UM BONDE CHAMADO MARLON
BRANDO
“Ele é o marco. Há o “antes de Brando” e o “depois de Brando”
Martin
Scorsese
Considerado por muitos como o maior ator de
todos os tempos, pode-se dizer que Marlon
Brando não nasceu para brilhar. Nasceu para chocar, polemizar, provocar. O
brilho nestes casos foi apenas uma consequência de sua passagem (ou seria
generosa contribuição) pela história da sétima arte. Contar a importância deste
mito para o cinema é como escrever um enredo cinematográfico de várias partes
ou personagens. James Dean, Elvis Presley
e Orson Welles poderiam ser algumas das personas que ajudariam a constituir
esta imperecível massa artística.
Um
garoto chamado Marlon Brando Júnior. Ele nasceu de uma família calcada na
frustação. Sua mãe Dorothy Pennebaker queria ser uma atriz, mas o marido
possesivo não a deixou seguir seu sonho. Do fruto deste relacionamento nasceram
três rebentos, dois deles se dedicaram a arte dramática. Jocelyn Brando não
teve o mesmo sucesso que seu irmão nascido em Omaha no dia 03 de Abril de 1924. Desde cedo, o garoto impetuoso já
sabia seu papel no mundo. Expulso da Escola
Libertyville High School, logo foi mandado para uma Academia militar de Minnesota. Embora tenha se destacado na turma
de teatro, uma tentativa de fuga da mesma, o levou a uma nova expulsão. Mesmo
aceito de volta um ano mais tarde, decidiu não dar prosseguimento aos estudos por
lá, partindo para Nova Iorque.
Um
astro chamado Desejo.
Foi no teatro de Nova Iorque, mais precisamente na Broadway, que Brando teve
sua grande chance em 1947 na peça Um bonde chamado desejo. Convidado pelo próprio autor, Tennessee
Williams, ele brilhou sob direção de Elia Kazan. O mesmo que seria responsável
pela transição segura para o cinema, num dos filmes mais polêmicos e controversos
de todos os tempos. Bem ao estilo do ator. Seu inesquecível Stanley
Kowalski povoou o imaginário de mulheres e homens da época, sendo até
hoje um dos maiores sexy simbol da
história. Em 1976 chegou a declarar que já teve experiências homossexuais e que
ninguém tinha nada a ver com a sua vida entre quatro paredes. Uma estreia
simplesmente arrasadora que o colocou na lista de personas gratas quando o
negócio era criar uma fábrica de sucessos nas telas. Logo vieram o
revolucionário mexicano Zapata em Viva Zapata! (1952), o
lendário Marco Antônio de Júlio
César no mesmo ano e um ex-boxeador em Sindicato
dos ladrões (1954), que lhe
conferiu o primeiro Oscar de melhor ator. Nesta ocasião, o jovem astro
compareceu a cerimônia, vestido a rigor e dentro dos padrões legais, só pra
constar.
Um
ídolo chamado Brando.
Como um motoqueiro sexy e rebelde em O
selvagem (1953), faria parte de um
seleto grupo de jovens rebeldes que arrastavam multidões aos cinemas. Deste
grupo permeariam nomes como James Dean e
Elvis Presley. Esta fase serviu para inflamar seus ideais além das telas.
Ao optar por trabalhos como o filme Queimada!
Que mostrava a cruel colonização europeia nas Américas, ele se mostrou um
grande ativista nos anos 60, participando incisivamente pela manifestação dos
direitos civis e indígenas. Fato que o levou a chocar a cerimônia do Oscar de
1973 quando enviou uma suposta nativa americana em seu lugar para receber a estatueta
por O poderoso chefão.
Um
amante chamado pecado.
Três matrimônios e cinco herdeiros. Esta é a fatura de casos amorosos do
deslumbrante ator capaz de provocar casos de amor tão confusos quanto a
repercussão de seus filmes. Teve romance com muitas estrelas, mas foi Rita Moreno de Amor, sublime amor (1961)
que tentou dar fim a própria vida pelo astro. Na lista de cônjuges estão a
indo-britânica Anna Kashfi, a percursora
de brigas judicias depois do divórcio. A mexicana Movita Castenada, de quem mandou anular o casamento. E por fim, a
taitiana Tarita com quem filmou O grande motim (1962). Como se vê, até na vida pessoal Brando se marca pelas
peculiaridades, algo fora do contexto padronizado de Hollywood.
Um
ator chamado mito.
O garanhão de Uma rua chamado pecado
seria o primeiro dos grandes personagens que trilhariam nesta trajetória
brilhante sublinhada pelo mitológico Vitto Corleone de O poderoso chefão (1972) e o jornalista amargurado Paul do escandaloso O último tango em paris (1973). Neste tempo, seu poder era tão
grandioso que recebeu um dos maiores cachês da história para filmar Superman – o filme (1978). Estima-se que a quantia chegara a 1 milhão de dólares para
aparecer poucos minutos na tela. Depois disso, ele ainda teve fôlego para mais
um papel marcante de sua história. O assustador Coronel Kurtz de Apocalypse Now (1979), que como ressalta o The Guardian “esse é dos papéis crepusculares de brando, uma criatura infeliz nas
trevas”.
Um
homem chamado conflito. Se o sucesso conquistado nas telas lhe trazia fama e
idolatria, a vida pessoal era marcada pelas polêmicas tragédias. A mãe morrera
vítima do alcoolismo. Seu filho Cristian se envolveu num julgamento público
pelo assassinato do namorado da irmã Cheyenne, que deprimida se suicida anos
mais tarde. Sua Ilha particular no Taiti comprada em sua fase Cidadão Kane fora
devastada por um furacão. Tudo em sua vida naquele instante se encaminhava para
um triste desfecho. Engordou assustadoramente quando em 1990 filmou ao lado de
Mathew Broderick The freshman, que
classificou como uma experiência desagradável.
Um
bonde chamado Marlon Brando. O garoto rebelde, que se tornou naturalmente um sexy
simbol, inspirou várias gerações, amou de forma intensa e conturbada, marcou
seu nome com talento na calçada da fama e soube administrar com muita
personalidade sua vida profissional em meio a dramas e tragédias. Por tudo
isso, podemos afirmar que em 1 de Julho
de 2004, o cinema não perdeu um astro. Ele ganhou um mito. Tão audaz e imprevisível como um bonde, capaz de atropelar
convenções, estabelecer um paradigma e consolidar a mais pura arte dentro e
fora das telas.
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