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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

A Lista de Schindler: duas décadas de amor ao cinema e um presente para a humanidade


A lista de Schindler (The Schindler’s list, 1993)
Direção: Steven Spielberg
Com: Liam Neeson, Ralph Fiennes e Ben Kingsley

Nota: 10

A Segunda Guerra Mundial foi o capítulo mais triste de nossa história. Foram seis anos de vergonha que nos levou à beira do abismo ético, moral e social. Os alicerces que a sustentavam tiveram como base o ódio. Uma facção de poder militar e econômico ganha força ao tentar resgatar o orgulho de sua nação. Eles representavam a chamada Raça Ariana e a intitulava como a mais pura, a superior, a que mais se aproximava do ser humano ideal. Aqueles que não seguiam essencialmente seus padrões físicos eram tachados de seres inferiores e, portanto, não eram classificados como seres humanos. 

Negros, asiáticos e indígenas sofreram discriminadamente ao longo da história e durante muito tempo deixados à margem da cadeia biológica. Os negros viram seu continente ser dividido como fatias de pizza pelos europeus e depois transformados em escravos. Os asiáticos tiveram seus templos violados e sua cultura esmagada. Os índios massacrados física e ideologicamente pelos colonizadores e hoje veem pouco a pouco sua cultura sendo jogada ao esquecimento. Todos tiveram que se submeter pela força a uma outra cultura em razão de uma ideia totalmente deturpada de um grupo ao conceituar a raça humana como um todo. Este princípio se tornou a bandeira do Holocausto. A disseminação do ódio da raça ariana pelos judeus durante a Guerra. Segundo este princípio, os judeus eram os responsáveis pela crise que a Alemanha enfrentava naquela época. Assim passaram a ser vítimas de uma campanha antissemita do Nazismo. 

Meios de comunicação em massa foram usados bem como discursos inflamados por todos os líderes do Partido frente à população. Até as crianças foram atingidas, uma vez que nas escolas o que se pregava nas cartilhas era ódio aos judeus. Para sustentar suas afirmações, os Nazistas recorreram a argumentos científicos, que segundo eles, eram inquestionáveis. O judeu não era um ser humano. Eram como ratos, piolhos, insetos nocivos à humanidade e como tais mereciam ser extintos. Eram tratados como animais no sentido literal da palavra. Tiveram suas vidas arrancadas e sua dignidade despida sob todos os aspectos. Foram proibidos de frequentar qualquer local ou estabelecimento público. Depois que tiveram suas lojas e patrimônios destruídos, foram expulsos de suas casas, forçados a viver amontoados numa área restrita que chamaram de Gueto. Este, por sua vez, não era como um cortiço. As condições de vida eram tão sub-humanas que nem de longe poderia se perceber que se tratava de uma moradia humana. Mais lembrava um cercado, um curral. Sua extinção em Agosto de 42, levou sua população aos famigerados campos de concentração. Um lugar que mais parecia uma prisão para animais. Dormiam numa espécie de estábulo e eram marcados como gado antes de trabalharem até a morte eminente. Homens e mulheres saudáveis ganhavam uma sobrevida nos campos. Já as crianças e os idosos eram assassinados em câmaras de gás sem nenhum tipo de consciência ou remorso.

Neste capítulo, o homem mostra sua mais assustadora face como único animal que mata o da mesma espécie. Um a um, 6 milhões de judeus foram exterminados pelas forças alemãs da SS. E este número poderia ter sido maior se não fosse a coragem e compaixão de um homem que arriscou sua vida e fortuna para salvar 1.100 judeus.

