick se tornou eterno, um verdadeiro clássico. A identificação com o público vem da naturalidade com o que foi produzido. O autor Jhon Hughes escreveu em apenas dois dias o roteiro e contou com o improviso dos atores em certas passagens. Sucesso instantâneo!



7 – Os aventureiros do Bairro proibido (Big Trouble in Little China, 1986) 

O que seria um faroeste transformou-se numa aventureira multicultural pelas mãos do roteirista WD Richter e dirigido por Jhon Carpenter. Como outro filme de Eddie Murphy com a mesma temática tinha sido lançado na época, as aventuras de dois amigos inter-raciais atrás de uma garota especial não foram muito bem recebidas pela crítica, afinal, Kurt Russel não era Eddie Murphy. Ainda assim o filme diverte pelas lendas chinesas sempre intrigantes. Belas e ao mesmo tempo assustadoras, e pelo elenco que seria anos mais tarde conhecido na TV. A bela Kim Katrall já desfilava toda sua acidez da fogosa Samantha de Sex and the City e a jovem Kate Burton, nem imaginava que mais tarde, seria Ellis Grey, a mãe da médica mais famosa da TV.



8 – O rapto do menino dourado (The Golden Child,1986) 

Eddie Muprhy foi o escolhido para estrelar esta aventura com alto teor de comédia que traz o rapto de um menino tibetano que seria a encarnação de Buda para trazer ao mundo a Paz e compaixão. E claro, que os seres das trevas, representado pelo Diabo não poderia deixar isso acontecer. Através de seu emissário Sardo Numspa (Charles Dance) ele sequestra o menino e o mesmo teria que se alimentar de sangue para poder ser morto. Eddie vive o mesmo policial cínico e escrachado de Um tira da pesada só que dessa vez a missão é sobrenatural. Além disso, o filme, que não deixa de ter bons momentos, sobrevive graças ao carisma exagerado do ator, que parece estar fazendo uma daquelas comédias stand up. É muito Eddie Murphy na tela, porém muita diversão também.


9 – Viva! A babá morreu! (Don't Tell Mom the Babysitter's Dead, 1991) 

Mais uma história de emancipação adolescente. Quando a babá contratada morre de um enfarto fulminante, as crianças não sabem o que fazer com o corpo da Senhora. Só há certeza em uma coisa: o ocorrido deve ser escondido dos pais, que se soubessem voltariam para casa. A princípio, só alegria pelo gosto da liberdade, mas quando percebem que o dinheiro estava com a velha, a filha mais velha Sue (Christina Applegate) arruma um emprego com um falso currículo. Ela se faz passar por uma mulher mais velha, mas como não tem experiência, cria as maiores confusões no ramo. A trama pode até ser fraca, mas na época era mais um “meio” dos filhos sonharem em estar na pele daquelas crianças por um tempo. 



10 – De volta à Lagoa Azul (Return to the Blue Lagoon, 1991) 

Depois do estrondoso sucesso de A Lagoa Azul estrelada por Brooke Shields, Milla Jovovich (outra beldade) retorna à canga e as praias afrodisíacas de Lagoa azulina. Tudo acontece depois que os pais do pequeno Paddy são encontrados por um veleiro mortos em uma canoa. Sarah (Lisa Pelikan) uma viúva que estava no veleiro com sua filha, resolve adotar o fruto do Amor do casal de jovens do primeiro filme. Tudo ia bem, até que um surto de cólera no navio recoloca a viúva, sua filha Lilli e o pequeno Paddy na mesma Ilha. Quando Sarah morre, cabe a Paddy tomar conta de Lilli e tudo se repete na Ilha em que viveu seus pais. Ambos se apaixonam, mas os desafios são maiores pois um grupo de uma outra embarcação chega a Ilha causando confusão. O clima romântico da primeira sequência é mantido, e durante algum tempo, acreditei que este filme se tratava do clássico, pois são muito parecidos. 


Abre parêntese: não dá pra mencionar infância sem se lembrar de um personagem que embora não faça parte da história do cinema, faz parte da história da infância de muitos. O mexicano Roberto Goméz Bolaños foi o gênio que se inspirou em dois outros gênios Shakespeare e Charles Chaplin. Com essas inspirações, foi fácil para Chaves mostrar que na vida ainda havia espaço para sentimentos tão puros quanto de uma criança e tão nobres quanto de adultos. Alguns podem até não ser fã do programa ou do personagem que criou, mas certamente jamais esqueceram o que viram por pelo menos uma vez. Bolaños com muita competência, fez com que toda criança tivesse no coração todas os sentimentos que crianças deveriam ter. Neste momento, o mundo de muitos está de luto, mas no coração desses mesmos muitos não há espaço para tristeza, e sim agradecimento. Obrigado eterno Chaves!

