Dirigido por Jayme Monjardim. Com Camila Morgado, Caco Ciocler e Fernanda Montenegro
Cotação: 7.1
Se
Fincher pecou ao minimizar a figura e a participação de Lisbeth Salander em Millenium, outro diretor não deixou de
lado a profundidade da força feminina em seu filme. Em 2005 Jayme Monjardim quis
levar a público a extraordinária história de Olga Benário, uma líder da militância comunista nos anos 30 que
veio parar no Brasil como protetora pessoal de Luiz Carlos Prestes e acabou revolucionando as ideias de combate
dos comunistas brasileiros.
Com
Prestes no exílio, estavam todos dispersos, sem um direcionamento mais
produtivo para seus fins. Por isso, eram chamados de anarquistas. Com a chegada
clandestina do líder da ANL no Brasil, os anarquistas sabiam que não seriam
mais anarquistas e que agora seus ideais de liberdade deixariam de ser meros
ideais. Prestes havia retornado e ao lado dele uma mulher que lutou bravamente
por liberdade de expressão. Uma militante que propôs com afinco enfrentar os
poderosos com sua experiência de batalhas anteriores pela Europa. A aproximação
entre Prestes e Olga tornou-se mais afetiva, fortalecendo de uma maneira
romântica a batalha. Assim, o casal de revolucionários conquistou importantes
resultados na batalha, mas não venceu a Guerra. Prestes foi parar numa cela dos
porões da Ditadura como preso político durante anos e Olga teve um destino mais
insólito devido sua posição. Como era judia, foi deportada grávida para a
Alemanha Nazista de Hitler. Após o nascimento de sua menina, foi mandada para
um campo de concentração em Ravensbruck, na Alemanha, morrendo na Câmara de
gás.
Esta
é a narrativa histórica que se encontra nos livros. Uma narrativa que serviu
como base para Jayme e a roteirista Rita Buzar. No entanto, o diretor queria
aprofundar mais a história de sua protagonista. Mostrar quem de fato fora Olga
Benário. Pra isso ele teve de se esforçar bastante e saber alguns detalhes da
vida da revolucionária era tão complicado quanto conduzir uma batalha. Mesmo
com uma história importante para contar, pouco se sabia sobre esta mulher que
ajudou a libertar o Brasil da opressão. Nem mesmo em sua própria cidade na
Alemanha, as pessoas desconheciam o nome e a pessoa de Olga.
Olga é um filme 100% nacional, onde a protagonista é divinamente interpretada por Camila Morgado, que
brilhou nas cenas mais impactantes da personagem. Ao seu lado, o belo e
talentoso Caco Ciocler como Prestes, oferece uma química perfeita para o
casal. Tudo para oferecer ao público uma história primordial dentro da própria
história. Contudo, a ausência de uma apuração mais enfática sobre sua vida, fez
com que o diretor perdesse parte da essência do filme. A perspectiva criada em
relação à personagem, sucumbe perante algo muito romantizado e ausente de cenas
realmente relevantes para conduzir a história da revolução.
Se
o filme falha nas características cine biográficas, a energia imposta sobre ele
é direcionada para a uma obra de grande relevância da personagem
historicamente. Olga é um filme
capaz de levar muita gente às lágrimas e fazer refletir, como bem sintetiza sua
intérprete Camila Morgado: “Hoje em dia
falta muito desta coisa do coletivo. Falta muito do companheirismo, de valores.
A gente tá esquecendo o valor de certas palavras como ser solidário, como
questões humanitárias. Eu acho que a gente tem muita informação e pouca
formação. A Olga é desta geração com muita formação. Veja bem, com 15 anos ela
começou a militância. Com 15 anos ela já tinha lido o manifesto comunista. Eu
não tive esta formação que ela teve”.
Contando
com um elenco estelar que inclui Eliane Giardini, Osmar Prado e Fernanda
Montenegro, é uma produção que sai
por dois caminhos distintos. Uma bela obra de qualidade, excelentes atuações,
mesmo deixando a desejar em seu objetivo principal.
Mulher,
mãe, comunista, judia. Ela tinha todos os atenuantes para se resignar. Mas não.
Mesmo diante das dificuldades de uma época de trevas, Olga Benário se manteve
firme. Como uma idealista que nunca abdicou de seu desejo de viver. Até o
último instante ela lutou pelo bom, pelo justo e pelo melhor do mundo.