Toda essa introdução histórica serve para mostrar o quanto o cinema mexe com emoções daqueles que fazem uma associação pertinente com os rumos da vida real. Isso é o que mais me chama a atenção no cinema. Ter a oportunidade de vivenciar através das telas todas as emoções humanas enquadradas em contextos históricos atemporais. O diretor Steven Spielberg usou dessa mesma sensibilidade para nos trazer uma obra que beirou a perfeição. A Lista de Schindler foi uma ideia concebida por alguém que por ter raízes judaicas, colocou a mesma indignação histórica e paixão cinematográfica ao rodar os takes de cada cena. Detalhe: tudo (ou quase tudo) em preto e branco. Sim, não há cor, não há alegria em cada momento da trama, apenas a visão de uma garotinha com um casaco vermelho, usado simbolicamente como sangue,símbolo do martírio, para chamar a atenção de Schindler. As outras tomadas seguem em alguns momentos depoimentos fiéis daqueles que sobreviveram ao Holocausto, inclusive há um documentário no DVD que conta bem isso. Portanto vejo a obra mais voltada ao cinema documentário do que dramático propriamente dito. 

O theco Oskar Schindler (Liam Neeson) migrou para a Polônia a fim de enriquecer com a Guerra e fez de sua fábrica de armamentos um refúgio para seus 1.100 operários. Á princípio a ideia era lucrar com a mão-de-obra judia, muito mais rentável do que a polonesa. Porém sob a influência indireta de seu sagaz contador judeu Itzhak Stern (Ben Kingsley), ele começa a enxergar todo o sofrimento daquele povo. Suas ações que fugiam do padrão Nazista, Partido do qual fazia parte, chamava a atenção, mas ele conseguia com muito charme e certo cinismo, reverter todas as acusações e ainda esconder o que sua fábrica realmente fazia. Apenas abrigava judeus, nada mais. Oskar gastou toda a fortuna acumulada em deferimento a manipular acordos e negociatas. Em outras palavras, usou seu poder que tinha como um membro, seu capital e Inteligência estratégica para favorecer quem estava condenado a um destino insólito. Só no fim, quando percebeu o quanto desperdiçou em sua incorrigível vida boêmia, se deu conta de que poderia ter salvado mais pessoas numa das cenas de grande emoção e interpretação do ator.

Schindler e Stern: enganando o Nazismo com a confecção da famosa lista

Falando em interpretação, Ralph Fiennes simplesmente entrou para história como o cruel Amon Göth, oficial da SS que nutria uma obsessão pela judia Helen Hirsch (Embeth Davidtz), a quem escolheu a dedo para trabalhar em sua casa no campo de concentração. Só o Oscar pareceu não ter enxergado tamanho empenho do ator, um dos melhores do cinema, dando a Estatueta dourada para Tommy Lee-Jones e seu fraco desempenho em O Fugitivo. Contudo, o que importa para quem não liga para premiações, e sim desempenho, é todo o talento de Fiennes passeando pela tela levando a crueldade e obsessão do Oficial até as últimas consequências numa mescla de asco e admiração para quem assiste. A dupla Neeson e Kingsley deu uma veracidade arrepiante a todas as cenas dos dois homens, empregador e empregado, parceiros e no fim de tudo, amigos. 

Ele não era um Santo. Aquele tipo de herói perfeito que encanta a todos indiscriminadamente, mas teve a sensibilidade de fazer algo pela humanidade que nem mesmo os Santos poderiam fazer. Schindler abriu sua mente e o coração com o devido respeito à cultura judia e assim pôde aprender a valorizar o que nós, seres humanos, temos de melhor. A diversidade cultural. Foi o que serviu como base para a Declaração Universal dos direitos Humanos feita pela ONU (Organização das nações unidas) após a Guerra. Entender que o que nos separa é justamente o que nos dá mais força e equilíbrio. Divergências culturais são saudáveis para todos nós. Contudo, é preciso saber separar estas divergências de qualquer tipo de preconceito. Quando nos tornemos ditadores de princípios que julgamos serem os melhores, os mais adequados à humanidade, cometemos um erro que nos torna tão irracionais quanto animais. São formas graves e inaceitáveis de preconceito de quem se considera parte da mesma raça. Somos únicos e cada qual contribuiu da sua forma para uma lista universal da Paz. A lista de todas as raças sublinhada com amor, fraternidade e respeito a todas as formas de diversidade. Este é um presente tão significativo para a humanidade quanto a obra de Spielberg para o cinema. 