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Clube de Compras Dallas (2013)

Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, 2013)
Direção: Jean-Marc Vallée
Com: Matthew McConaughey, Jared Leto e Jennifer Garner

Nota: 9
Dando continuidade aos filmes que marcaram o ano, vamos relembrar Clube de compras Dallas

É difícil classificar só assistindo a quase duas horas de projeção. Não se sabe se é uma obra didática, um clamor contra a marginalização de pessoas recriminadas pela sociedade por conta de opção sexual ou um relato dramático de uma história real. Então que tal juntarmos isso tudo? 

Craig Borten e Melisa Wallack nos levam a uma montagem quase perfeita de um início meio que um fim. Nos primeiros minutos, vimos o cowboy Ron Woodroof (Matthew McConaughey) resumindo numa só sequencia todo seu personagem. Mulherengo, viciado em sexo e drogas ilícitas. Em outros tempos, de cara, poderíamos atribuir todos estes predicados a um criminoso, a uma pessoa detestável. Mas o mérito da história de Ron está em desmistificar este padrão antiquado de mocinhos e vilões. E depois de uma brilhante e natural transformação do personagem, foi neste contexto que se firmou o filme contando como ele conseguiu afrontar um diagnóstico de 30 dias de vida e viver mais 7 anos depois da sentença de que se tornara um portador do vírus HIV. 

A palavra sentença definia muito acertadamente quem contraía o vírus até então desconhecido no início dos anos 80. Tão desconhecido a ponto de ser taxado de homossexual a pessoa portadora. Na visão de muitos na época, a Síndrome da Imunodeficiência adquirida, ou popularmente conhecida como AIDS, era “doença de viado”, como bem colocado numa zoação do grupo de Ron a Rock Hudson, galã hollywoodiano que assumiu a homossexualidade e morreu de AIDS em 1985. Assim não muito tardou e Ron, um garanhão homofóbico, sentir na pele o mesmo julgamento depois de ser diagnosticado. Este fato desencadeia a grande mudança de rumo da história e o start para a transformação do cowboy. 

Diante de vários “Não” dos médicos e ficar estagnado na burocracia da FDA que ainda testava as drogas com pacientes mais “qualificados”, ele decidiu agir por conta própria. Primeiro recorreu ao próprio bolso para pagar um faxineiro e conseguir a medicação que necessitava. Esta parceira terminou, mas deu início a uma outra. No México conheceu um médico que tratava os pacientes como ele com remédios alternativos não aprovados pela FDA. Três meses depois de uma violenta crise, ele descobre que a causa foi o AZT, o mesmo coquetel de drogas que seria a “salvação” dos doentes. Ron se engaja em várias pesquisas sobre a doença, e vê o vislumbre de mais uma boa parceria, só que agora bem mais duradoura e lucrativa. Ele ficaria encarregado de alertar a todos os pacientes americanos sobre os riscos do AZT e vender a eles a medicação alternativa que usou para se recuperar. Um bom negócio, que de quebra ajudava a ele e a outros terem mais chances de ter uma existência melhor. Uma forma quase perfeita de unir o útil ao agradável. Assim nascia o Clube de Compras Dallas, um dos vários espalhados pelo país bem abordado no filme. 

O diretor Jean-MarcVallée ajuda na construção da mescla de todos os elementos citados anteriormente. A direção de arte exibe os anos 80 diferente do que estamos acostumados a ver. Figurinos mais sóbrios e objetivos, sem aquele exagero característico de quem deseja retratar a época. Já o roteiro consegue se firmar na boa montagem, e segue linear sem nunca cair na dramatização excessiva. Vai direto ao ponto e com isso age naturalmente dando espaços para outros personagens interessantes além do cowboy “empreendedor”. A médica vivida por Jennifer Garner, que vai de crédula ao Sistema de Saúde em que trabalha a uma profissional decepcionada; o policial dividido (Steve Zahn) entre cumprir a Lei ou ludibria-la em deferimento a seu pai doente. Ah, sim, e ainda temos Raymound ou “Rayon”, um transexual também doente divinamente defendido por Jared Leto.

