Somos tão Jovens, 2013. Dirigido por Antonio Carlos da Fontoura. Com Thiago Mendonça, Laila Zaid, Bruno Torres, Daniel Parisi e Sandra Corvelone.
Nota: 7,8
Uma ode à juventude
Há duas formas de se acompanhar Somos Tão Jovens: sendo um grande fã da
banda de rock brasiliense que marcou toda uma geração, ou sendo apenas um
cinéfilo ávido por acompanhar uma boa história sobre juventude. Mas, se a
intenção for assistir a um dos ícones da música brasileira como uma espécie de avatar que muda o modo de pensar
de todos que o rodeiam, aí é “tempo perdido”. O filme de Antônio Carlos da
Fontoura é direto, foca no jovem Renato Manfredini e a formação de sua
personalidade que o alçaria à condição de ídolo, sem deixar de lado o momento
especial do rock brasileiro que via nascer algumas de suas bandas mais
relevantes.
Renato (Thiago Mendonça, assombroso) é um
jovem de classe média-alta que, assim como a maioria dos jovens candangos, é
apaixonado por música, em especial o rock’nroll. Sempre acompanhado de sua
inseparável amiga Ana (Laila Zaid) fundou junto com Fê e Flavio Lemos (Bruno
Torres e Daniel Parisi) o Aborto Elétrico. Mas entre contradições e a procura
insistente de sua aura musical, o sofrimento se contrapõe à jovialidade da vida
noturna da capital federal.
A preocupação de se afastar de
outra cinebiografia de um cantor contemporâneo ao protagonista de Somos Tão Jovens (Cazuza, O Tempo Não Para) tenha obrigado Marcos Bernstein a criar
um universo ímpar para as ações. Não há aquela preocupação em mostrar atos mais
“pesados” daquela geração, como o consumo excessivo de drogas, mas uma
exaltação do comportamento daquele grupo em ebulição musical, a criação de uma
identidade baseada nos acordes, não nos atos. Isso é bom pelo fato de sair do
lugar comum, o que acaba resultando em melodramas, como em Cazuza, e também é ruim pois não explora completamente tudo o que o
ambiente sócio-político poderia oferecer.
Esta dicotomia que provoca certo
enfraquecimento do conteúdo cinematográfico é compensado pelas mãos de
Fontoura. Sua câmera trêmula é tão inquieta e insegura quanto o protagonista, e
as cenas de show são de qualidade pouco vista no cinema nacional. A sequência
em que Renato (já Russo) sob ao palco para ajudar os amigos da sua ex-banda e
canta “Geração Coca-Cola” é absolutamente instigante, até quem não gosta se
pega cantarolando. Esta valorização do espetáculo da juventude punk-rock
permite ao diretor criar uma obra pop, com pitadas de humor, ausente de
melodramas.
Contudo, o fator essencial para
que o filme seja bem sucedido é a força dos jovens do elenco. Laila Zaid como a
amiga passional demonstra muita competência enquanto os atores que tem a missão
de dar vida a outros nomes conhecidos do cenário do rock, não comprometem. Mas
a atuação extraordinária de Mendonça deixa os fãs boquiabertos. Não só pela
semelhança física, como também pela forma em que dá conta de cantar e tocar, se
preocupando com as mudanças de tom inerentes a Renato. E aos trejeitos, que
poderiam ser uma armadilha, não são supervalorizados.
Uma grata homenagem ao cantor que
até hoje coleciona fãs, e também à juventude que tinha poucas alternativas,
como a música, para se manifestar em época de ditadura. Uma obra simples, sem
ambições, que se for vista apenas das duas formas citadas no início do texto
será um esplendor, mas se o espectador for mais exigente, não será brilhante,
mas ainda sim, um bom filme.
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