Como puderam notar, o texto não se tratou apenas de uma crítica cinematográfica e sim um desenvolvimento propício à mensagem destes tempos. Tempos de reflexão para mais um ano que se aproxima. Mais um vivenciando tudo que a sétima arte pode nos oferecer, como esta obra emocionante que atravessou duas décadas carregando todo o status de cinema feito como arte para entrar na história. 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Jogos Vorazes - A Esperança - Parte 1 (2014)

Jogos Vorazes – A Esperança – Parte 1
(The Hunger Games: Mockingjay – Part 1)
Direção: Francis Lawrence
Com: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Donald Sutherland, Julianne Moore, Woody Harrelson, Elizabeth Banks e Phillip Seymour-Hoffman

Nota: 8

Pra quem ainda insistia em comparar a franquia estrelada por Jennifer Lawrence com outros filmes adolescentes e afins, certamente deve ter revisto a sua opinião após assistir Jogos Vorazes – A Esperança – Parte 1. Com uma trama bem mais madura e menos colorida como as anteriores, o diretor Francis Lawrence acerta em dar um tom mais reflexivo ao começo do fim. Não há mais a loucura megalomaníaca de jovens se matando, apresentações ofuscantes de figurinos em desfiles e corrida desenfreada pela sobrevivência numa ação interrupta. Aqui, o papo é mais sério e os jogos acontecem em outro território. 

Depois de ter mandado ao chão literalmente todo o “circo” de opressão do Presidente Snow (Donald Sutherland), a jovem Katniss Everdeen (Lawrence, incrível) agora tem que unir forças para viver uma nova realidade fora dos jogos. E é neste processo que baseia toda a estrutura do filme. Katniss se vê perdida em meio a uma trama que não escolheu fazer parte, mas que precisa protagonizar. Ela quer proteger sua família, seus amigos e ainda de quebra, saber se seu parceiro Peeta Mellark (Josh Hutcherson) está vivo. Peeta foi um dos vencedores que terminou o último filme capturado pela Capital. A grande revelação de seu paradeiro ocorre por meio da TV quando todos ficam a par dos planos de Snow, que o usa como arma contra aquela que agora é a inimiga número 1 do tirano de barba branca e fala macia. Aliás, fala é que não volta ao filme. Tudo é mais dialogado, sentimentos humanos ainda emergem entre operações de espionagem e farpas políticas e mesmo com o fim dos Jogos, a mídia continua tendo sua importância por onde trava-se uma disputa interessante pelo Poder. Snow quer manter todos os Distritos ainda sob controle e acabar com a imagem de Katniss, transformada em uma espécie de arauto da Rebelião, que ecoa pelos 12 distritos, ainda que de forma tímida e não organizada. Em outras palavras, Snow acabou dando um tiro no próprio pé dentro de seu jogo de manipulação através dos holofotes, criando uma heroína tão magnética quanto sua intérprete. É aí que entra uma outra parte interessante do longa. 

Katniss irá se juntar ao chamado Distrito 13 composto por uma força militar desconhecida por PANEM aos cuidados da Presidente Alma Coin (a sempre ótima Julianne Moore) que também usa dos recursos tecnológicos e midiáticos para dar o troco a qualquer pretensão de Snow. Esta central da Rebelião esperava por algo, alguém, alguma chama de esperança para enfim estabelecer a ordem de forma democrática no país, e o mais importante, sem mortes violentas de jovens inocentes. Alma parece o oposto de Snow, embora conserve algumas características do mesmo, como a importância de priorizar certos tópicos nesta Guerra. Assim ela bate de frente com a (ainda) relutante Katniss, a quem conclui, inicialmente, não ser a garota que Plutarch (Phillip Seymour-Hoffman) mencionara com tanto entusiasmo para ela. Neste ponto não podemos tirar dela a razão, afinal, Katniss parece mesmo uma mocinha paradoxal, capaz de derrubar um aeroplano, mas que aparece chorando pelos cantos por conta de um Amor que a mim até agora não convenceu. Afinal, Katniss ama ou não ama Peeta? Eis a questão! 