Leto, Garner e McConaughey: trio protagonizando cenas tocantes

A parceira de Ron com seu médico e clientes não foi muito diferente da parceria de seu intérprete com seu colega de cena. Com isso ambos foram contemplados com o Oscar numa dobradinha inesquecível. Tanto McConaughey quanto Leto abraçam seus personagens como deveriam: de forma natural, sem exageros e ambos trabalharam muito para manter a aparência impactante do filme. É comum alguns atores se destacarem e até serem também contemplados com o Oscar por conta da caracterização física. Jamie Foxx em Ray, Charlize Therón em Monster, Marion Cotillard em Piaf e Meryl Streep em A dama de Ferro. Todos podem até ter merecido o Oscar, mas diferente da dupla de Clube de Compras, a caracterização neste caso não apenas impulsionou, mas deixou fluir naturalmente traços de humanidade em seus personagens, sem o risco do ônus que fomentam a crítica especializada nestes casos. 

Voltando a temática do filme, vamos classifica-lo como um drama real com forte contexto didático e um tímido clamor contra o preconceito. O que deu liga a todos estes elementos foi justamente algo em que a trama se sustenta. A humanidade explorada com segurança nas vias boas e ruins de cada um deles. Que não trata de mocinhos e vilões. Apenas esclarece algumas questões que ficaram pendentes aos mais leigos no passado e que trazidas à tona hoje, ajudam a reforçar que o objetivo principal de todos os avanços deve ser o Ser humano sempre. Isso ficou explícito na cena final quando mesmo perdendo no Tribunal a disputa com a FDA, Ron foi ovacionado por todos na chegada ao escritório. Uma cena marcante, mas que tirou a nota 10 do filme com a proposta de não construir heróis, mesmo ocasionais. 

Em suma, McConaughey protagoniza um filme tão visceral, porém mais enxuto que O Lobo de Wall Street, tão histórico porém mais objetivo que American Hustle, e tão didático, porém muito mais apreciável que o aclamado 12 Anos de Escravidão. 

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Perfil: Leonardo DiCaprio - 40 anos em muitas vidas

"Tenho interesses em filmes socialmente comprometidos. Mas, se a história não for boa, e não emocionar o espectador, não vai interessar"

Filho da alemã Irmelin Idenbirkin e do ítalo-germânico George Di Caprio, Leonardo Wilhelm DiCaprio nasceu num ambiente privilegiado. Sua estrela brilhou pela primeira vez em 11 de Novembro de 1974 em Hollywood, ou seja, já estava fadado ao estrelato. O pai, quadrinista independente, conviveu com grandes nomes da música, dando ritmo à infância do ator. O célebre cartunista underground Robert Grumb e o escritor Charles Bukowski eram presenças constantes na vida do ator, que desde os 5 anos já atuava em comerciais e seriados.

Sua brilhante carreira deu início aos 17 anos no filme de terror Criaturas 3 (1991). O desempenho de Leo em Growing Pains, onde viveu um adolescente sem teto chamou a atenção do diretor Michael Caton-Jones e logo brilhava em O despertar de um homem (1993) ou seria o despertar de um astro? Cerca de 400 garotos fizeram teste para o personagem, mas com o aval do protagonista, um tal de Robert De Niro, Leo ficou com o papel do escritor Tobias Wolf. 

Depois deste “apadrinhamento” concorrer ao Globo de Ouro e ao Oscar no ano seguinte foi fácil. Como o irmão excepcional de Jhonny Deep em Gilbert Grape – aprendiz de sonhador (1994), ele arrancou além das duas indicações para melhor ator coadjuvante, aplausos merecidos do público e da crítica. Começava aí sua perseguição a Estatueta Dourada. 

Nos anos seguintes sua carreira se consolidou com papéis fortemente dramáticos. Em 1995 ele viveu dois destes personagens. O escritor Jim Carrol em Diário de um adolescente e o poeta bissexual francês Arthur Rimbaund em Eclipse de uma paixão. Reencontrou De Niro em As filhas de Marvin (1996) e ganhou o Urso de Prata em Berlim por Romeu e Julieta no mesmo ano. Mesmo diante de tanto reconhecimento conquistado de forma tão precoce, nada se compara ao que aconteceria em 1997 com o megasucesso Titanic.

