Visitantes

sexta-feira, 2 de março de 2012

O ARTISTA QUE CANTA NA CHUVA

Cinema mudo pode estar atualmente fora de moda perante os efeitos ensurdecedores de uma nova era do cinema. No entanto, o que nunca sai de moda é o charme visualmente magnífico deste gênero e a capacidade de um artista em tornar ainda mais magnífico este charme.

Vencedor do Oscar deste ano, O Artista de Michel Hazanavicius conta em preto-e-branco e incrivelmente de forma visual, a trajetória de George Valentim (Jean Dujardin), o mais famoso ator do cinema-mudo no final dos anos 20, que vê sua carreira imergir com o início da era do cinema sonoro. Esta sinopse parte da mesma premissa do brilhante musical Cantando na chuva (1952), mas para na estruturação e no gênero a qual pertence. Enquanto o musical em cores de Gene Kelly se desembocava numa comédia, a ousada película bicolor faz chorar e refletir ao mesmo tempo. Bem verdade que há momentos cômicos relevantes que certamente se tornarão inesquecíveis, mas não são suficientes para descaracterizar a essência dramática da obra.

O francês Jean Dujardin (Também premiado com o Oscar) se mostra um belo (e põe belo nisso!) representante dos áureos tempos de Rodolfo Valentino e Errol Flyn. Tamanho carisma por si só já seria suficiente para elevar o personagem ao status de astro surreal. Mas não só deste atributo de grande significância daqueles tempos se faz Dujardin. Ele recria impecavelmente as múltiplas facetas de seu astro. O canastrão, o romântico, o cômico e o dramático. Uma interpretação versátil que pode lhe render merecidamente o Oscar de Melhor Ator, bem como enfatiza o personagem Al Zimmer (John Godmam) nas pouquíssimas e derradeiras palavras no filme: - “Perfect”.

Muitos afirmam ser mais uma nova versão de Gene Kelly. Outros que se inspirou em Chaplin. Neste caso o mais novo herói do cinema não falado bebera de fontes luminosas. Contudo, não se trata apenas de uma inspiração e sim uma revigorante homenagem. Protagonizando um trabalho lindo, emocionante e ousado, ele nos faz reviver os bons tempos em que um legítimo ator não sucumbia às eras pirotécnicas que mascaram o charme da sétima arte. No filme, o artista George Valentim se recusou a “vender” sua carreira por uma fama instantânea ou pelo conforto que esta posição possa acarretar. Ele acreditava na sua arte. Artistas como ele, são resistentes como Chaplin. O maior astro do cinema mudo de todos os tempos a princípio se recusou a embarcar nesta nova era. E para afirmar sua categórica posição afirmou certa vez: “estão acabando com a arte mais antiga do mundo. Estão arruinando a grande beleza do silêncio.”

Pode até parecer radical este ponto de vista do gênio, mas não há como não ressaltar com grande veemência sua ousadia, que sempre o acompanhou em seus trabalhos, em não abrir mão de seus princípios cinematográficos. Chaplin e Valentim enfatizam que são artistas, não bonecos de porcelana que estampam capas de revistas e comerciais de TV. Artistas que sabem o significado de se fazer a mais pura arte. Representar, dançar, cantar. Por isso, quase sempre andam na contramão do show business. Basta lembrar que o próprio Chaplin realizou Tempos modernos anos depois do fim do cinema mudo quando todos já achavam que seus filmes estavam fora de moda. É a estes artistas que devemos a mágica do cinema que nunca sai de moda. Artistas de um gênero cinematográfico há muito esquecido no tempo e que carregam consigo a ousadia de cantar na chuva maniqueísta destes nossos tempos modernos.

Referências:
O Artista -☻☻☻☻☻
The Artist,2011. Dirigido por Michel Hazanavicius. Com Jean Dujardin, Berenice Bejo, John Goodman, James Cronwell e Malcoln McDowell.

Cantando na Chuva -☻☻☻☻☻
Singing in the rain, 1952. Dirigido por Stanley Donen e Gene Kelly. Com Gene Kelly, Donald O’Connor, Debbie Reynolds e JeanHagen.

Nenhum comentário:

Postar um comentário