Não li nenhum dos livros de Suzanne Collins e não sei qual o teor da relação entre os dois jovens descrita lá, mas pelos filmes, a impressão que tenho é que há algo forçado em muitas situações. Quando foram para os Jogos na primeira sequência, ambos nem ao menos se falaram, embora fossem do mesmo Distrito. Com o desenvolvimento de toda a tensão dos jogos, criou-se um forte laço entre eles. Laço que foi responsável pela permanência de ambos nos jogos e para que se sagrassem campeões. Depois do triunfo, estão mais distantes do que nunca, apenas representando, tentando convencer a todo país que são um casal apaixonado até Peeta parar de respirar dentro da arena e Katniss se desesperar. Dúvida sanada? Pode ser dentro das pretensões da história, mas a mim ainda não convenceu, há algo tão superficial no ar quanto a interpretação do jovem Hutcherson. Neste caso, ponto para o casal de Crepúsculo, que ao menos tem uma química considerável que levou com certo sucesso a famigerada série. Em outras palavras, a relação de Katniss e Peeta parece romance sustentado única e exclusivamente para situações vistas nesta terceira sequência como Snow usando o rapaz como o calcanhar de Aquiles da jovem heroína. “São as coisas que mais amamos, é que nos destroem”. Belas palavras, que funcionariam melhor se tudo fosse mais crível quando se trata de Katniss e Peeta nos filmes.

Embora o livro seja classificado como romance e carregado dessa forma na adaptação para o público alvo, eu prefiro me concentrar na essência da batalha, no foco, no pano de fundo da criação da franquia. A luta pela Liberdade, o fim da opressão foi o que me pegou a acompanhar a saga de Katniss. Romance, triângulos amorosos, e todo o sentimentalismo que o envolve, poderiam perfeitamente ficar em segundo plano pra mim. Isso deixa o filme sem ritmo e a heroína sem brilho em certos momentos. Porém entendo os esforços de todos envolvidos para que a franquia não desabe no interesse dos jovens, que adoram ter um casalzinho para shippar (torcer), como foi bem colocado na primeira sequência de 2012.

Katniss como o Tordo, símbolo, da revolução: a faceta mais interessante da heroína

O roteiro mais lento, arrastado, de momentos mais contemplativos tem seu bônus e ônus. Se por um lado a escalação do elenco com atores talentosos, a direção de arte mais profissional, a proposta mais atemporal e revolucionária desmistifica a obra erroneamente vista como “um Crepúsculo da vida”, este mesmo ritmo acabou fazendo o roteiro de Danny Strong (gente....é o Jonathan de Buffy!) quase pender para o nonsense. Um mal necessário pela gana dos produtores por cifras. A ideia de dividir a obra em duas partes, explica um pouco o porquê da falta de criatividade de Hollywood hoje, esticando ao máximo certos produtos de retorno. Se por um lado, é preciso tomar parte de reflexões que envolve o cenário de Jogos Vorazes, por outro, é arriscado se tratando da maioria dos fãs que espera por algo mais bombástico. Neste caso, por segurança, tudo poderia ter sido perfeitamente condensado em um único longa com um tempo maior se necessário. 

Sobre o elenco, quem lê meus textos, sabe de toda a admiração que tenho pelo trabalho de Lawrence, uma atriz na maior concepção da palavra. Arrisco dizer que se não fosse por ela, Katniss não seria nem metade do que é. Para compor todas as nuances da mocinha de arco e flecha, era essencial uma atriz que segurasse todos os momentos de drama, tensão e até mesmo os mais românticos, visto sua empatia junto ao público. Até quando tem que ser canastrona, ela se dá bem como na passagem em que fica à frente das câmeras como o “rosto da rebelião”. Um momento cômico em meio a toda tensão. Sutherland, veterano e seguro. Aliás sobre Sutherland lembramos de uma experiência com este tipo de público, embora não muito bem sucedida em 1992 no filme Buffy – A caça-vampiros em que vivia Merrick, o Sentinela da caçadora. Sobre Moore é tão boa que não precisa de cenas escalafobéticas para ser contemplada. Elizabeth Banks, mesmo sem todo o aparato de carro alegórico e maquiagem, se saiu bem, mostrando que a superficial Effie tem sim muito sentimento. O mesmo não posso dizer de Stanley Tucci, que aqui apareceu como figurante. Não sei se terá importância na segunda sequência, mas se assim for, poderiam perfeitamente escalar um outro ator assim como Woody Harrelson, apagado com a sobriedade de Haymitch. Quanto a Seymour-Hoffman, é uma tristeza enorme saber que toda esta competência não será mais vista. Cumpriu de forma brilhante o seu papel, elevando a franquia, que com um pouco de boa vontade desfaz com sobras a imagem que tem perante aos críticos mais ácidos. 