“Havia muita pressão sobre mim e fui rotulado como um produto. Mas nunca cheguei a me descontrolar.” Esta constatação fez DiCaprio pensar em parar de atuar por um tempo após a chamda leomania, consequência do sucesso do longa de James Cameron. Quanto mais recordes o filme batia, mais aumentava a fama do jovem galã. Em Fevereiro de 2000 quando foi lançar o filme A Praia, o primeiro após Titanic, ele ainda atraía os gritos estéricos das garotas. Na época o ator nunca se imaginou nestas condições na carreira e depois de 10 anos, acredita ter desenvolvido mais ferramentas para o trabalho de interpretar. Titanic foi mesmo um divisor de águas em sua carreira, uma vez que posteriormente chegou a receber um cachê equivalente a de grandes astros como Harrison Ford e Mel Gibson e se colocou na mira de Spielberg, Woddy Allen, Ridley Scott e Martin Scorsese, a quem considera seu mentor. Com ele construiu uma sólida parceria de sucesso, incluindo Gangues de Nova Iorque (2003) e o vencedor do Oscar de 2007, Os Infiltrados.

Dando continuidade à sua brilhante trajetória no cinema, DiCaprio seguiu um estilo interessante de trabalho ao se dedicar inteiramente a projetos de valor dramático e artístico, ao lado de diretores e atores do primeiro time de Hollywood. Com estes títulos, sempre foi lembrado para premiações como o Oscar e o Globo de Ouro. Em 2008 conseguiu a proeza de ser duplamente indicado para o prêmio de Melhor Ator por Os Infiltrados e Diamante de sangue

Mesmo com seu talento já confirmadíssimo entre indicações e premiações, DiCaprio ainda é apontado como o astro mais injustiçado da história da Oscar. Seus últimos trabalhos mereciam um prêmio, especialmente Django livre (2012), estranhamente preterido a Christopher Waltz, numa atuação abaixo no longa de Tarantino. O detalhe é que Waltz acabou ainda assim abocanhando o Oscar. Em O Lobo de Wall Street (2013) mais um show, mas acabou sendo derrotado pela performance também louvável de Matthew McConaughey em Clube de Compras Dallas. O jejum de DiCaprio é algo que já rendeu muitas gifs e piadas na Internet, mas não pelo lado pejorativo e sim, soando mais como um reconhecimento de seu talento e clamor pelas injustiças que segundo alguns críticos e fãs, é notória sim. 

Fora das telas, a imagem de bom vivant desapareceu com o amadurecimento pessoal paralelo ao profissional. Os romances ficaram mais duradouros e em 1998 ele se engajou na defesa do Meio Ambiente criando a Leonardo DiCaprio Fundation e costuma militar ao lado dos Democratas Americanos. Diante de todas estas qualificações, é impossível não rotulá-lo como um dos maiores exemplos de astros que conseguem conciliar uma beleza transcendental com um talento extraordinário de construir personagens tão cativantes quanto sua postura de ídolo de uma geração. Um Astro de 40 anos que transitou com muita segurança por todas as gerações. Um ator que soube dar a todos os seus personagens uma regularidade impressionante. Um gato de todas as faces que sempre representou bem muitas vidas.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Menina de Ouro: 10 anos de emoções douradas

Menina de Ouro (Million Dolar Baby, 2004)
Direção: Clint Eastwood
Com: Clint Eastwood, Morgan Freemam e Hillary Swank
Nota: 10

Dez anos após sua realização, a grandeza deste pequeno grande filme continua enchendo os olhos e o coração de quem assiste. Sim, ele é emotivo, sentimentalista, e para os mais céticos, um “drama mexicano”. Porém jamais fugiu destas mesmas características para o qual foi criado. Emocionar, e como tal, carregar no chamado tragi-drama. Portanto, se você não é fã deste estilo, passe longe, pois neste ponto, deu um nocaute até nos mais gelados. 

