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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Perfil: Marlon Brando


UM BONDE CHAMADO MARLON BRANDO

“Ele é o marco. Há o “antes de Brando” e o “depois de Brando”
Martin Scorsese

Considerado por muitos como o maior ator de todos os tempos, pode-se dizer que Marlon Brando não nasceu para brilhar. Nasceu para chocar, polemizar, provocar. O brilho nestes casos foi apenas uma consequência de sua passagem (ou seria generosa contribuição) pela história da sétima arte. Contar a importância deste mito para o cinema é como escrever um enredo cinematográfico de várias partes ou personagens. James Dean, Elvis Presley e Orson Welles poderiam ser algumas das personas que ajudariam a constituir esta imperecível massa artística.

Um garoto chamado Marlon Brando Júnior. Ele nasceu de uma família calcada na frustação. Sua mãe Dorothy Pennebaker queria ser uma atriz, mas o marido possesivo não a deixou seguir seu sonho. Do fruto deste relacionamento nasceram três rebentos, dois deles se dedicaram a arte dramática. Jocelyn Brando não teve o mesmo sucesso que seu irmão nascido em Omaha no dia 03 de Abril de 1924. Desde cedo, o garoto impetuoso já sabia seu papel no mundo. Expulso da Escola Libertyville High School, logo foi mandado para uma Academia militar de Minnesota. Embora tenha se destacado na turma de teatro, uma tentativa de fuga da mesma, o levou a uma nova expulsão. Mesmo aceito de volta um ano mais tarde, decidiu não dar prosseguimento aos estudos por lá, partindo para Nova Iorque.

Um astro chamado Desejo. Foi no teatro de Nova Iorque, mais precisamente na Broadway, que Brando teve sua grande chance em 1947 na peça Um bonde chamado desejo.  Convidado pelo próprio autor, Tennessee Williams, ele brilhou sob direção de Elia Kazan. O mesmo que seria responsável pela transição segura para o cinema, num dos filmes mais polêmicos e controversos de todos os tempos. Bem ao estilo do ator. Seu inesquecível Stanley Kowalski povoou o imaginário de mulheres e homens da época, sendo até hoje um dos maiores sexy simbol da história. Em 1976 chegou a declarar que já teve experiências homossexuais e que ninguém tinha nada a ver com a sua vida entre quatro paredes. Uma estreia simplesmente arrasadora que o colocou na lista de personas gratas quando o negócio era criar uma fábrica de sucessos nas telas. Logo vieram o revolucionário mexicano Zapata em Viva Zapata! (1952), o lendário Marco Antônio de Júlio César no mesmo ano e um ex-boxeador em Sindicato dos ladrões (1954), que lhe conferiu o primeiro Oscar de melhor ator. Nesta ocasião, o jovem astro compareceu a cerimônia, vestido a rigor e dentro dos padrões legais, só pra constar.


Um ídolo chamado Brando. Como um motoqueiro sexy e rebelde em O selvagem (1953), faria parte de um seleto grupo de jovens rebeldes que arrastavam multidões aos cinemas. Deste grupo permeariam nomes como James Dean e Elvis Presley. Esta fase serviu para inflamar seus ideais além das telas. Ao optar por trabalhos como o filme Queimada! Que mostrava a cruel colonização europeia nas Américas, ele se mostrou um grande ativista nos anos 60, participando incisivamente pela manifestação dos direitos civis e indígenas. Fato que o levou a chocar a cerimônia do Oscar de 1973 quando enviou uma suposta nativa americana em seu lugar para receber a estatueta por O poderoso chefão.


Um amante chamado pecado. Três matrimônios e cinco herdeiros. Esta é a fatura de casos amorosos do deslumbrante ator capaz de provocar casos de amor tão confusos quanto a repercussão de seus filmes. Teve romance com muitas estrelas, mas foi Rita Moreno de Amor, sublime amor (1961) que tentou dar fim a própria vida pelo astro. Na lista de cônjuges estão a indo-britânica Anna Kashfi, a percursora de brigas judicias depois do divórcio. A mexicana Movita Castenada, de quem mandou anular o casamento. E por fim, a taitiana Tarita com quem filmou O grande motim (1962). Como se vê, até na vida pessoal Brando se marca pelas peculiaridades, algo fora do contexto padronizado de Hollywood.

Um ator chamado mito. O garanhão de Uma rua chamado pecado seria o primeiro dos grandes personagens que trilhariam nesta trajetória brilhante sublinhada pelo mitológico Vitto Corleone de O poderoso chefão (1972) e o jornalista amargurado Paul do escandaloso O último tango em paris (1973). Neste tempo, seu poder era tão grandioso que recebeu um dos maiores cachês da história para filmar Superman – o filme (1978). Estima-se que a quantia chegara a 1 milhão de dólares para aparecer poucos minutos na tela. Depois disso, ele ainda teve fôlego para mais um papel marcante de sua história. O assustador Coronel Kurtz de Apocalypse Now (1979), que como ressalta o The Guardian “esse é dos papéis crepusculares de brando, uma criatura infeliz nas trevas”.


Um homem chamado conflito. Se o sucesso conquistado nas telas lhe trazia fama e idolatria, a vida pessoal era marcada pelas polêmicas tragédias. A mãe morrera vítima do alcoolismo. Seu filho Cristian se envolveu num julgamento público pelo assassinato do namorado da irmã Cheyenne, que deprimida se suicida anos mais tarde. Sua Ilha particular no Taiti comprada em sua fase Cidadão Kane fora devastada por um furacão. Tudo em sua vida naquele instante se encaminhava para um triste desfecho. Engordou assustadoramente quando em 1990 filmou ao lado de Mathew Broderick The freshman, que classificou como uma experiência desagradável.
Um bonde chamado Marlon Brando. O garoto rebelde, que se tornou naturalmente um sexy simbol, inspirou várias gerações, amou de forma intensa e conturbada, marcou seu nome com talento na calçada da fama e soube administrar com muita personalidade sua vida profissional em meio a dramas e tragédias. Por tudo isso, podemos afirmar que em 1 de Julho de 2004, o cinema não perdeu um astro. Ele ganhou um mito. Tão audaz e imprevisível como um bonde, capaz de atropelar convenções, estabelecer um paradigma e consolidar a mais pura arte dentro e fora das telas.

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