Jogos Vorazes começou revolucionando o conceito de obra voltada para o público teen, amadureceu essa ideia na segunda parte e agora colhe os frutos de todo esse comprometimento que foge da mediocridade de obras de mesmo gênero. É cinema de entretenimento com apetite voraz tentando mostrar algo a mais dentro dos moldes do gênero, afinal, não é apenas de brilhos reluzentes ao Sol ou estatuetas douradas na estante que se faz a sétima arte. 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Planeta dos macacos – o confronto (2014)

Planeta dos macacos – o confronto 
(Dawn of the Planet of the Apes, 2014)
Direção: Matt Reeves
Com Andy Serkins, Jason Clarke e Keri Russel

Nota: 6,5

Sinceramente muito me irrita a insistência de Hollywood em arrasar com clássicos. Carrie – A Estranha é um ótimo exemplo com o fiasco protagonizado por Chloe Moretz e Julianne Moore. Ben-Hur ganhou um seriado dispensável e vira e mexe trazem à tona Indiana Jones, Rambo e Rocky Balboa. Agora a ideia é uma nova aventura da saga Stars Wars e Jurassic Park. Salvem-se quem puder! Crise de criatividade? Ou o objetivo seria mesmo conquistar através de uma nova roupagem um público mais jovem? Só acho que se o público jovem tivesse realmente interesse em clássicos, iriam procurar pelos originais e não pelas tentativas fracassadas de novas produções. 

É o que acontece justamente com Planeta com macacos, que em 2011 até ganhou um ótimo teaser contando como começou se propagar o vírus que extinguiu a humanidade. A ideia foi aceitável pra quem assistiu (ou não) ao clássico de 1968 protagonizado por Charlton Heston. Ir até a raiz da grande história. Nele, conhecemos o primata Cesar que construiu um laço bem sólido com o cientista Will Rodman, interpretado pelo carismático James Franco. O segundo da franquia se inicia praticamente da maneira que terminou o primeiro. Mostrando como o vírus se propagou e toda a mobilização de mídia, Exércitos, e etc...personagens que estão sempre presentes em roteiros apocalípticos. Um ótimo gancho certo? Pra quem gosta de ver tudo e não enxergar nada, talvez. Tudo o que vimos neste filme de Matt Reeves foi uma sucessão exagerada de encontros e desencontros que levou a uma guerra inevitável entre humanos e macacos. 

Dez anos depois e sem ter tido nenhum contato com humanos, Cesar (Andy Serkis) lidera o grupo de macacos em rondas pela cidade devastada até que uma equipe de cientistas lideradas pelo Doutor Malcolm (Jason Clarke) invade seu território atrás de suplemento de energia por uma represa. O problema é que a represa está no território dividido aleatoriamente pelos macacos e Malcolm tem que convencer Cesar a deixar que eles usem o reservatório para sobrevivência. A princípio relutante, o líder dos macacos só deixa que eles fiquem por um dia depois que a Doutora Elmira (Keri Russel) ajuda sua esposa que está à beira da morte após de dar à luz a seu segundo filho. O clima parece de recomeço, mas um mal entendido proporcionado por um dos homens de Malcolm e Koba (Tobby Kebell) o braço direito de Cesar, reinicia uma guerra com um desfecho que já sabemos.