Menina de Ouro começou surpreendendo a todos pelo “cabeça” do projeto. O durão Clint Eastwood produziu, dirigiu e atuou nesta pequena obra-prima de um pouco mais de 2 horas. Mistificado por seus personagens fortes no gênero faroeste, Clint se superou como um ator que também sabe fazer chorar. Aqui ele dá vida a Frank Dunn, um ex-treinador que agora trabalha numa Academia de Boxe decadente. Respeitado no meio por ser uma espécie de descobridor de talentos, logo se torna alvo da determinada garçonete aspirante a boxeadora Maggie Fitzgerald (Hillary Swank), que embora esteja velha demais para iniciar uma carreira no Boxe, o convence de que assim como ele, pode surpreender. Ambos têm personalidades fortes e não dão o braço torcer. São estas semelhanças providenciais que dão a liga na forte relação que se cria lembrando pai e filha. Ambos tem muito em comum. A vida não fora generosa com eles em seu meio familiar. Enquanto Frank sofre com o desprezo da única filha, Maggie é menosprezada pela sua família. Sua mãe egoísta (Margo Mantindale), a irmã golpista e o irmão malandro querem viver do dinheiro de sua profissão, mas tem vergonha dela. 

Frank e Maggie criam mais que um laço profissional quando a menina de ouro começa a ganhar fama. O talento de Maggie se sobrepõe a sua idade e com muita determinação, ela vai derrubando todas as adversárias até chegar a luta pelo título. Até chegar no momento crucial de sua vida e da vida de seu treinador, amigo e pai postiço. 

É neste enredo que o filme chama a atenção e ganha muitos pontos. Essa troca de interesses profissionais e profundamente pessoais dos personagens é bem delineada num roteiro maravilhoso escrito por Paul Haggis, o mesmo da miscelânea Crash, obra vencedora do Oscar de 2006. Roteiro esse cheio de cenas sensíveis e metáforas certeiras como a história de Maggie, seus irmãos e o cão que teve de ser sacrificado pelo seu pai. É interessante como o passado da personagem vem à tona de forma casual, sem o recurso previsível de flashbacks

A ascensão, glória e “queda” da menina de ouro, age também em momentos importantes protagonizados pelo veterano sempre ótimo, Morgan Freemam como Eddie Scrap, um ex-lutador de futuro promissor que perdeu a visão de um olho por conta de uma luta. Amparado pelo talento de Morgan, contemplado com o Oscar de melhor Coadjuvante, Eddie é uma peça fundamental na trama mesmo que não saia da Academia. É o responsável pela narração da história como sendo uma carta escrita para a filha de Dunn. É ele quem ajuda Maggie a convencer o amargurado treinador e é ele quem consegue defender a honra do carismático “Perigoso(Jay Baruchel), responsável pelo alívio cômico do filme.

Swank e Eastwood: parceria perfeita

Se Freemam brilhou com o texto leve carregado de ironia, Clint na direção não deixou a desejar com um trabalho formidável ao lado de Swank. O valentão mostrou versatilidade por trás e à frente das câmeras. Como diretor, venceu o Oscar, e como ator, concorreu ao mesmo, encarnando um personagem mais real, humano. Swank, atriz talentosa, mas de escolhas complicadas para a carreira, deixa fluir um carisma brilhante para sua personagem ora tão transparente, ora introspectiva em momentos de sofrimento em que as palavras são dispensáveis. Isso valeu também a Estatueta dourada. E olha que ela nem era a primeira escolha para o papel. Sandra Bullock desistiu após o atraso das filmagens. 

A química dos três atores e o talento de cada um ajudou na construção de personagens tão simples, mas ao mesmo tempo compostos. O bom ritmo do filme ditou as passagens de tempo e o decorrer de toda a essência da trama, não deixando que a simplicidade se tornasse banalidade, tendo um grande impacto nas sequências finais mais emocionantes. 

Para aqueles que pensam que o filme de Eastwood é um derivativo do popular Rocky, irá se decepcionar. Mesmo que o filme protagonizado por Stallone seja de grande apelo popular e um inquestionável contexto histórico, as comparações não cabem. A história é mais muito forte e com uma qualidade na trama dos personagens bem maiores que o vencedor do Oscar de 1977. Não é um filme que deixa cenas memoráveis como uma subida na escadaria depois de uma longa corrida. Não é um filme sobre a vitória no Boxe, e sim, sobre pessoas que vivem suas vidas esperando uma chance, buscando algo que as complete. A vitória neste caso não é subir na parte mais alta do pódio, conquistar o cinturão, e sim cada um vencer seus próprios limites, realizar. Quem viu, se realizou e jamais esqueceu!

Em tempo: Menina de Ouro foi o meu primeiro DVD que ganhei de meu irmão em 2005. É algo que marca realmente. Um presente de ouro!