J. Edgar, 2011. Dirigido por Clint Eastwood. Com Leonardo DiCaprio,
Naomi Watts, Armie Hammer, Judi Dench e Josh Lucas.
Nota: 7.8
Um pouco mais de quatro décadas
após Franklin J. Schaffner levar às telonas um dos mais controversos personagens
da história americana, o General George S. Patton, Clint Eastwood resolveu
levar ao conhecimento das gerações contemporâneas um pouco da vida de J. Edgar
Hoover, o excêntrico e polêmico diretor do FBI, que esteve presentes nos
principais acontecimentos policiais do país da década de 20 até o início dos
anos 70. Foi tão admirado quanto odiado por muitas pessoas, e o diretor não tem
a intenção de dizer o motivo.
A história acompanha J. Edgar
(Leonardo DiCaprio) em suas lembranças que são reveladas a um agente, o qual
muda de acordo com sua conveniência, que escreve sua biografia. Desde seu
início como agente, passando pela instauração e consolidação do FBI, e fechando
com seu reconhecimento. Mas o filme também mostra o lado que não revela ao
escritor, entre eles, sua relação homossexual com seu braço-direito o agente
Clyde Tolson (Armie Hammer), os métodos pouco ortodoxos com que conduzia
investigações e seus segredos guardados com a ajuda de sua secretária pessoal
Helen Gandy (Naomi Watts).
O roteiro de Dustin Lance Black
esmiúça um lado mais íntimo de Edgar, pouco comentado pelos americanos, e expõe
seus erros e acertos no decorrer de sua carreira, que pode ser considerada sua
vida. O modo como explora seu confronto interno, suas dúvidas quanto a sexualidade,
exponenciada pela presença de sua mãe (Judi Dench), e sua incessante busca pelo
reconhecimento que depois se transforma em obsessão é a parte mais relevante do
longa, sem dúvidas.
Eastwood, que adora se aprofundar
na psique de seus personagens e decompor a sua personalidade, teve um prato
cheio para usar de seus closes e planos contemplativos. O roteiro é concebido
de forma não-linear, mas ele faz questão de interligar as sequências buscando
uma mesma significação ou provocando contra-argumentos, deixando a
responsabilidade de julgar se os fins utilizados por J. Edgar justificavam os
meios em que agia. Isentou-se de qualquer opinião subliminar, o que pode ser
considerado seu grande trunfo.
Porém a escolha do diretor de
manter os mesmos atores sob pesada maquiagem foi seu grande erro. Como eram
três os personagens a serem envelhecidos, o trabalho ficou abaixo do esperado
em dois deles, o que tira grande parte da veracidade que todo filme busca ter,
uma falha comprometedora. As boas
atuações de Watts e Hammer poderiam ter sido mais retumbantes se não tivessem
de dar vida à versão idosa de seus personagens. Só Leonardo DiCaprio teve um
capricho maior no seu processo de envelhecimento, e se aproveitou disso e
entregou outra excelente atuação, claramente injustiçada no Oscar. Se Eastwood
trocasse os outros dois por atores mais velhos, o que geralmente acontece
(Watts ficou a cara da Helen Mirren), seu filme teria passado de bom para
ótimo. Valeu como documento histórico, ficou devendo como cinema.
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