Malcolm e Cesar: uma imagem forte que correu
o mundo para alavancar o filme
Planeta dos macacos - A origem nos trouxe uma trama bem amarrada e com ótimo desfecho. Assim sendo, a meu ver, não havia necessidade de se criar mais duas sequências. Se o filme anterior mostrou o que queríamos saber, e terminou de forma que entendemos o que aconteceu com o mundo, é desnecessário (com exceção para os grandes estúdios) mostrar todo um confronto entre humanos e macacos em Planeta dos macacos – O confronto, o segundo da franquia. Quando um filme se torna previsível, consequentemente se faz como um grande desperdício de tempo e dinheiro. É claro que nele estão contidas mensagens importantes como "o Mal, a malícia, existe em todo o Ser, seja ele humano ou macaco", e algumas cenas marcantes de imagens fortes como o abraço entre Cesar e o Doutor Malcolm, mas é muito pouco diante de uma história totalmente dispensável, que daqui a 46 anos ninguém não vai nem citar em roda de conversas amadoras sobre cinema. 

Em termos de elenco, James Franco faz uma tremenda falta no filme e no roteiro, pois nem foi mencionado o que realmente aconteceu com o seu Doutor Rodman. Jason Clarke perde feio pra Serkis como macaco e Russel, Felicity forever. Nada mais a comentar. Pelo menos ela teve bem mais importância que Gary Oldman, que praticamente aceitou fazer figuração em quase 3 horas de fita. Depois perguntam o porquê dele nunca ter ganhado um Oscar.....

O que salva em O confronto é justamente o que tem de excesso em Planeta dos macacos – A origem. Este ficou um pouco tendencioso a apontar humanos como vilões e macacos como mocinhos, a evolução foi que aqui houve uma inversão de valores interessante. O vilão é o macaco braço direito do Líder, mas que não chega nem a assustar devido a trama fraca. Se elevaram a inteligência de macacos como ele no primeiro, aqui simplesmente os reduziram a meras vilãs de novela das oito com planos bobos para conseguir o que quer. Ou seja, a evolução dos macacos vista em poucos anos no primeiro parece ter se estagnado em mais de 10 anos..... 

Confesso que já esperava me desapontar, afinal, com uma história tão conhecida, é impossível ainda surpreender. Porém acho que serve de alerta para Hollywood, que a meu ver, anda sofrendo e muito com falta de criatividade com tentativas de manchar a boa memória de grandes clássicos. 

sábado, 6 de dezembro de 2014

O melhor e o pior de Jennifer Lawrence


Considerada por muitos a melhor atriz de sua geração e odiada por outros tantos pela onipresente imagem na mídia, fato é que esta jovem atriz já está entre as melhores e mais famosas de Hollywood. Deveras premiada por seus trabalhos, aos poucos vai adquirindo a experiência necessária para lidar com os percalços que aparecem como consequência da superexposição.

Se a parte pessoal ainda precisa dessa maturidade, a profissional está bem melhor encaminhada neste sentido com a escolha de seus projetos. Jennifer já provou que é uma atriz capaz de fazer todo e qualquer tipo de trabalho. Mesclando blockbusters, dramas e comédias românticas, não foi à toa que conseguiu o status que tem. Isso é inegável, até mesmo para aqueles que insistem em dizer que ela é superestimada e que apenas escolhe bem os seus trabalhos. Não discordo da segunda avaliação, afinal, foi bem complicado avaliar os trabalhos mais famosos e encontrar algum em que ela tenha ido mal. No entanto algumas obras divide opiniões, são até questionáveis, mas Lawrence nunca deixou que sua presença em cena passasse desapercebida. 

Ree Dolly (Winter’s bone, 2010) – foi o grande boom da carreira da Jennifer, antes havia feito filmes que passaram em branco e pequenas participações em shows de TV como Cold Case e Medium. Neste filme independente dirigido por Debra Granik, ela segurou uma personagem forte. Ainda muito jovem, Ree foi obrigada a cuidar da mãe e dos irmãos com o desaparecimento do pai. No filme, ela busca por ele para não perder sua casa e enfrenta as pessoas mais perigosas do lugar. Até agora a melhor atuação da atriz, a grande surpresa na festa do Oscar em 2011.


Mistica/Raven Darkholme (Franquia X-men) – com a nova proposta de produção para os filmes dos famosos mutantes, um elenco talentoso deu o start para a nova Era dos homens de Xavier no cinema. Chega de canastrice! Assim um grande acerto foi inserir nomes como o de Jennifer no casting das sequências, que já superaram em qualidade a fraca primeira franquia. A popular Mística não poderia ter caído em mãos melhores para delinear com muito mais humanidade o que se esconde por detrás da mórfica, mas como todo filme voltado para o gênero, há quem considere um grande sucesso e outros um enorme desperdício de tempo e principalmente dinheiro.


Tiffany Maxwell (Silver Linings Playbook, 2012) – no filme que lhe rendeu o Oscar perdido em 2011, e tantas outras premiações, Jennifer protagoniza uma comédia romântica diferente. A arredia Tiffany perde o marido de forma trágica e acaba num processo quase irreversível de rebeldia, se fechando para o lado bom da vida, até encontrar a possibilidade de um novo Amor no personagem de Bradley Cooper. Parece clichê de tantas outras comédias românticas, mas o perfeito entrosamento entre a atriz e o companheiro de cena, o roteiro mais sólido e adulto, ditam todo o bom ritmo da trama de David O.Russel.  


Elissa (House at the of the street, 2012) – neste thriller ao lado de Elisabeth Sue, ela abre mão de jovens heroínas e mocinhas de família para viver a líder de uma banda que se muda para uma cidade provinciana inundada por uma terrível história de assassinato familiar. Ela e a mãe acabam se tornando vizinhas de um misterioso rapaz pertencente a tal família. Como a maioria das jovens, vive conflitos familiares, mas não é nisso que o filme se condensa e sim num equívoco querendo se passar por suspense/terror teen. Se não fosse pela curiosidade de ver Lawrence em cena, que infelizmente em nada acrescenta a esta bobagem, certamente ele passaria batido. 


Rosalyn Rosenfeld (American hustle, 2013) – a esposa tempestuosa e ao mesmo tempo melancólica de Christian Bale no longa de David O.Russel, rendeu a atriz um Globo de Ouro e mais uma indicação ao Oscar. Com tantas nuances de personalidade, Jennifer brilhou intensamente segurando bem os altos e baixos da pobre mulher, mesmo que o papel a meu ver pedisse uma atriz pelo menos 10 anos mais velha. Por esse detalhe, talvez ela tenha perdido o Oscar, minando um pouco o crédito de sua interpretação junto aos críticos mais exigentes. Há quem afirme que ela e Amy Adams tenham sido escaladas para papéis trocados, embora ambas tenham se saído bem. 


Katniss Everdeen (Franquia Hunger Games)“ela é uma espécie de Joana Dar’c”, assim Jennifer define esta jovem corajosa que nasceu e viveu num Distrito pobre da tirânica Panem, que para manter a ordem estabelecida desde a última revolução, criou um evento chamado Jogos Vorazes. Cada distrito deve entregar duas crianças, adolescentes ou jovens para participar dos jogos em que apenas uma delas sobrevive. Quando a irmã de Katniss é sorteada, ele se oferece como tributo, ganhando já de cara a empatia do público. Uma nova revolução começa quando ela vence os jogos e se torna o símbolo de esperança para toda uma nação. Bem parecido com o papel da atriz hoje. Um símbolo entre os jovens. 



Carismática, autêntica e por consequência, sem papas na língua, ela vai abrindo caminho com segurança para entrar na história do cinema pela porta da frente. E nós, fãs do cinema de todos os gêneros, agradecemos pela grata surpresa em meio a uma enxurrada de jovens promissores que se deixam levar por tudo, menos pelo trabalho e dedicação à profissão e acabam se perdendo em meio aos ingratos holofotes. Lawrence sabe que a carreira pune quem não se compromete a administrar a imagem e os trabalhos que faz tanto para jovens quanto para adultos, e tudo que envolve sua imagem hoje. A responsabilidade bem como as consequências que carrega depois que adentrou esta porta. No entanto nunca tentou e não ao menos tenta ser melhor e nem pior do que ninguém. Este tipo de avaliação cabe a quem está de fora torcendo ou não para que este caminho seja permeado de bons frutos no sentido pessoal e profissional. Ela é e apenas quer ser JLaw para os fãs, e Jennifer Lawrence para críticos, vista como alguém com enorme e instintivo talento” (Preview).